2.4.11

Receita afro-brasileira: uma boa alternativa para a Igreja

por Sílvia Nassif Del Lama

Ao olharmos para o Brasil, com sua biodiversidade e grandeza, e para muitos brasileiros vivendo em condições miseráveis, nos perguntamos: é possível conciliar a ocupação e o uso da terra em áreas ainda intocadas sem inviabilizar o sistema biológico a longo prazo?

Soluções sustentáveis requerem o experimentar de novas receitas. Jesus usou a imagem do fermento para mostrar que transformações podem começar com muito pouco. O processo começa com a escolha de um bom fermento é a base
teológica que nos leva de volta ao jardim onde Deus nos colocou. Desde que saímos de lá, nossa tendência tem sido esquecer as instruções ali recebidas.

O bom fermento pode provocar reflexão e mudança de dentro para fora, sem eliminar o potencial do indivíduo, sem formatá-lo ou submetê-lo a um programa de adestramento, antes tornando-o ainda mais criativo. Escolhido o fermento, é hora de escolher a forma de misturá-lo à massa. E a receita pode vir da África, por meio do artigo “The Role of Religion in the HIV/AIDS Intervention in Africa: a Possible Model for Conservation Biology” (O papel da religião na intervenção no problema do HIV/aids na África: um modelo possível para a biologia da conservação), de autoria do cientista nigeriano Stephen Mufutau Awoyemi, publicado na revista “Conservation Biology”. Segundo ele, um método eficiente foi usado para combater a transmissão do HIV/aids na África. Em Senegal, em 1992, ONG’s internacionais reuniram líderes cristãos para sensibilizá-los sobre o problema. Após treinamento em informação, educação e comunicação, esses líderes atingiram seus liderados por meio de sermões, publicações, teatro, aconselhamento e programas de oração. As comunidades responderam favoravelmente e, em cinco anos, as internações de pacientes soropositivos diminuíram de 16% para 2%.
O doutor Awoyemi sugere que o mesmo canal as igrejas seja utilizado para a implantação de um programa visando mudanças de comportamento para que a sustentabilidade seja real nas comunidades africanas. Ele propõe uma ação conjunta de ambientalistas e instituições religiosas, e acredita que isso possa influenciar as políticas públicas e contribuir para a conservação, como aconteceu no programa HIV/aids.
A percepção de que as igrejas evangélicas poderiam ser utilizadas para fermentar a população brasileira surgiu no 1º Fórum de Missão Integral: Ecologia e Sociedade, realizado em 2006. Como conseqüência, foi lançado, em março de 2008, pela ONG A Rocha Brasil, em parceira com outras organizações, o Programa de Educação Ambiental e Mobilização Social nas Igrejas Evangélicas Brasileiras. O objetivo é capacitar as lideranças das comunidades para que elas possam agir de forma transformadora no seu contexto. A primeira etapa consistiu no envio de quatro estudos bíblicos sobre mordomia da criação para 30 mil endereços. O retorno dado pelas igrejas tem comprovado a capacidade de mobilização de nossas comunidades. Já são mais de cem igrejas cadastradas nas cinco regiões do país.
Essa reação positiva nos anima e nos impulsiona para a troca de experiências com nossos irmãos africanos. O PEA poderá incorporar alguns caminhos de intervenção testados na África. Nossa esperança é, num futuro próximo, celebrar os frutos da aplicação dessa receita tanto na África quanto no Brasil. Ela se ancora na certeza de que o bom fermento foi escolhido e misturado à massa; o crescimento virá com o tempo, concedido pelo próprio autor da criação.
Para conhecer a organização ambientalista cristã A Rocha Brasil, acesse www.arocha.org. Para informações sobre o Programa de Educação Ambiental (PEA), escreva para: Caixa Postal 72 – 36570-000 – Viçosa, MG ou envie e-mail para brasil.pea@arocha.org.

Fonte: Revista Ultimato de novembro-dezembro de 2008.

Sílvia Nassif Del Lama é presidente d’A Rocha Brasil, pesquisadora da UFSCar e membro da Igreja Presbiteriana em São Carlos.

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