19.4.11

A preocupação com o neopentecostalismo

Ao chegar à cidade mineira de Ouro Preto, iniciei uma conversa com o gerente de um hotel próximo à igreja onde eu esperava por um amigo pastor. Ao descobrir que eu era pastor, o gerente me disse, com entusiasmo, que também era evangélico e fora batizado naquele dia. Perguntei a qual igreja pertencia e ele me contou que era da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Depois de cumprimentá-lo pelo batismo, perguntei ao meu “novo amigo evangélico” se ele tinha certeza de estar andando na graça de Deus e se estaria com o Senhor quando morresse. Ele respondeu rapidamente: “Oh, como eu gostaria de saber isso!”.

Infelizmente, esse diálogo aconteceu várias vezes em minhas conversas com evangélicos, especialmente neopentecostais. Geralmente, o neopentecostalismo é caracterizado por alguns elementos: a proeminência da teologia da prosperidade, uma ênfase extremada na guerra espiritual, a liberalização dos usos e costumes e a redução dos laços fraternais entre os membros da congregação. Dos 17,6 milhões de evangélicos autodeclarados no censo de 2000, quase sete em cada dez são pentecostais. No entanto, é difícil determinar o número exato de neopentecostais, pois o pentecostalismo de “terceira onda” é um movimento e não se encontra agrupado em apenas uma denominação. Alguns estimam que os adeptos representem mais de 42% da população pentecostal em geral. No entanto, a porcentagem pode ser mais elevada, pois seus ensinamentos e práticas fluem para outras igrejas pentecostais, bem como para igrejas históricas.

Após desconfiar que a maior parte dos seguidores e líderes neopentecostais compreendia pouco da mensagem evangélica de salvação (conforme revelada nas Escrituras e confirmada pelos reformadores), fiquei profundamente perturbado. Tal situação me motivou a estudar a IURD, a mais conhecida denominação neopentecostal. Desde seu início, em 1977, ela avançou para mais de 2,1 milhões de fiéis no Brasil. Sem dúvida, a influência numérica aumenta quando se incluem os milhões de visitantes das quase 5 mil igrejas afiliadas e os que acompanham seus programas de rádio e televisão. Além disso, seus líderes declaram ter espalhado sua presença em 172 países -- mais do que os alcançados pelo McDonald’s. Por essa razão, o sociólogo Paul Freston acredita que a IURD possivelmente seja a maior exportação cristã vinda de um país do terceiro mundo.

Minhas leituras do bispo Edir Macedo e as leituras de outros estudiosos confirmaram as preocupações com a IURD e outros segmentos neopentecostais. O pastor Luiz Sayão, por exemplo, observou um considerável abismo entre o que a IURD e denominações similares ensinam e o que a maioria consideraria evangélico. Observei também que a liderança da IURD promove um sistema religioso que aprisiona seus participantes em uma cosmovisão animista não-redimida e narcisista, o que é claramente proibido pelas Escrituras.

Ainda mais preocupante é o fato de a mensagem da salvação eterna ser não apenas negligenciada, mas também totalmente distorcida. As obras e os rituais organizacionais prescritos são misturados à determinação de uma pessoa quanto à salvação. Portanto, é compreensível que a maioria na IURD deixe de mencionar o nome de Jesus ao expressar a razão de sua salvação. Tal omissão revela um dilema evangélico grave, pois como uma pessoa pode ser salva sem ao menos fazer menção a Jesus?

Durante a pesquisa, me perguntei: “Existe alguém realmente salvo na IURD?”. Minha conclusão é: se existe, não é por causa da igreja, mas apesar dela.

A proliferação de tais grupos sob a bandeira evangélica tem contribuído para o que chamo de uma crise soteriológica no Brasil, imunizando muitos contra o evangelho, embora pensem ser crentes. Mesmo assim, muitos líderes evangélicos falham em excluí-los do campo evangélico. Nesse ponto, a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) tem sido um exemplo de como acessar, discernir e advertir, de maneira pastoral, seus membros. Em 2007, o Supremo Concílio produziu uma edição revisada de sua avaliação sobre a IURD e pontuou como as igrejas deveriam responder a ela e a grupos similares.
Na lista consta que as igrejas afiliadas devem explicar cuidadosamente o evangelho aos ex-participantes da IURD e rebatizá-los antes de recebê-los como membros. Além disso, os membros e pastores da IPB devem evitar a participação em eventos organizados pela IURD ou com a colaboração de seus líderes.

À luz de tais observações, como nós, crentes e igrejas evangélicas, deveríamos responder biblicamente à IURD e a grupos similares? Primeiro, seguindo o exemplo de nosso Senhor (Mt 9.36), devemos mostrar compaixão e interesse pelas pessoas enganadas que estão sob sua influência. Segundo, como líderes, devemos constantemente lembrar os membros o que está envolvido na mensagem do evangelho e da fé salvífica, bem como mostrar o que está fora do cristianismo bíblico (1Co 15.1-19; Gl 1, 2). Terceiro, devemos verbalizar com sabedoria para a sociedade brasileira o que queremos dizer ao nos declararmos evangélicos. Quarto, seguindo o exemplo dos apóstolos, devemos denunciar os falsos profetas entre nós; Jesus foi compassivo com os enganados, mas duro como os enganadores. Finalmente, devemos orar e buscar oportunidades para compartilhar, pacientemente, com as pessoas que estão sob influência desses grupos a fim de que elas vejam a graça e a salvação do Senhor por meio do evangelho de Jesus Cristo.

David Allen Bledsoe é missionário batista da International Mission Board em Belo Horizonte e coordenador do projeto e parcerias teológicas no Brasil para o Southeastern Baptist Theological Seminary. Este artigo é um resumo de sua tese de doutorado na Universidade da África do Sul, em Pretória (2010).

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