31.3.11

Ordenação feminina

Recentemente, os membros de uma determinada igreja se reuniram para eleger democraticamente seus presbíteros regentes. Todos receberam uma lista em ordem alfabética com o nome dos elegíveis (os maiores de 18 anos). O número de mulheres presentes e prontas para votar era bem maior que o número de homens. Porém, por força da constituição desta e de outras denominações, na lista dos elegíveis não havia o nome de nenhuma mulher. Essa situação deve continuar? Esta entrevista discute o assunto e pretende levar o povo e as autoridades eclesiásticas a pensar e a repensar, não só com zelo, mas também com humildade. É provável que o maior obstáculo à ordenação de pastoras, presbíteras e diaconisas não seja a Palavra de Deus, mas o machismo. O entrevistado Waldyr Carvalho Luz é de inteira confiança por sua palavra, por seu longo magistério no Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas, SP, por sua vida e por sua idade (94 anos). Ele é autor da tradução clássica de As Institutas, de João Calvino, professor aposentado da UNICAMP e doutor em Filosofia do Novo Testamento pelo Princeton Theological Seminary.

Os cristãos contrários à ordenação feminina argumentam que Jesus escolheu somente homens para serem apóstolos e que o Novo Testamento não apresenta claramente mulheres em posições de autoridade. O que dizer?
De mister faz-se observar, de início, que a questão da ordenança feminina às funções eclesiásticas (diaconato, presbiterato, ministério sagrado) nem sequer é ventilada através do Novo Testamento. Jesus, tanto no caso dos doze, como, quanto parece, na chamada Missão dos Setenta, aliciou apenas homens, como, aliás, era a norma no mundo contemporâneo. Se alguma outra motivação teve ele, não a explicitou. E conjecturar a esse respeito é irrelevante. Na Palestina dos dias de Jesus não haveria lugar para matriarcado e mulher em posição de autoridade, impensável aberração.

A chefia do homem na Bíblia é mera questão cultural?
Na Bíblia, reconhecidamente, conferem-se ao homem, em detrimento da mulher, autoridade e mando incontestáveis. Não resulta este predicamento de princípios ontológicos ou metafísicos, simples questão de exercício de poder, matéria de cunho puramente cultural. Mercê da obra redentora de Cristo, cancela-se a disposição vigente e implanta-se um regime de paridade e equalização, abolidas as distinções prévias, homem e mulher a fazer jus ao mesmo “status” em Cristo. Valida-se, pois, o argumento culturalista.

Os defensores da posição antagônica ao ministério feminino ordenado parecem não considerar passagens como Joel 2.28-29 e Gálatas 3.28. Certo?
Arroubos poéticos e eclosão de júbilo de um momento especial, não asserção normativa de princípio estabelecido, Joel 2.28-29 e Gálatas 3.28 não são passagens pertinentes à questão da ordenação feminina.

A ordenação pastoral deve ser precedida pelo dom ministerial. A mulher pode receber esse dom?
Normativamente, a ordenação pastoral pressupõe o dom (ou vocação) ministerial. Seja no país, seja, e especialmente, no exterior, há muitas mulheres tendo sido, e estão sendo, ordenadas ao múnus pastoral, cujo desempenho confirma, indiscutivelmente, possuírem o indispensável dom. Portanto, a toda mulher portadora do dom, ou seja, devidamente vocacionada, a ordenação pastoral deve ser prontamente conferida. Interessante é notar-se que nossa própria Igreja Presbiteriana do Brasil, por breve período, já teve diaconisas devidamente ordenadas. Descontinuou a prática em vista da reação provocada na região nordestina, a ameaça pairando de divisão denominacional. A paz e a unidade da Igreja, graças ao Senhor, prevaleceram, felizmente.

A ordenação pastoral deve ser vista como o exercício do dom do Espírito Santo dado à Igreja ou como um ofício eclesiástico dado a uma classe de pessoas?
Em última instância, a postulação da ordenação pastoral é ambivalente, por isso que só pode ser encarada como dom conferido à Igreja, mas exercido por um corpo de oficiais possuídos de prerrogativas únicas e exclusivas. Também o pode como função eclesiástica outorgada a um núcleo ou casta de elementos contemplados com um múnus peculiar, mas encaixado no âmbito da comunidade global. Não há, propriamente, polaridade, antes, pelo contrário, conjunção.

Por trás da não-ordenação de mulheres para o diaconato, o presbiterato e especialmente o ministério pastoral, não estaria escondida uma cultura machista?
Aos espíritos mais atilados, a relutância à ordenação de mulheres ao diaconato, ao presbiterato e, especialmente, ao ministério pastoral, não estaria bem escondida, pelo contrário, escancaradamente manifesta a indisfarçável cultura machista. Nada de causar espécie. Por séculos, aliás, milênios, no perpassar das civilizações em todos os quadrantes do orbe, com raríssimas exceções, o homem tem gerido as atividades humanas de modo quase absoluto, de tal sorte que o mando se lhe tornou como que parte de sua própria natureza, a mulher marginalizada, mas ao que parece resignada, ajustada e adaptada à situação, de que tira o proveito possível. É de lamentar-se que a Igreja, baluarte da defesa dos direitos humanos, que lhe deveria esposar a causa, capitulou, servindo aos ditames do machismo. Até mesmo cristãos tidos como exemplares na fé e na conduta cedem a esse predicamento. Não haja dúvida: o machismo entorpece a consciência, embota os sentimentos, degrada a razão. A mulher, porém, está rompendo os grilhões desse predicamento e o haverá de superar. É, entretanto, uma tarefa ciclópica, de tal viés, que Hércules nenhum pode botar defeito. E o dia virá, ainda que distante, quando o machismo será somente uma triste lembrança de tempos idos... para nunca mais voltarem.

Os maiores impedimentos à ordenação das mulheres são bíblicos (exegéticos) ou culturais? Alguém era ordenado na Igreja Primitiva?
No âmbito da Igreja Primitiva, a ordenação feminina era matéria fora de cogitação, assunto nem sequer ventilado, mulher nenhuma reivindicando esse direito. Contudo, há-se de ter em conta que era uma atitude passiva, dir-se-ía de alienação, ao passo que a cultural era ativa, até agressiva. Eleito e investido como presbítero, o cidadão adverso à ordenação, naturalmente, iria manter seu ponto de vista. Portanto, é de admitir-se que o elemento cultural era, na realidade, o mais influente. No que diz respeito à ordenação de ministros ou oficiais na Igreja Primitiva, é de reconhecer-se que, em tese, apesar das variações locais e temporais, há, certamente, plena correspondência ao que hoje vigora em nossas igrejas, respeitadas as diferenças denominacionais.

As mulheres ocupavam quais ofícios ou funções na Igreja Primitiva? Há exemplos? Havia limitações?
Na Igreja Primitiva não se atribuíam a mulheres ofícios e funções caracteristicamente eclesiásticas. As nobres damas que se distinguiram através do Novo Testamento sobressaíram somente por suas virtudes e qualidades pessoais, não por titularidade funcional. Assim, Dorcas é renomada por sua benevolência; Phebe, por serviço e representação; Lídia, por hospitalidade e colaboração com a ação missionária; Priscila, associada ao esposo, Áquila, orientação e instrução; Marta e Maria, as amadas irmãs, afeto, devotamento, carinho; Maria, a mãe de Jesus, que Lucas exalta eloquentemente no “Magnificat”, piedade e devotamento maternal, contudo, não superior em virtude e mérito a outras piedosas mulheres, mesmo porque não possui qualidades acima das demais, meramente agraciada pelo Senhor; sobretudo, Maria Madalena, cujo relacionamento com Jesus tem dado margem a blasfemas insinuações, devotamento, gratidão, reconhecimento o mais profundo. Limitados, mas exemplos de piedade e fé para todos os tempos.

Se é o Espírito que dá dons para a Igreja “como lhe apraz” (1Co 12.11), estaríamos desprezando ou desrespeitando o próprio Espírito ao delimitar categorias para os diversos dons?
Obviamente, desejável seria que os dons do Espírito fossem distribuídos sem delimitações de idade, sexo, classe social, grau de instrução, situação econômica, nacionalidade, cor, língua, origem, raça, visual, aparência. Verdade é que isso não significava que determinado talento ou dom não pudesse ser limitado a uma categoria especial, não extensivo a todos indiferentemente. É o que alegam os que se opõem ao ministério feminino. Há, porém, que perguntar-se: qual razão se pode, legitimamente, invocar para essa exclusão? Que o Espírito assim agiria por mero preconceito ou capricho, seria temerário afirmar. Portanto, não transparece motivação racional para justificar essa medida discricionária. Razão, pois, assiste aos que veem esse posicionamento como desprezo ou desrespeito ao Santo Espírito. Alijar, sumariamente, a mulher da participação no dom ministerial não se afigura ordenança divina, mas, ao contrário, deplorável mostra do preconceito humano.

A proibição da fala de mulheres (1Co 14.34) é paradigmática para a exclusão nos ministérios da igreja ou Paulo estaria tratando de um problema específico, que não deveríamos considerar normativo hoje?
Em 1 Coríntios 14.34, a que se devem associar, também, as Pastorais e o capítulo 5 de Efésios, Paulo não tem em mira o ministério feminino, matéria fora de cogitação na Igreja Primitiva. A injunção paulina visa à honorabilidade, respeitabilidade, dignidade, autoridade do marido, que, nos usos e costumes da época, exigiam absoluto silêncio da mulher nas assembleias e reuniões culturais da Igreja. No versículo seguinte (1Co 14.35), diz o Apóstolo que a mulher falar na Igreja era “vergonhoso”, na tradução de Almeida. O termo grego no texto é “aischrón”, que tem, entre outras, a acepção de indecente, impróprio, indigno, torpe, isto é, que traria opróbrio, desprestígio, desonra ao marido. Não se tratava, pois, de injunção teológica, mas de simples questão, digamos, de etiqueta a salvaguardar a honorabilidade do marido. Os demais autores do Novo Testamento, quanto parece, não foram tão radicais como Paulo. Era ele, como pretendem certos críticos, misógino, ferrenhamente adverso às mulheres? É questão discutível. Mas, não haja dúvida, gradativamente, foi a mulher adquirindo influência e representatividade maior.

A inclusão da mulher nos ministérios da igreja é sinal dos fins dos tempos que começaram com Jesus?
A lenta, mas progressiva inclusão da mulher nos ministérios da igreja é a resultante lógica e natural da operação iluminadora do Espírito Santo a superar limitações e barreiras descabidas que entravam a obra do evangelho. Não se reveste de caráter escatológico, nem é sinal de tempos ou do fim do mundo. É simplesmente, o produto da incoercível dinâmica do evangelho na implantação do reino de Deus ao longo da história. A inclusão da mulher na obra da igreja é um fator positivo e abençoado, que a fortalece e energiza, que deve ser acoroçoada na mais ampla medida, jamais limitada, muito menos reprimida ou contida. Se à mulher conferisse a igreja plena paridade com o homem nas funções eclesiásticas e na obra do evangelho, salta à vista que a implantação do reino de Deus entre nós seria inegavelmente mais vultosa e sólida. Não haja dúvida, quanto maior a participação feminina nas ações da igreja, tanto maiores serão as bênçãos advindas à Causa.

Muitas mulheres, apesar de fazerem um trabalho missionário pioneiro em lugares difíceis, não têm credencial para batizar e celebrar a Santa Ceia. Quando o trabalho se firma, ela vai para outro posto difícil e um obreiro vem para o lugar dela. Isso não é injusto?
No sistema de governo eclesiástico presbiteriano tradicional, segundo o elaborou o patriarca da fé, o escocês John Knox, ao ministro se conferem determinadas prerrogativas especiais, exclusivas, intransferíveis, tais o título de “reverendo”, a ministração dos sacramentos reconhecidos (batismo e Ceia do Senhor), e a impostação da bênção apostólica, aparente resquício de sacerdotalismo estranho ao espírito laicizante da Reforma. Era uma forma refinada e seletiva de concentrar poderes e atribuições eclesiásticas a elementos qualificados e prestigiados na igreja. Os chamados leigos eram excluídos desse privilégio. Não era apenas a mulher, mas toda e qualquer pessoa não ordenada clericalmente. Evangelistas, catequistas, missionários, pregadores ditos leigos, professores, seminaristas e até licenciados, não gozavam dessas atribuições. Por outro lado, estender individualmente a todo obreiro essas funções restritivas ensejaria, sem dúvida, lamentável vulgarização dos mistérios sagrados, competições mesquinhas, personalismos doentios e até exploração por parte de indivíduos oportunistas. Como vaticinava o poeta latino Ovídio, em outro contexto: “minima de malis”, isto é, dos males os menores. Ambas as formas de governo têm inconvenientes inevitáveis, mas a seletiva se afigura menos problemática, logo, é de preferir-se.

Quando a mulher se mostra muito eficiente no ministério, ela pode ser excluída por supostamente ameaçar a liderança masculina. Como evitar tal comportamento antiético?
Mulheres superdotadas, de notório espírito de liderança e notável capacidade de ação, não são raridade em nossas igrejas. Normativamente, elas desenvolvem seus talentos e dons espontaneamente, sem chancela oficial ou entendimento formal com a direção da igreja. Gozam de larga influência e são cercadas de admiração incontestável e o apoio de numeroso círculo de adeptos e simpatizantes. O problema é, especialmente no caso das mais personalistas, que passam a formar uma facção, ou partido, ou, mesmo, um poder paralelo, livre e independente. Obviamente, o pastor, cioso de sua autoridade e posição, vê no caso um desafio à sua liderança e procura neutralizar ou eliminar a rival incômoda; marginalizando-a. O que se requer é cooperação, não competição. Para tanto, ambos precisam ser humildes, sensatos, prudentes, leais, a buscarem o bem da igreja e a glória de Deus. A ação da mulher consagrada será indirimível bênção à igreja e à expansão do evangelho.

Se o ministério pastoral é para ser exercido só por homens, como explicar a participação de mulheres abençoadas e abençoadoras na Igreja de Cristo nos últimos cinquenta anos?
A participação de mulheres em funções eclesiásticas, inclusive no ministério pastoral, nos últimos cinquenta anos, em não poucas denominações, em absoluta paridade com os homens, na Igreja de Cristo ou o chamado mundo evangélico é um fato de excepcional relevância e indizível alcance. Mentalidades menos atualizadas, conservadores radicais, veem o fato como evidente decadência da fé, lamentável secularização ou mundanização da igreja, apostasia e corrupção do evangelho, enquanto espíritos mais atualizados e arrojados o encaram como inegável operação do Espírito Santo na implantação do reino de Deus. Não paira dúvida, a equiparação das mulheres aos homens nas funções eclesiásticas não apenas enriquece o quadro operacional da igreja, dinamiza-o e amplia significativamente o alcance de sua bendita operação.

Dos três maiores grupos cristãos -- Igreja Católica Romana, Igreja Ortodoxa e Igreja Protestante -- qual é o mais ferrenhamente contrário à ordenação feminina?
Dos três maiores grupos que integram a cristandade, em última análise, o mais infenso à ordenação feminina é o Catolicismo Romano. O sacerdócio somente a homens se confere e a pirâmide hierárquica dos níveis superiores é integrada por prelados que jamais podem emitir qualquer opinião discrepante. Embora à mulher se confiram certas funções subalternas, aspirar ao sacerdócio e à prelazia é impensável, quiçá blasfemo. No ortodoxismo, que rompeu com o catolicismo em 1054, tão solene em seus rituais e tocante em seu majestoso cerimonialismo, a lutar pela sobrevivência em uma inibidora política tiranicamente hostil, não haveria clima para questões desta natureza. No protestantismo, ou, melhor, no mundo evangélico da atualidade, a gama de opiniões se estende desde o crasso radicalismo ultraconservador até a fluidez do liberalismo amorfo e caótico. Destarte, na ambivalência protestante, a ordenação feminina vai desde o veto terminante até a prática indiscriminada.

Das denominações históricas brasileiras, qual é a mais fechada à ordenação feminina?
Possivelmente, em nenhuma das denominações históricas brasileiras haja unanimidade, seja favorável, seja desfavorável à ordenação feminina. Em alguns casos, os que discordam da posição oficial se acomodam, passivamente, em outras, reagem, em graus variados, mais ativamente. Assim é que, na atualidade, denominações tais como a Luterana, a Metodista, a Episcopal, a Reformada, a Presbiteriana Independente, a Presbiteriana Unida, admitem o ministério feminino; a Batista e a Congregacional, menos centralizadas, ensejam diferentes posturas, segundo as circunstâncias; as igrejas de cunho conservador ou fundamentalista, opõem-se vigorosamente. A Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), porém, é, oficialmente, a mais radicalmente infensa. Contudo, acentuado e crescente é o impacto em nossa grei, daqueles que propugnam pela reversão dessa rígida postura.

A proliferação aparentemente desordenada da ordenação feminina, em alguns casos só por serem esposas de pastores, dificulta a análise da questão?
A ordenação feminina às funções eclesiásticas oficiosas nas igrejas do país não suscitou a comoção que se antevia, nem teve o impacto que se alardeava. As mulheres não se alvoroçaram, mostraram-se algo tímidas, comedidas, como que receosas de ferir suscetibilidades masculinas. E a vida das igrejas continuou com plena tranquilidade, sem confrontos nem sobressaltos. E a obra do evangelho no país ganhou o valioso concurso da mulher consagrada e piedosa. O estudioso da questão, arguto e criterioso, não enfrentará óbices em sua análise da matéria.

Algumas denominações, além de não ordenarem mulheres para o ministério pastoral, não ordenam mulheres para o ofício do presbiterato e do diaconato. Qual sua opinião?
A cristandade se polariza entre os exclusivistas, que, sem espasmos de consciência ou pruridos de remorso, só ao homem conferem as prerrogativas e funções eclesiásticas, e os inclusivistas, que, estendem à mulher esses direitos, em paridade com o homem. Têm estes visão mais iluminada, sentimentos mais humanos, consciência mais sensível, propósito mais racional, justo, nobilitante. Não há tergiversar: estes agradam mais a Deus e melhor o servem.

Os que são contrários à ordenação feminina argumentam que, nos três primeiros capítulos do livro de Gênesis, em especial 2.18, fica claro que a mulher foi criada como simples auxiliar do homem e nunca será igual em autoridade e gestão. O que dizer?
Exegetas de grande nomeada, reconhecida competência, indiscutível probidade, e teólogos da mais elevada eminência, inegável saber e nobreza de espírito, esposam esse parecer, com distinção e dignidade incontestes. Contudo, é preciso reconhecer que, no âmbito dos que deles discordam há figuras do mais sólido gabarito e inegável saber, de probidade inatacável. Tal sendo a polaridade, um impasse que se afigura insolúvel, dir-se-á que é uma questão aberta, que requer neutralidade ou preferência puramente pessoal, não lógica ou racional. Isso, entretanto, não deve impedir que se busque adequada e procedente solução. O fulcro da questão é o teor de Gênesis 2.18. O texto bíblico retrata a mulher como “ezer Keneghdô” que nosso Almeida, versão atualizada e corrigida, traduz como “auxiliadora que lhe seja idônea”, fraseado sonoro, até elegante... mas, oracular, enigmático, ambivalente, vago, indefinido, tautológico. Dispusesse dos recursos que se fazem de mister, gostaria de examinar a Septuaginta, a Vulgata, as versões todas que nos fossem acessíveis, no afã de apreciar como traduziram a expressão hebraica e que sentido lhe atribuíram. O termo hebraico “ezer” é masculino, mais apropriadamente expresso, em acepção substantiva, não adjetiva, por “auxílio”, “ajuda”, “socorro”, tradução que, apropriadamente elimina o teor subordinativo, inferiorizante da versão corrente, como se pode perceber, com clareza, no sugestivo título “Ebenezer”, literalmente “pedra de auxílio”, jamais “pedra auxiliadora”. Por sua vez, o tríptico de termos hebraicos associados significa, literalmente: “como diante dele”, frase ambígua, que, naturalmente, se presta a variadas acepções. Todavia, como o próprio texto bíblico declara que, dentre os seres criados, não havia comparsa ou companheira à altura do homem, Deus formou a mulher e a deu ao homem por esposa e “auxílio”, complementaridade, completude, complemento, totalização de um todo a integrar, adição de parcela a somar, de sorte que homem e mulher conjugados constituem uma unidade integrada, não uma dualidade díspar, assimétrica e desigual. Nessa perspectiva, homem e mulher formam um elo, uno e indivisível, de plenos direitos e atribuições em pé de igualdade, respeitadas as diferenças, que não criam subordinação, desigualdade, redução de atribuições. Cada um desempenhará as funções a que a aptidão e a vocação lhe façam jus, pela graça de Deus. Destarte, a argumentação contrária à ordenação feminina, baseada nesta porção de Gênesis se mostra inteiramente irrelevante, quando muito mera analogia, aliás, falaciosa, que não há invocar como base de argumentação lógica. Ademais, forçoso é reconhecer que o texto do Gênesis não se refere a posições e encargos eclesiásticos, questão a decidir-se, em outras bases. No transcurso deste questionário, suficientes ponderações evidenciaram que não há impedimento escriturístico a que se atribuam à mulher funções eclesiásticas hoje privativas do homem, medida que trará farta messe de bênçãos à igreja, além de justa, igualitária, sem preconceito. Com júbilo e gratidão, nossas igrejas celebrarão o precioso concurso de nossas ministras e pastoras, presbíteras e diaconisas, piedosas, reverentes e consagradas a servir ao Senhor, como, com reconhecido êxito, vem acontecendo em outras denominações evangélicas.

A Igreja Presbiteriana do Brasil, hoje tão resistente à ideia de ordenação feminina, acabará aderindo ao que tanto se opõe?
Tudo parece mostrar que essa é a inevitável marcha dos acontecimentos, e a IPB, mais cedo ou mais tarde, terá de ceder à pressão dos fatos. E quanto mais cedo, tanto melhor. Então, una e coesa, militará a IPB, ao lado de tantas outras denominações na bendita cruzada da fé, no sagrado empenho da implantação do reino de Deus entre os homens, a maior necessidade deste mundo escravizado pelo mal.

Para aprofundar-se sobre o assunto, veja “O shibboleth do ministério feminino” (Revista Teológica do Seminário de Campinas. Campinas, n. 38, p. 55-65, ago. 1993).
Fonte: Revista Ultimato Março Abril 2011.

26.3.11

Ajude o Japão através do Itaú!

Campanha para auxiliar as vítimas do terremoto no Japão

Solidário aos acontecimentos no Japão, o Itaú lançou campanha em prol das vítimas. Confira:
  • Isenção de tarifas das remessas do Brasil para o Japão de PF e PJ.
  • Doações em conta-corrente: parceria com a Federação das Associações de Províncias do Japão no Brasil, que arrecadará recursos através de uma conta-corrente e remeterá ao Japão, para a entidade Cruz Vermelha Japão.
Doações podem ser feitas na conta abaixo:
Banco Itaú (341)
Agência: 0177 (Liberdade)
Conta-corrente: 70741-1
CNPJ: 46.568.895/0001-66
Titular: Federação das Associações de Províncias do Japão no Brasil.
Doação de cobertores, água e alimentos: o Itaú aderiu à Ação Embaixada, custeada por empresas brasileiras por meio do parceiro Câmara de Comércio do Brasil no Japão, que ajudará as 3 regiões mais atingidas.

イタウ銀行では、東北関東大震災被災者の方々のために災害支援を実施いたします。 以下、 概要をお知らせいたします。
  • ブラジルから日本への国際送金の手数料を無料にします(個人、及び法人口座)。
  •  ブラジル日本都道府県人会連合会と共同で義援金受付を行っております。募金は全額、日本赤十字社へ寄付されます。
振込先は以下、ご参照ください。
銀行名  Banco Itaú (341)
支店番号 (リベルダーデ支店)  0177
口座番号  70741-1
CNPJ 番号 46.568.895/0001-66
口座名義  Federação das  Associações de Províncias do Japão no Brasil.
 在日ブラジル大使館、在日ブラジル商工会議所と共に、毛布、食料、飲料水、を寄付しています。

Ajude o Japão através do Banco do Brasil!

BB se mobiliza para apoiar brasileiros no Japão

O Banco do Brasil, que é o banco dos brasileiros no Brasil e no mundo, definiu medidas emergenciais que beneficiarão brasileiros residentes no Japão, cidadãos da comunidade nipônica no Brasil, e funcionários do BB que atuam naquele país. As medidas são:

No Brasil:
  • Isenção da cobrança de tarifa para envio de ordens de pagamento em favor de pessoas físicas clientes do BB no Japão. Esta isenção é concedida pelas agências do BB no momento do envio das remessas. Não se aplica às remessas efetuadas pela Internet.
  • Abertura de conta gerida pelo próprio BB para recebimento de doações em reais, limitadas ao valor de R$ 9 mil cada, às vítimas do desastre: agência 1608-X, conta 500.500-0, titular BB SOS Japão. Valores superiores a R$ 9 mil podem ser enviados via ordem de pagamento para o exterior em favor do Fundo Comunidade Brasileira - FCB, conforme detalhes mais abaixo nesta matéria.

No Japão:
  • Isenção da cobrança de tarifa de liquidação das remessas enviadas a pessoas físicas clientes do BB no Japão que estiverem nas províncias atingidas pelos desastres, excetuando-se aquelas remessas destinadas a outros bancos no Japão.
  • Disponibilidade das agências do BB no Japão para acolhimento de doações (alimentos não-perecíveis, cobertores, etc.), em cooperação com organismos não-governamentais.
  • Atuação conjunta com a Embaixada e Consulados do Brasil no Japão, bem como com entidades não governamentais, para viabilizar auxílio médico, psicológico e outros necessários às famílias brasileiras.
  • Divulgação tempestiva sobre as condições de funcionamento das dependências do BB no Japão, em razão das contingências atuais, em www.bb.com.br/toquio
  • Divulgação da conta para doações através de transferências dentro do Japão via Bank of Tokyo-Mitsubishi UFJ, agência Shin Marunouchi Shiten, tipo de conta Touza, titular Burajiru Ginkou Tokyo Shiten, conta 122.360-7, remetente do Furikomi 100.449-9 acrescido do nome do remetente sem espaçamento.
No mundo:
  • Recebimento de doações via ordens de pagamento ao BB Tóquio, conta 100.449-9, titular Fundo Comunidade Brasileira - FCB, Swift BRASJPJT. O FCB é uma sociedade civil sem fins lucrativos, representada por pessoas que ocupam cargos de gestão em empresas e instituições com representação no Japão, bem como servidores de representações oficiais brasileiras no Japão.
  • Auxílio para localização de pessoas com as quais se tenha perdido o contato por meio de serviço disponibilizado no portal BB na Internet e na página do BB Japão, banner "Quer encontrar alguém no Japão?".

Emprego de A a Z: Dicas para um currículo campeão!

Expressão de louvor

Por Carlos Fernandes

O título desta entrevista é o mesmo de uma das canções mais conhecidas do grupo Logos. Mas também sintetiza parte importante da vida do pastor, cantor e compositor Paulo Cezar da Silva. Aos 60 anos de idade e com mais de trinta de carreira – ou, conforme ele mesmo define, ministério –, Paulo é dos nomes mais conhecidos da música evangélica brasileira, de cuja evolução participa desde os anos 70. Foi naquela época que, ainda aluno do seminário Palavra da Vida, em São Paulo, formou um conjunto musical, já com a presença de Nilma, com quem acabou se casando. A iniciativa entre amigos deu origem, em 1979, ao grupo Elo, que marcou uma geração de crentes. Alguns de seus álbuns, como Calmo, sereno e tranquilo e Ouvi dizer, viraram clássicos, e Paulo Cezar, com sua poesia, uma referência.

A trágica morte do talentoso instrumentista Jayro Gonçalves, o Jayrinho, acarretou o fim do Elo. Mas Paulo quis seguir adiante. “Fui buscar consolo e inspiração na Bíblia”, conta. E foi das Escrituras que surgiu a ideia para batizar o novo grupo. “O nome foi escolhido por significar a palavra viva e por ter tudo a ver com nosso ministério, onde a Bíblia tem centralidade absoluta”, diz o artista. Com o Logos, Paulo Cezar legou ao público cristão 17 álbuns e pérolas como as canções Mão no arado, Portas abertas e Autor da minha fé. Compositor da maioria das músicas do grupo, o artista defende um louvor com conteúdo – coisa que, segundo ele, já não é prioridade. “A falta de conhecimento bíblico e os interesses comerciais estão na base da superficialidade”, resume.

Apesar da já longa jornada, o Logos não está parado no tempo. Com uma formação que vem se renovando ao longo dos anos, o grupo é a base de um ministério evangelístico cuja sede fica em São José dos Campos (SP). O Logos faz pelo menos três grandes viagens por ano, levando não apenas louvor musical, mas evangelismo, edificação espiritual e encorajamento às igrejas. Em janeiro, o Logos esteve na África, em ação missionária. Nesta entrevista a CRISTIANISMO HOJE, Paulo Cezar permitiu-se falar de coração aberto sobre o que pensa acerca da indústria musical, do próprio ministério e da Igreja. E não escondeu: “Sonho com bons músicos, crentes de verdade, que rendam seus talentos ao Senhor e testemunhem com suas vidas o caráter de verdadeiros adoradores.”

CRISTIANISMO HOJE – Você é um dos nomes mais conhecidos da música cristã brasileira, tendo acompanhado de perto sua evolução nos últimos 30 anos. O que mudou para melhor e para pior ao longo desse tempo?
PAULO CEZAR – Para melhor, acho que mudou a qualidade técnica. A evolução dos músicos, dos estúdios, dos instrumentos e do som é perceptível. As chances de alguém gravar e fazer um bom trabalho, hoje, são muito maiores do que antes. O que mudou para pior, com algumas exceções, foi o conteúdo, tanto do que se produz como do objetivo com que se canta. Atualmente, a chamada música evangélica, ou “gospel”, está sendo atacada de todos os lados. O mundanismo tomou o lugar da contextualização. Além disso, vemos a repetição de muitos jargões, palavras de ordem e mensagens de prosperidade.

Por que a música evangélica de hoje carece de conteúdo?
As músicas e tais tendências nos conduzem a nomes, mas eu não quero, de modo algum, reconhecer ou classificar adoradores. Afinal, se Deus os procura, quem sou eu para achá-los? Mas creio que as letras são escritas de acordo com várias influências. O conhecimento é um desses aspectos, e é importantíssimo. Ninguém, mesmo que queira, poderá escrever sobre o que não sabe. A falta de conhecimento ressalta a superficialidade e o apelo emocional. Em outras palavras, um compositor ou pregador superficial ficará contente diante de pessoas chorando no altar ou mãos erguidas no auditório – mesmo que os ouvintes não sejam salvos ou que seu caráter não seja mudado nos dias que se seguem. Outro aspecto é a razão. Responder conscientemente ao motivo pelo que se compõe é determinante para quem o faz. E isso é que faz toda a diferença!

Mas essa contextualização é boa ou não?
Acredito que essa tal contextualização tem levado compositores, escritores e pregadores a compor, escrever e dizer o que seus “clientes” gostam, e não o que precisam. Eles não percebem que, agindo assim, perdem a inspiração divina e a própria criatividade.

Ainda existe espaço para grupos de louvor com visão missionária, como Logos e Vencedores por Cristo?
Com toda certeza, ainda existe sim. O Senhor nos tem aberto portas em muitas denominações. Fazemos três grandes viagens todo ano, cada uma com duração de dois meses e meio, nas quais visitamos as igrejas diariamente. Nosso trabalho é evangelístico – e o que queremos é anunciar o Evangelho de forma séria, através de boa música e de mensagens claras e objetivas.

Como foi a viagem à África e como você avalia a realidade espiritual de lá?
Fomos convidados a participar de uma conferência para missionários brasileiros em Dakar, no Senegal. Resolvemos aproveitar a oportunidade para visitar também Guiné Bissau. Nos dois países, estivemos em igrejas, escolas e agências missionárias.  Os missionários brasileiros que atuam lá choraram ao ouvir as músicas que foram usadas por Deus no seu próprio chamado ou em momentos marcantes de seu ministério. A rea­lidade espiritual é a de um povo oprimido pela religiosidade. A tradição familiar é muito forte; ela tira a individualidade das pessoas, tornando muito difícil a absorção do Evangelho. Afinal, a Palavra de Deus apresenta uma nova tomada de posição espiritual. E uma mudança religiosa significa rompimento direto, não só com a religião predominante, mas, sobretudo, com a própria família.

O que você e o ministério Logos têm feito no sentido de dar contemporaneidade ao seu trabalho, evitando parar no tempo?
Bem, emprimeiro lugar, temos seguido o exemplo da Bíblia, nunca mudando a essência do que fomos chamados a ser e a fazer. Temos também procurado usar os instrumentos modernos em nossa música. Ao dizer isso refiro-me tanto aos instrumentos que são pessoas, quanto aos instrumentos que são coisas; porém, sempre tomando o cuidado de não permitir que um ou outro assuma o centro das atenções. Estamos conscientes de que, quando a performance ofusca o brilho do conteúdo, só resultados superficiais são colhidos.

Quais são os artistas que hoje atuam e que chamam sua atenção positivamente pela postura e pelo ministério?
Há vários adoradores no meio artístico. Eu prefiro não citar nomes para evitar injustiças, mas resumo minha resposta afirmando que os que chamam a minha atenção são aqueles que têm um compromisso verdadeiro com o Senhor e fazem de suas vidas a maior expressão daquilo que pregam.

É correto alguém dizer que a música é um ministério? Qual seria a base bíblica para tal afirmação?
Vivemos dias em que as nomenclaturas fazem parte de um complexo esquema organizacional. Não creio que isso, em si, seja mau. E é verdade que cada crente tem que achar o seu lugar funcional na obra. Mas a incompreensão do uso de um ministério pode trazer orgulho ou desajuste na função de alguns. A Palavra de Deus nos ensina sobre dons, serviços e ministérios. Entendo que existe aí uma sequência lógica, onde o dom é a capacidade espiritual que o Senhor dá a cada um, segundo o seu propósito, como, por exemplo, a misericórdia. Já o serviço é o meio pelo qual aquele dom é manifesto, como o diaconato. E o ministério é o que é executado no final dessa sequência. Quando isso é entendido, os ministérios voltam ao seu lugar de trabalho, perdendo a característica perigosa de ostentação.

E quando esse entendimento é jogado para escanteio em nome do mercado?
Se eu não tivesse certeza de que este veículo de comunicação circula na Igreja, pularia esta pergunta. Testemunhar de coisas que não são boas não me traz alegria. Acho que as coisas ruins que eu tenho testemunhado são frutos de falsas conversões e de distorções daquilo que alguns chamam de “ministério”: A ganância por posição, popularidade, fama e dinheiro é absolutamente antagônicos ao caráter do Reino de Deus e em momento algum reflete o ministério daquele em quem nos espelhamos, Jesus. Quando sei dos valores que alguns “homens de Deus” cobram para fazer algo “em nome de Jesus,” sinto-me enojado. Não fora minha consciência de ministério, eu me sentiria ultrajado como servo. Mas isso também não me surpreende; a Bíblia está repleta de admoestações relativas a esse tipo de pessoas. Muitos se escandalizam por um político que esconde dinheiro nas meias, não é? Pois isso é muito pouco diante de “servos” que o escondem no coração.

Com a decadência da indústria fonográfica gospel, qual o panorama que se desenha para o futuro? As grandes gravadoras e grupos do segmento estão com os dias contados?
Depende. Acho que, pela ordem natural das coisas, tanto a indústria como o comércio fonográfico terão que fazer adaptações severas. Alguns conseguirão sobreviver; outros, não. O uso da tecnologia moderna é um fator básico do desenvolvimento. As indústrias correrão sempre nessa direção e farão as adaptações necessárias para driblar a crise, abrindo assim um novo cenário. Creio ainda que, diante do mercado paralelo crescente – a pirataria – e com o advento da internet, os valores e condições de pagamento dos produtos dessa indústria se ajustarão a um modo cada vez mais pessoal, fácil e ágil, que satisfaça perfeitamente ao cliente. Isso acabará resultando em maior consumo.

Você tem uma postura crítica em relação à apropriação comercial da música evangélica, particularmente por parte das grandes gravadoras do segmento?
Não sou contrário a essa apropriação da música em si, porque os direitos de um contrato são mantidos por lei. Minhas críticas são por outros motivos. Tenho certeza de que a parte comercial de uma gravadora – evangélica ou não – sempre dará prioridade ao lucro. É o lucro que a fará conquistar o mercado, e por causa disso a visão ministerial, ainda que exista, será considerada em um plano inferior. Não vejo problema em que se venda a Bíblia no bar da esquina. Ora, qualquer um pode vender o que quiser; a diferença, para mim, está só na razão pela qual se faz isso. E é aqui que eu vejo o problema mais sério, quando o conteúdo de uma música realmente cristã não é o produto desejado para ser difundido pelas gravadoras chamadas evangélicas. Vale qualquer coisa, desde que resulte em grana!  Então eu pergunto: Onde está a visão do Reino nesse negócio?

O Logos teve uma passagem pela Line Records, gravadora ligada à Igreja Universal do Reino de Deus. O que representou para você aquela experiência?
Quanto à Line Records, sempre tive e tenho por ela profundo respeito. Nunca o Logos foi destratado ali e não há nada pendente em relação ao contrato que fizemos, que foi de distribuição. Tanto, que a previsão do contrato era de dois anos, mas nossa relação perdurou por mais quatro anos além do que foi assinado. Aqui, preciso ressaltar que, embora pessoalmente, discorde de certas práticas e costumes da Igreja Universal – algo, aliás, nunca escondido e respeitado em nosso relacionamento –, reconheço que eles foram sérios conosco, e somos gratos por isso. 

Se uma grande gravadora propusesse hoje ao Logos um contrato vantajoso, qual seria sua resposta?
Olha, se uma gravadora vir o Logos como um grupo sério e maduro, que goza de respeito e aceitação por parte de várias denominações em todo país, não haverá impedimentos para uma aproximação. Temos princípios, mas nunca estamos fechados a contratos se a visão do contratante for de fato, ministerial, independentemente da competitividade artística do momento.

Como está a situação do ministério em termos de viabilidade financeira?
Bem, somos uma missão, e realmente sem fins lucrativos. Isso significa que sempre estamos com nossas contas em dia e nunca temos recursos antes de projetos. Funciona assim: temos projetos antes de recursos. Mas não estranho isso; acho que é coisa de Jesus, mesmo... Aprendemos com ele a ver pães e peixes serem multiplicados. Então, quando saímos, fazemo-lo como trabalhadores que o representam, e não como artistas e empresários.

Como é o seu processo de composição?
Eu componho após pensar: pensar na minha própria vida, na vida das pessoas, nas necessidades; e sempre trago essas coisas diante da Palavra de Deus, que me diz o que fazer, ou como ir adiante. Evidentemente que os talentos natos vindos do Senhor afloram e a excelência de quem quer adorar não permite a futilidade. Sei que, se eu for superficial e não verdadeiro, os resultados do que estou compondo serão também assim.

É dif´cil conciliar essa busca por autenticidade com a necessidade de vender CDs?
Veja, o comércio não é pecaminoso, como também o dinheiro não é. O que faço com ele é o que me diferencia. Não componho para ganhar dinheiro, mas sei que vender os trabalhos é o modo de fazê-los chegar a quem preciso atingir. Sabemos que o trabalhador é digno de seu salário. Não é pecado ser bem remunerado. As pessoas pagam entradas para assistir jogos de futebol, peças de teatro e filmes no cinema. Nada mais justo do que remunerar o artista segundo a arrecadação que ele mesmo produz. Mas fazer missões é outra coisa!

Na sua opinião, é lícito ao músico cristão tocar profissionalmente fora da igreja? Isso não seria desvirtuar o talento dado por Deus?
Vamos por partes. Primeiro, é preciso compreender que a música é um talento, e não um dom espiritual. Como talento, ela não é santa em si mesma. Há coisas lindas compostas por artistas descrentes. Depois, é preciso pensar que a música é também uma profissão artística reconhecida em todo mundo; portanto, qualquer pessoa que tenha esse talento pode exercer essa profissão, sendo crente ou não. Há, entretanto duas grandes observações aqui. A primeira é que o músico crente, como qualquer outro profissional que conhece Jesus, tem que ter a sua vida santificada ao Senhor. Isso implica no seu testemunho comum de crente e na santificação de seu caráter de forma geral. Então, se ele cantava palavrões ou obscenidades quando não era crente, agora, com Cristo, terá de mudar essas coisas. A outra observação tem mais a ver com o chamado ministerial, e creio ser este o ponto mais importante. Se um músico, após a sua conversão, receber de Deus um chamado de dedicação total à obra e atendê-lo, então, também como qualquer outro profissional, estará à disposição do Senhor para servi-lo e por ele ser sustentado, não mais como um artista lá fora, mas como um servo no lugar onde estiver servindo.

É cada vez mais comum músicos populares no segmento secular dizerem-se convertidos ao Evangelho, logo engatando uma carreira art´stica entre os crentes. Qual o resultado disso?
Se forem verdadeiramente convertidos pelo Espírito Santo, e, como consequência disso, deixarem-se discipular como qualquer outro pecador rendido ao senhorio de Cristo, poderão ser usados pelo Senhor, a despeito do que foram ou fizeram. Se assim não for, será simplesmente uma troca de posicionamento profissional.

Por outro lado, gravadoras seculares andam de olho e até contratando nomes mais expressivos do gospel nacional. Como um músico evangélico deve se comportar diante de uma proposta como essa?
Para qualquer músico eu diria que, caso a proposta seja boa, agarre-a com todas as suas forças. Mas, se o músico em questão for um crente verdadeiro, ele deve saber aproveitar a oportunidade, mas nunca negociando seus reais valores.

Sem uma igreja ou ministério provendo sustento, e sem pagar “jabá”, o grupo Logos ainda toca em rádios?
Acho que sim. Deus é fiel, não é? Ele nos deixaria viver para pregar para paredes? Acho que não! Então, nossa música será ouvida até que ele queira, mesmo que já não estejamos mais aqui.

Autor da minha fé é uma das composições mais conhecidas de seu repertório. A letra fala sobre a segunda vinda de Cristo, tema meio esquecido ultimamente. Você acha que a música evangélica no Brasil perdeu seu papel profético?
Não posso generalizar o que acontece nos púlpitos, até porque, devido ao trabalho de viagens evangelísticas, estou mais tempo pregando do que ouvindo pregações. Mas, com certeza, reconheço que o assunto não figura entre os temas mais abordados.

Como você vê a formação musical nas igrejas e nos seminários?
Há várias igrejas que estão trabalhando isso. Conheço também algumas escolas voltadas nessa direção. No seminário onde estudei, embora não se tenha, especificamente, ensinado sobre os temas louvor e adoração, recebi as bases para ser um verdadeiro adorador.  E é isso que, desde então, tenho procurando ser. Mas o que tenho constatado é que a dificuldade maior hoje não está em treinar musicalmente os alunos, capacitando-os e ensinando-lhes posturas de um ministro de louvor. O problema é quais são seus modelos. Certamente, o que esses alunos considerariam como referência seriam aqueles que estão na mídia, fazendo shows. Eles desejariam imitar seus gestos, seus jargões, seu tipo de música e até suas roupas.  Assim, se tivéssemos que prepará-los de acordo com a modernidade do ministério, teríamos que ensinar-lhes matérias como presença de palco, expressão corporal, vestuário artístico e um vocabulário de palavras de ordem, além de estimulá-los a moldar suas músicas ao que está “rolando” hoje. Mas é disso que a Igreja está precisando ou é isso que a está afastando cada vez mais do genuíno papel da música evangélica?

Você já disse em várias ocasiões que é contra a cobrança de cachês por cantores evangélicos. Como o ministério Logos se sustenta financeiramente?
O Logos nunca cobrou cachê, e por princípio nunca o fará. Em todos esses anos de trabalho, sempre usamos o bom senso para termos as necessidades da missão supridas, sem colocar uma corda no pescoço de ninguém. Todos os pastores que nos conhecem, no Brasil ou fora dele, recebem o Logos com confiança. O que praticamos é uma taxa chamada de manutenção que qualquer igreja pode absorver. Ela cobre gastos com as viagens, que fazemos a bordo do nosso ônibus, com toda a equipe e equipamentos, aos lugares mais remotos do país.

O que você acha que deve acontecer com a música evangélica brasileira daqui para a frente?
Não quero responder com pensamentos previsíveis, mas com desejos de alma. Eu sonho com uma música diversificada em estilos e mensagens, que atenda as reais necessidades das igrejas. Sonho com bons músicos, crentes de verdade, que rendam seus talentos ao Senhor e testemunhem com suas vidas o caráter de verdadeiros adoradores. E, finalizando, sonho com uma Igreja que permaneça fiel diante dos modismos sufocantes da falsa contextualização.

Fonte: http://www.cristianismohoje.com.br/interna.php?subcanal=26&id_conteudo=99

Jesus e o “Freecycle”

por Júlio Reis

No capítulo 3 de Lucas, há algo impressionante para aqueles que esperam um mundo melhor. Esse texto apresenta João Batista como o precursor de uma nova ordem mundial: o Reino de Deus. Uma profecia acerca dele, de sete séculos antes, dizia: “os caminhos tortuosos serão retificados... e toda carne verá a salvação de Deus” (v. 5-6). João era um profeta que falava a verdade de Deus e foi o último mártir do pré-cristianismo. 

A prova de arrependimento é essencial na pregação de João. Assim como a cobra foge do perigo, mas não deixa de ser cobra, aquela “raça de víboras” queria escapar à ira de Deus sem uma mudança de coração (v. 7). O povo estava tão distante de Deus que nem mesmo sabia como demonstrar arrependimento (v. 10). Para uma sociedade cujo deus eram os bens materiais, João foi direto à raiz da idolatria e pronunciou a sentença: “Quem tiver duas túnicas, reparta com quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo.” (Lc 3.11) 

Alguma semelhança com a nossa sociedade atual? Quem não se contenta com o status de “filho de Abraão” e deseja tornar-se um discípulo de João Batista (e por extensão, de Cristo) reconhece em Lucas 3 um fardo leve e um jugo suave. 
Libertar-se da dependência dos bens materiais é uma necessidade para pessoas de todas as classes sociais. Um aprendizado para toda a vida. É também uma fonte de grande alegria, à medida que vamos deixando aquele a quem chamamos Senhor dominar sobre nossas preocupações mais básicas. Jesus não deu estatísticas, mas talvez os “gentios” passassem 90% do tempo pensando em “necessidades básicas” (Mt 6.32). Se deixarmos Deus reinar sobre nossa “comida, bebida e roupa”, quanto tempo sobra para pensar no Reino! 

Um exemplo contemporâneo de “repartir as duas túnicas” é a rede “Freecycle”. Esse movimento teve início nos Estados Unidos com um grupo de pessoas interessadas em doar bens dos quais não necessitam mais, ao invés de simplesmente descartá-los. Quem tem algo de que não precisa informa ao seu grupo local. Quem precisa de algo também informa. Tudo livremente: é proibido pedir ou oferecer dinheiro ou serviços. Assim, todos são encorajados a partilhar com outros uma parte do que têm e de que não necessitam. A longo prazo, isso tende a gerar uma sociedade de pessoas menos dependentes dos bens materiais. 

Durante alguns meses fui membro do grupo “Freecycle” de Lisboa e pude constatar que realmente funciona. Minhas dúvidas foram esclarecidas na prática. Há pouco tempo iniciei um grupo na minha cidade (Alcobaça, Portugal) e, com pouca publicidade, já somos 85 associados. Já foram oferecidas coisas como livros, CD’s, monitores de vídeo, peças de computador e carrinhos de bebê, além de muitas dicas para reciclar e poupar o ambiente e o bolso.
Encorajo o leitor a se juntar a um grupo “Freecycle”, ver como funciona e depois começar um em sua cidade! E vamos pensando. Certamente Lucas 3.11 não se esgota por aqui. (Como o processo de candidatura é em inglês, coloco-me à disposição para orientar qualquer pessoa que queira iniciar um grupo.)

Grupos Freecycle no Brasil: www.freecycle.org/group/Brazil/Brazil
Boa Vista, RR - Brasília, DF - Curitiba, PR - Niterói, RJ - Porto Alegre, RS - Rio de Janeiro, RJ - São Paulo, SP - Uberlândia, MG.

Fonte: Revista Ultimato de setembro-outubro de 2008.

Júlio Reis é membro da Igreja Batista de Alcobaça, em Portugal. É casado, dois filhos, e gosta de observar aves e ler ficção científica.

22.3.11

Emprego de A a Z: Primeiro Emprego

Iniciaremos uma série de postagens no blog falando sobre emprego utilizando as reportagens "Emprego de A a Z" produzidas pelo consultor Max Gehringer para o Fantástico, iniciaremos com a reportagem "Primeiro Emprego".


20.3.11

Entrevista com Max Lucado

Precisamos hoje de um Evangelho simples

Já se disse – e é verdade – que a unanimidade é perigosa. Por isso mesmo, dizer que todo mundo gosta do escritor americano Max Lucado pode ser arriscado. Mas, com certeza, é algo bem próximo da realidade. Autor consagrado por mais de 60 livros que venderam algo perto de 50 milhões de exemplares em todo o mundo, ele é um fenômeno das letras cristãs. A abrangência de sua obra pode ser avaliada pela diversidade dos temas que aborda. Derrubando Golias, Ele escolheu os cravos, Seguro nos braços do Pai, Nas garras da graça e Simplesmente como Jesus são alguns títulos que demonstram seu ecletismo. Lucado, mestre dos textos devocionais e inspirativos, começou a escrever em 1985, quando morava no Rio de Janeiro. Aliás, o período em que viveu no país é descrito por ele como um tempo de carinhosas lembranças. “Tenho um amor especial pelo Brasil”, derrete-se. “O brasileiro é o melhor povo do mundo.”

Pastor por chamado divino e escritor por uma vocação que garante ter recebido também de Deus, Max Lucado é tido nos Estados Unidos como uma referência cristã que transcende os muros da Igreja. Seu trabalho é enaltecido por publicações seculares como o New York Times e o USA Today. Mesmo assim, ele não é condescendente com a atual situação de seu país. “Os Estados Unidos não são mais uma nação cristã, porque o cristianismo não influencia mais suas decisões”, critica. Casado com Denalyn e pai de três filhas, Lucado vive em San Antonio, no Texas, onde até recentemente pastoreava a Oak Hills Church. Afastou-se do púlpito para dedicar-se mais à carreira de escritor – embora, evidentemente, as duas funções lhe caibam como uma luva. Por telefone, Max Lucado concedeu a seguinte entrevista exclusiva a esta primeira edição de CRISTIANISMO HOJE:

CRISTIANISMO HOJE – A passagem de João 3.16, também chamado de “texto áureo” da Bíblia, é certamente a mais lida e pregada da Escritura. Por que o senhor o escolheu como base do seu novo livro?
MAX LUCADO – Sou pastor, e todos os meus livros são para a Igreja – ou seja, eu os faço pensando na Igreja, e ela necessita saber que estamos numa época em que precisamos estudar um Evangelho simples. E como fazer isso? Explicando tudo numa frase bem simples, expressando opiniões mais simples ainda. Então, considero o texto de João 3.16 como uma passagem ideal. O curioso é que a primeira vez em que pensei neste livro foi em 1998, quando ouvi uma música da cantora Jacy Velasquez baseada justamente na passagem de João 3.16. Aí, uma pessoa me deu a idéia de escrever um livro baseado também naquele texto. Bem, passados estes anos, aí está o livro.

Por que o dia 11 de setembro, data tão emblemática para a humanidade, foi escolhida para o lançamento mundial de um livro que fala justamente da antítese do ódio?
Há uma maneira de comparar 9/11 com João 3.16 – e é precisamente a contraposição do medo contra a esperança.

Na sua opinião, o que mudou na Igreja após aquele episódio? Ela também perdeu um pouco da sua esperança? E agora, passados seis anos dos atentados, como os cristãos americanos lidam com a questão?
Infelizmente, nada mudou desde então. Eu me lembro de que nos primeiros dias após o atentado, todas as igrejas estavam lotadas. Só que o tempo passou e as pessoas não permaneceram naquela busca pelo Senhor. Agora, está tudo normal. Infelizmente, o cristianismo não influencia os Estados Unidos. Aliás, os Estados Unidos não são um país cristão, mas um país que tem cristãos. Um país cristão glorifica a Cristo em suas decisões e os Estados Unidos não estão fazendo isso. Eu acho que os Estados Unidos não estão crendo no Senhor como a Coréia do Sul, o Brasil ou a China.

Qual sua expectativa quanto ao efeito de João 3.16 sobre os leitores?
Eu tenho duas expectativas. Uma delas é a de alcançar as pessoas que não são discípulos de Cristo – para isso, quis apresentar-lhes um livro que explicasse o Evangelho de forma simples. A outra é edificar os cristãos, fazendo-os entender o Evangelho. Eu quis descomplicar as coisas importantes da Palavra de Deus.

Mas o livro tem alguns capítulos que abordam temas bem complicados, como a existência do céu e do inferno. Algumas modernas interpretações da Bíblia têm procurado relativizar essa doutrina, sugerindo que um Deus tão amoroso jamais lançaria pessoas no inferno, e que este termo, na realidade, significaria apenas “sepultura”. O senhor considera que as referências ao céu e ao inferno, na Palavra, são literais e referem-se mesmo a estados eternos a que serão destinadas todas as pessoas?                                                                                                               
Eu procurei achar todas as possibilidades e caminhos para concordar com as pessoas que dizem que não existe literalmente o inferno. Mas, simplesmente, não concordo com isso. As Escrituras descrevem uma punição eterna com a mesma convicção que falam sobre a existência do céu. Eu estou convencido de que o inferno existe de fato – e é o destino eterno das pessoas que passam a vida inteira dizendo para Deus as deixarem a sós. Pois no final, é exatamente isso que Ele irá fazer.

Desde o lançamento de O maior vendedor do mundo, de Og Mandino, os temas motivacionais e princípios da auto-ajuda ensejaram o surgimento de um dos principais gêneros literários da atualidade. Qual a sua opinião acerca deste tipo de literatura?
A auto ajuda é uma boa idéia – mas uma mão limpa não pode ajudar a limpar uma suja. Logo, os princípios da auto-ajuda não são suficientes para o ser humano. Por isso, temos que buscar ajuda de outro lugar. Precisamos ter ajuda de Deus. É por isso que eu prefiro a Cristo-ajuda...

Mas esses temas também têm influenciado fortemente a literatura evangélica. Como conciliar, então, os princípios da auto-ajuda, que visam ensinar as pessoas a resolver seus problemas, com a fé cristã, que enfatiza a dependência irrestrita de Deus?
Bem, todo mundo precisa de encorajamento – e, por isso, todo mundo precisa atualmente da mensagem de Cristo sobre a cruz e a ressurreição. No entanto, não podemos sacrificar o Evangelho. Só encorajar não é suficiente. Temos que tratar o pecado, explicando sua natureza e mostrando o Salvador, mas não abrindo mão do Evangelho.

O que sabe da aceitação de seus livros no Brasil?
Fico feliz porque sempre recebo muitas cartas de brasileiros, que fazem questão de me encorajar e incentivar. 

Que lembranças o senhor guarda do período em que viveu no Brasil? 
Tenho um amor especial pelo Brasil! É o melhor povo do mundo. Os brasileiros me ensinaram muito sobre relacionamento. Na juventude, eu passei um verão no Brasil como estudante universitário. Então, acabei me apaixonando pelo país, e desde então sabia que o seu país era onde eu queria morar. Eu tenho três filhas, sendo duas nascidas no Brasil; logo, eu e minha família temos raízes profundas com esse país. Eu ainda tenho muito amigos no Brasil, especialmente nas cidades do Rio de Janeiro, Natal, Recife e São Paulo. Eu também tenho lembranças de Porto Alegre e Curitiba. Foi um privilégio viver aqueles anos em seu país. 

E pensa em voltar a residir no Brasil?
Não. Mas adoraria uma nova estada prolongada.

A publicação do documento Respostas a questões relativas a alguns aspectos da doutrina sobre a Igreja, no qual o Vaticano arvora para o catolicismo a condição de “única Igreja de Cristo”, foi um duro golpe no processo de aproximação da Igreja Católica das demais correntes cristãs. Como escritor que também é maciçamente lido por católicos, o que o senhor pensa acerca deste enfrentamento?
Eu acho que ser cristão é ser uma pessoa cujo Deus é o Senhor e que tem a Jesus Cristo como único salvador. Ora, não podemos ser salvos sem Cristo! Eu não acho que todos os caminhos levam a Deus. O que faz uma pessoa cristã não é a igreja que ela freqüenta; por isso, acho que há verdadeiros cristãos tanto na Igreja Católica quanto nas igrejas protestantes. Todavia, há muitos católicos que não são cristãos, como também há muitas pessoas que pertencem a igrejas evangélicas que não o são. 

Em seu livro Dias melhores virão, o senhor defende a crença no fato de que o Senhor sempre está no controle da situação – mesmo em casos de extremo infortúnio, como a doença e a morte, tema também presente em Aliviando a bagagem, Ele ainda remove pedras e diversas outras obras suas. Mesmo para o cristão, manter a fé diante do mundo de hoje não está cada vez mais difícil?
Sim, está. Eu acho que é muito difícil ser cristão. Principalmente, nos Estados Unidos, onde o secularismo é uma religião – ou seja, só se acredita vendo. Por causa disso, as pessoas não oram, pois só acreditam no que vêem. O que eu gosto no Brasil é que os brasileiros acreditam que existe um mundo espiritual, crêem na existência de anjos etc.

Na sua opinião, o cristão tem uma percepção correta do sofrimento e do seu significado?
É muito necessário a gente entender o propósito do sofrimento. Ele é a ferramenta usada por Deus para tratar o caráter humano. A Bíblia diz que o sofrimento nos prepara para sermos fortes; ele nos prepara para a vida eterna. E é fundamental ressaltar que a Palavra de Deus não nos revela que não teríamos sofrimentos – mas afirma que Cristo nos fortaleceria nestes momentos. 

A teologia da prosperidade, de matriz americana, influenciou fortemente a Igreja Evangélica brasileira. Um de seus pressupostos básicos é justamente a eliminação do sofrimento nesta vida. Mas percebe-se que hoje tem havido um certo “cansaço”, sobretudo em relação a promessas dos líderes que não se concretizam na vida dos fiéis. O que o senhor pensa da confissão positiva?
Eu não acho bom dizer às pessoas que, quando elas se tornarem cristãs, vão ter coisas materiais. E tenho problemas com aqueles que dizem que, quando o indivíduo se converte, vai ganhar dinheiro, não vai ter doenças... Mas a promessa de Cristo é a de nos fortalecer no meio dos problemas, e não, que a gente não vai tê-los.

O que mudou no Max Lucado escritor desde o lançamento de seu primeiro livro?
O que mudou (risos)? Hoje em dia, eu tenho mais dead line (Da redação: Trata-se de expressão utilizada no segmento editorial e se refere aos prazos para fechamento de textos e entrega de originais). Agora, eu trabalho muito mais no computador do que antes. Eu escrevi meus primeiros livros na época em que morava no Rio de Janeiro. Naquele tempo, eu os escrevia entre dez e meia da noite e meia-noite... Só que agora, uso o meu tempo integral para escrever.

Agora, uma pergunta inevitável: qual o segredo do sucesso dos seus livros?
Olha, eu não sei o porquê de os meus livros serem bem recebidos. Simplesmente, não tenho explicação para isso. Eu apenas gosto de escrever para pessoas que não gostam de ler, pois sou uma pessoa bem simples.

Por que o senhor resolveu aposentar-se do pastorado da Oak Hills Church, congregação onde exerceu o ministério desde 1987?
Na verdade, não estou me aposentando. Só estou mudando de cargo, já que vou ficar trabalhando como professor da Bíblia. Acontece que conciliar o ofício de escritor com o cargo de pastor principal é demais. Só estou simplificando as coisas...

Em João 3.16, Deus apresenta seu amor infinito ao homem. Como o senhor tem vivenciado este amor na sua vida?
O amor de Deus é a coisa mais importante da minha vida. Eu lutei muito com o Senhor nos primeiros dias da minha conversão. Era alcoólatra e achei que Deus poderia me perdoar; e aí, finalmente, comecei a acreditar nesse amor divino e efetivamente cri que Deus pode nos perdoar.

Em recente entrevista a uma revista americana, o senhor abordou essa sua relação com o álcool – tema considerado tabu no segmento evangélico, que consideram seu consumo como pecado. Por que o senhor resolveu tocar no assunto?
O abuso do álcool é parte da minha história, pois me envolvi cedo com a bebida. Mas, graças a Deus, beber excessivamente não é mais uma tentação para mim.

Logo, Deus é o Deus da segunda chance?
E da terceira, da quarta...

Fonte: http://www.cristianismohoje.com.br/interna.php?subcanal=36&id_conteudo=179

19.3.11

Um mundo só para você!

por Alexandre Uhlig

Se todas as pessoas do mundo tivessem o meu estilo de vida, precisaríamos dos recursos naturais de 1,4 planetas Terra. Só temos um!

Você já parou para pensar no seu estilo de vida e quão sustentável ele é?
Existe um conceito chamado “pegada ecológica”, desenvolvido pela ONG internacional WWF, que mede como utilizamos os recursos naturais (água, terra e ar) e os impactos que provocamos sobre eles. O método avalia como você se alimenta, se locomove, como é a sua casa e quais equipamentos você usa, e gera um número que corresponde à quantidade de planetas que precisaríamos se todas as pessoas do mundo tivessem o mesmo estilo de vida que você. Ficou curioso? Você pode calcular a sua pegada ecológica no site
www.pegadaecologica.org.br
 
Se você calculou o tamanho da sua pegada ecológica deve estar se perguntando: Por que o planeta ainda não entrou em colapso se eu preciso de uma quantidade maior de recursos naturais do que ele pode prover? Por dois motivos: primeiro, porque muita gente, principalmente na África e na Ásia e nas regiões mais pobres do Brasil, utiliza poucos recursos naturais para viver, levam uma vida simples, sem conforto. Segundo, porque o Brasil é um país abençoado e possui, atualmente, mais que o dobro dos recursos naturais de que nós, brasileiros, precisamos. Isto aumenta nossa responsabilidade como cidadãos e como cristãos. Precisamos cuidar bem destes recursos; caso contrário, teremos sérios problemas de abastecimento de alimentos, de água e de energia no futuro. Este é o princípio da sustentabilidade, a capacidade de utilizarmos os recursos naturais, presente de Deus, sem comprometê-los por um período de tempo muito longo. 

A vontade de Deus para as nossas vidas é que cumpramos os seus mandamentos e guardemos as suas ordenanças (Dt 26.16). Dentro destas ordenanças está o cuidado e o cultivo do jardim do Éden, lugar reservado para o homem viver (Gn 2.15). Deus nos recomendou uma vida simples e nos prometeu que teríamos tudo de que precisássemos (1Tm 6.6-8). Alertou-nos que a riqueza (traduzida por nosso estilo de vida) “leva o homem à destruição, pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (1Tm 6.9-10). 
Considerando a vontade de Deus para as nossas vidas, precisamos nos arrepender, rever nosso estilo de vida e simplificá-lo (2Cr 7.14).
Será que precisamos de tudo o que temos? Ou de tudo o que queremos? Será que não nos preocupamos demasiadamente em acumular? E ainda por cima no lugar errado? (Mt 6.19-20). 
O que podemos fazer para simplificar a nossa vida? Coisas simples e que não custam nada: 1) guarde o essencial, doe o supérfluo; 2) compre somente o necessário; 3) caminhe. 
Estas são pequenas sugestões que farão diferença em nossas vidas, em nosso país e em nosso planeta. Utilize-as para iniciar uma conversa sobre o amor de Deus, que salva as nossas vidas (Jo 3.16) e o cuidado dele com a criação (1Jo 3.1). “Bem-aventurados os humildes, pois eles receberão a terra por herança” (Mt 5.5).

Sites com informações úteis:

Living Ligtly - http://www.livingligtly24-1.org.uk/ site cristão com sugestões de como simplificar a sua vida na igreja, no trabalho, no lazer, nas compras etc.

Planeta Sustentável: http://planetasustentavel.abril.com.br/ site mantido pela Editora Abril com sugestões sobre sustentabilidade. Traz um interessante manual de etiqueta sustentável.

Pegada Ecológica — www.pegadaecologica.org.br/. Site brasileiro da rede global que desenvolve estudos sobre a pegada ecológica.

Fonte: Revista Ultimato de julho-agosto de 2008.

Alexandre Uhlig é presbítero da Igreja Presbiteriana Independente do Ipiranga, em São Paulo. É físico e doutor em energia pela Universidade de São Paulo.