30.12.11

Sugestões para 2012!



#1
Não assuma compromissos do tipo “vou iniciar uma dieta”, “vou começar alguma atividade física”, “vou terminar o curso de inglês”. Esse tipo de coisa serve apenas para acumular culpa e frustração sobre os seus ombros.

#2
Não acredite nesse pessoal que diz que “sem meta você não vai a lugar nenhum”. Pergunte a eles por que, afinal de contas, você tem que ir a algum lugar. Trate esses “lugares futuros imaginários” apenas como referência para a maneira como você vive hoje – faça valer a caminhada: se você chegar lá, chegou, se não chegar, não terá do que se arrepender. A felicidade não é um lugar aonde se chega, mas um jeito como se vai.

#3
Não pense que você vai conseguir dar uma guinada na vida apenas mudando o seu visual. É a alegria do coração que dá beleza ao rosto, e não a beleza do rosto que dá alegria ao coração.

#4
Não faça nada que vá levar você para longe das suas amizades verdadeiras. Amizades levam um tempão para se consolidar e um tempinho para esfriar, pois assim como a proximidade gera intimidade, a distância fragiliza os vínculos.

#5
Não fique arrumando desculpas nem explicações para as suas transgressões. Quando cometer um pecado, assuma, e simplesmente diga “fiz sim, me perdoe”. Comece falando com Deus e não pare de falar até que tenha encontrado a última pessoa afetada pelo que você fez.

#6
Não faça nada que cause danos à sua consciência. Ouça todo mundo que você confia, tome as suas decisões, e assuma as responsabilidades. Não se importe em contrariar pessoas que você ama, pois as que também amam você detestariam que você fosse falso com elas ou se anulasse por causa delas.

#7
Não guarde dinheiro sem saber exatamente para que o está guardando. Dinheiro parado apodrece e faz a gente dormir mal. Transforme suas riquezas em benefícios para o maior número de pessoas. É melhor perder o dinheiro que ocupa seu coração, do que o coração que se ocupa do dinheiro.

#8
Não deixe de se olhar no espelho antes de dormir. Caso não goste do que vê, não hesite em perder a noite de sono para planejar o que vai fazer na manhã seguinte. Ao se olhar no espelho ao amanhecer, lembre que com o sol chega também a misericórdia de Deus: a oportunidade de começar tudo de novo.

#9
Não leve mágoas, ressentimentos e amarguras para o ano novo. Leve pessoas. Sendo necessário, perdoe ou peça perdão. Geralmente as duas coisas serão necessárias, pois ninguém está sempre e totalmente certo. Respeite as pessoas que não quiserem fazer a mesma viagem com você.

#10
Não deixe de se perguntar se existe um jeito diferente de viver. Não acredite facilmente que o jeito diferente de viver é necessariamente melhor do que o jeito como você está vivendo. Concentre mais energia em aprender a desfrutar o que tem do que em desejar o que não tem.

#11
Não deixe o trabalho e a religião atrapalharem sua vida. Cante sozinho. Leia poesias em voz alta. Participe de rodas de piada. Não tenha pressa de deixar a mesa após as refeições. Pegue crianças no colo. Ande sem relógio. Fuja dos beatos.

#12
Não enterre seus talentos. Nem que seu único tempo para usá-los seja da meia noite às seis. Ninguém deve passar a vida fazendo o que não gosta, se o preço é deixar de fazer o que sabe. Útil não é quem faz o que os outros acham importante que seja feito, mas quem cumpre sua vocação.

#13
Não crie caso com a mulher ou com o marido. Nem com o pai nem com a mãe. Nem com o irmão nem com a irmã. Caso eles criem com você, faça amor, não faça a guerra. O resto se resolve.

#14
Não jogue fora a utopia. Ninguém consegue viver sem acreditar que outro mundo é possível. Faça o possível e o impossível para que esse outro mundo possível se torne realidade.

#15
Não deixe a monotonia tomar conta do seu pedaço. Ninguém consegue viver sem adrenalina. Preste bastante atenção naquilo que faz você levantar da cama na segunda-feira: se for bom apenas para você, jogue fora ou livre-se disso agora mesmo. Caso não queira levantar da cama na segunda-feira, grite por socorro.

#16
Não deixe de dar bom dia para Deus. Nem boa noite. Mesmo quando o dia não tiver sido bom. Com o tempo você vai descobrir que quem anda com Deus não tem dias ruins, apenas dias difíceis.

#17
Não negligencie o quarto secreto onde você se encontra com seu eu verdadeiro e com Deus – ou vice-versa. Aquele quarto é o centro do mundo – o mundo todo cabe lá dentro, pois na presença de Deus tudo está e tudo é.

#18
Não perca Jesus de vista. Não tente fazer trilhas novas, siga nos passos dEle. O caminho nem sempre será tão confortável e a vista tão agradável, mas os companheiros de viagem são inigualáveis.

#19
Não caia na minha conversa. Aliás, não caia na conversa de ninguém. Faça sua própria lista. Escolha bem seus mestres e suas referências. Examine tudo. Ouça seu coração – geralmente é ali que Deus fala. Misture tudo e leve ao forno.

#20
Não fique esperando que sua lista saia do papel. Coloque o pé na estrada. Caso não saiba por onde começar, não tem problema. O sábio disse ao caminhante que “não há caminho, faz-se caminho ao andar”.

26.11.11

O evangelho do Gentileza

por Bráulia Ribeiro
 
“Apagaram tudo 
Pintaram tudo de cinza
Só ficou no muro 
Tristeza e tinta fresca [...]
Por isso eu pergunto 
A você no mundo 
Se é mais inteligente
O livro ou a sabedoria?”
(Marisa Monte)
 
 
À medida que o Brasil vai se tornando mais evangélico observamos as marcas culturais do evangelicalismo se misturarem à cultura popular e vice-versa. Missiólogos discutem a influência da cultura nos diversos modelos de evangelho que temos pelo mundo usando dois conceitos, contextualização e sincretismo.
 
Entende-se por contextualização a expressão do conceito novo (a revelação do evangelho) por meio de formas antigas e facilmente reconhecíveis pelo povo. O conhecido se torna a expressão do novo. Já o sincretismo trata de uma mistura promíscua, indesejada, das novas formas com conceitos antigos. É a revitalização do erro, que se veste com uma fantasia brilhante e aparentemente nova.
 
O evangelho no Brasil  (e, acredito, em muitos outros lugares) se acultura de modo contextualizado e sincrético ao mesmo tempo. Para se discernir entre pureza e corrupção o trabalho é árduo, mas a discussão destes caminhos é hoje essencial para a saúde da igreja. Apenas o Espírito Santo e a Bíblia podem nos tirar do limbo de um semievangelho, que se torna inócuo por ser equivalente.
 
Atualmente existe uma guerra entre os evangélicos no Brasil que nada tem de santa. É uma releitura cultural da velha disputa de classes. Apesar de não termos uma cultura de castas, como na Índia, nossa tradição social, baseada em origem e poder econômico, é marcada pela exclusão de grupos sociais. Nos tempos coloniais, a família, o grau de proximidade da nobreza portuguesa, a cor da pele faziam a diferença. Hoje a subcultura à qual pertencemos, a linguagem que falamos, a música que ouvimos revelam o poder socioeconômico que temos.
 
As várias versões evangélicas atendem a subgrupos culturais diferentes e fazem concessões teológicas de acordo com a necessidade de cada um deles. O evangelho intelectual das classes dominantes requer uma lógica que se conforme ao discurso pós-moderno. O Deus tribal dos hebreus se transforma em uma força de amor despersonalizada e universalizante. Seguindo o exemplo da Europa multiculturalista, o evangelho palatável à “intelligentsia” tem que relativizar verdades. Não existe adaptação sem comprometimentos. A moralidade bíblica é um peso muito grande a ser carregado. Existe uma proposta de amor no evangelho, mas se exige para esta uma síntese hegueliana. Qualquer maneira de amar vale a pena, qualquer moralidade me diverte, desde que me satisfaça.
 
O evangelho das massas populares é simples: a entidade divina se tribaliza. Como qualquer proposta animista, o Deus tribal é pesado em suas demandas tributárias, requer riquezas em profusão e obediência cega às autoridades sacerdotais. Ele tem necessidade de demonstrar seu poder em um jogo intimidatório. As bênçãos são subornos e o Deus tribal dança conforme a música do desenvolvimento econômico e distribui casas, carros zero e cargos políticos, premiando a servidão de seus fiéis.
 
Nas duas versões o evangelho de Cristo se torna “o evangelho do profeta Gentileza”. O “amor” do Cristo folclórico não é amor, é entretenimento. Ele é simplório e ridículo. Quem é mais inteligente, o homem ou a lei, o livro ou a sabedoria?  (pergunta Gentileza). O homem, a sabedoria que não está nos livros nem no Livro  (respondemos). E decidimos então apontar as torres de nossas igrejas para o centro da sociedade brasileira (o homem cordial que a todos agrada). A cultura brasílica, que não gosta de regras impostas, menospreza o Livro e reinventa em duas versões um Deus sem leis e sem moral, que se ocupa de nos servir.
 
Concordo com Marisa que a parede cinzenta é mais triste do que se permanecesse pintada com os escritos coloridos do Gentileza. Contudo, não vamos trazê-lo para as igrejas. É melhor deixá-lo nas ruas. 
 
Bráulia Ribeiro trabalhou na Amazônia durante trinta anos. Hoje mora em Kailua-Kona, no Havaí, com sua família e está envolvida em projetos internacionais de desenvolvimento na Ásia.
 
Fonte: Revista Ultimato Novembro-dezembro 2011.

13.11.11

A solução pela raiz

por Marina Silva

As circunstâncias históricas no capítulo 11 do livro do profeta Isaías mostram-nos que aquela era uma época de degradação social e espiritual; um mundo à beira do abismo em todos os aspectos. Uma árvore cortada é a imagem metafórica usada pelo profeta para expressar a desoladora devastação daquele tempo. Porém, nessa mesma árvore cortada, pela misericórdia de Deus, havia a possibilidade de prosperar um pequeno broto, originado na força de suas raízes. Era a raiz de Jessé, um menino que traria renovo para o mundo degradado.

O profeta faz uma analogia entre os processos biológicos de renovação das plantas e a oportunidade de resgate que Deus oferece à Criação como um todo.

Embora Isaías tenha vivido quase oito séculos antes de Cristo, o capítulo é oportuno também para ilustrar as consequências da queda na parte natural da Criação, igualmente carente de resgate e restauração.

Os recursos naturais do planeta já foram degradados a ponto de gerar um “déficit” quase irrecuperável. Estamos “no vermelho” em 30%, com a capacidade de reposição por meios naturais esgotada. É como se avançássemos em 30% do valor de nossos rendimentos mensais no uso do cheque especial. Essa é uma situação em que a árvore já foi cortada, o tronco está morrendo e só a misericórdia de Deus pode oferecer nova oportunidade um renovo para os seres humanos e para os processos orgânicos e mecânicos do planeta.

Lembremo-nos da exploração de petróleo sem os cuidados ambientais, no Golfo do México; dos desastres com energia nuclear em Chernobyl e no Japão; da destruição de rios, como o Tietê; da desertificação em muitas áreas, pela ausência de chuvas derivada da retirada das árvores. Pensemos na atmosfera irrespirável pelas emissões resultantes dos processos de transformação industrial. A lista é infindável e atinge a todos os sistemas existentes no planeta. Como restaurar o que destruímos? Como caminhar em direção às promessas de Isaías 11.6-9?

Responderemos a essas perguntas quando formos capazes de fazê-las sinceramente. Veremos o que é possível conseguir quando nos dispusermos ao resgate, à restauração de nossa vida espiritual de foma integral com Deus e à restauração de tudo o que ele criou, da forma como criou e da maneira como, a cada ato criativo, certificava-se de que tudo tinha ficado muito bom (Gn 1.3-31). Deus resgatou e restaurou não só no plano espiritual, mas também no campo físico (duro e extenuante), tornando-se homem, deixando a condição de Verbo glorioso e fazendo-se carne, como profetizou Isaías.

É tempo de trabalhar para reverter tanto a devastação das almas quanto a do planeta. É preciso sair do vermelho. Dispormo-nos ao trabalho, a exemplo do que fez Jesus. Uma grande oportunidade para nós não só como brasileiros, mas como cidadãos do planeta é a Rio+20 Conferência das Nações Unidas em Desenvolvimento Sustentável, que será realizada em junho de 2012. Haverá, na ocasião, a oportunidade de pensarmos e propormos soluções para os temas econômicos, sociais e de governança. Alguns deles são: como produzir respeitando os ciclos de reposição da natureza; como organizar politicamente nossa vida na casa comum que Deus nos deu; como cuidar dos órfãos e das viúvas, que na Bíblia representam todos os desvalidos. Estes são temas com potencialidade fundante de toda uma nova civilização, de acordo com o estado de coisas em plenitude que Deus reafirma como parte de sua essência em 1 Coríntios 10.26.


Marina Silva é professora de história e ex-senadora pelo PV-AC

Fonte: Revista Ultimato Setembro-Outubro de 2011.

9.11.11

Livro Livre! Esgotado


Agradecemos a todos que participarão da promoção Livro Livre! desejamos que os livros somem conteudo a experiência de cada um. Infelizmente não temos mais livros para doar  por  isto a promoção está encerrada.

Grato,

Allan

7.8.11

Ainda sem cuidar

por Marina Silva

Estamos vivendo um momento importante na história de nosso país. Uma das principais leis de nosso ordenamento jurídico, o Código Florestal, está em discussão no Congresso Nacional.

Este momento enseja a expressão de cosmovisões de todos os envolvidos no debate e é impressionante o que vem à luz. Embora esteja claro em Gênesis 2.15 que o ser humano foi autorizado a lavrar e cuidar do jardim onde foi posto, em geral só se dá ouvidos para o lavrar. É como se fosse uma herança cultural pela metade. Desenvolvemos o domínio sem o cuidado.

Na maior parte do Brasil o mesmo modelo de cultivo da terra vem sendo usado desde o descobrimento. São 500 anos de uma tecnologia muito baixa, que significa a derrubada, a queima e a exploração até que o solo se esgote. Esse modelo tem se agravado devido à contaminação das águas com agrotóxicos e às emissões de gases de efeito estufa.

A remoção de vegetação das encostas, topo de morros e margens de rios é feita sem nenhum senso de proteção. O resultado são rios assoreados, encostas que desabam sobre casas, plantações e estradas, e muitas vidas perdidas a cada ano. Além da alteração no regime das chuvas, pois as florestas têm um papel fundamental no equilíbrio climático.

O Código Florestal não diz respeito apenas às áreas rurais. Há áreas de proteção permanente (APPs) também em regiões urbanas. Ainda temos na memória as cenas de destruição e dor do deslizamento do Morro do Bumba, em Niterói, e da pousada em Angra dos Reis, ou das enchentes em São Paulo, onde as calhas dos rios imprensadas por construções em local inadequado transbordaram e trouxeram tantas perdas para quem já tem tão pouco.

Se o texto aprovado na Câmara, que seguiu para debate no Senado, ficar como está, vai permitir que toda essa situação se agrave muito. O projeto anistia quem desmatou ilegalmente as áreas de florestas que deveriam, pela sua importância ecológica para toda a sociedade, ser preservadas. Beneficia especialmente os grandes produtores, desobrigando-os da recomposição da reserva legal e da APP, e cria condições para que novos desmatamentos possam acontecer e sejam legalizados.

Com isso, todos os esforços feitos pelo poder público e pela sociedade para barrar a destruição de nossos ecossistemas naturais caem por terra. Esse retrocesso está camuflado no texto, em uma redação capciosa, de modo que somente advogados especialistas na questão ambiental conseguem compreender o verdadeiro objetivo da lei, que é isentar o setor rural e outros setores econômicos da obrigação constitucional de preservar o meio ambiente e conservar nossas florestas para as atuais e futuras gerações.

Há parlamentares que não comungam da cosmovisão cristã, no entanto orientaram seu voto pelo princípio de usar com cuidado. Causa estranheza que aqueles que creem no dever de respeitar a terra porque ela pertence a Deus -- como está escrito em Levítico 25.23 -- tenham, com poucas exceções, votado sim a esse texto, que é alinhado com os interesses de setores resistentes a entender que sem a proteção do meio ambiente não haverá futuro para o Brasil.

A Câmara dos Deputados votou essa importante lei sem a dimensão do cuidado, fazendo o país retroagir ao modelo agrícola do século 19, quando tínhamos pouca informação científica sobre o regime das águas, as necessidades do solo, a engenharia das chuvas, os efeitos dos gases poluentes no clima.

Tomara que o tempo de discussão no Senado possa recolocar nosso país no século 21 e que a voz do Senhor seja ouvida na terra.

Marina Silva é professora de história e ex-senadora pelo PV-AC.

Fonte: revista Ultimato julho-agosto de 2011.

19.7.11

O que a esperança causa em você?

O que move você?

Babel de ilusões

por Marina Silva

O mundo assiste mais uma vez a um grave acidente nuclear. As consequências não podem ainda ser mensuradas e estão longe de terminar. Desta vez a crise é nos complexos de Fukushima e Onagawa, no Japão, país que sofreu, em março deste ano, um grande terremoto e um subsequente tsunami. Não podemos, a partir de eventos como esse, deixar de aprender algumas lições.

Os riscos envolvidos no funcionamento das usinas nucleares, no armazenamento dos resíduos radioativos e as consequências da radiação para o meio ambiente e para a saúde das pessoas são desconhecidos da sociedade. Falta transparência, acesso à informação e disseminação de conhecimentos que acerca da atividade. Eisaku Sato, ex-prefeito de Fukushima, disse para um jornal francês que o grande problema da energia nuclear é a falta de controle democrático dos processos de decisão governamental. Algo que ocorre em todo o mundo, inclusive no Brasil.

Em decorrência do desastre japonês, ficamos sabendo pela imprensa que a usina de Angra 2, por exemplo, em funcionamento desde 2000, não tem licença operacional definitiva até hoje -- um documento certificando que as condições de segurança estão sendo atendidas. Descobrimos que há quatro reatores nucleares, que não são monitorados, instalados em três universidades. Por fim, que dos 470 milhões de reais destinados à manutenção das instalações das usinas de Angra 1 e 2, apenas 35% foram aplicados entre 2003 e 2010.

Sempre fui contra a produção de energia nuclear: uma tecnologia cara e altamente danosa. Até hoje não existe tratamento seguro dos resíduos nucleares, cujos efeitos contaminantes podem durar mais de cinco séculos. Uma herança maldita deixada para as futuras gerações. Em artigo recente afirmei que a questão não está só no mérito da tecnologia nuclear, mas no seu entorno, naquilo que o aprendizado das últimas décadas nos ensinou, ou seja, é mais importante o olhar abrangente, para as cadeias de causas e consequências, do que para um ponto fixo.

Diferente do Japão, o Brasil tem opções energéticas mais eficientes e limpas: energia eólica, hidráulica, solar e de biomassa. Ainda assim, setores do governo defendem a instalação de dezenas de usinas nucleares no país nos próximos 50 anos. Políticas como essa não podem passar ao largo da sociedade. Tenho defendido a realização de um plebiscito, precedido de um amplo e profundo debate, para que as pessoas sejam esclarecidas e possam decidir pela instalação ou não.

Talvez um dos grandes ensinamentos a tirar de toda essa catástrofe seja o da necessidade de nos reconectar com a nossa fragilidade, percebendo como somos dependentes de Deus, uns dos outros e da natureza. Somos seres que, não por acaso, chegamos apenas a ser potentes, cientes e presentes, e essa graça nos basta. A ilusão do controle revela o quão desmesurado é o apego à obra de nossas mãos. Pois cria em nós uma espécie de negação da realidade, num círculo vicioso que nos condena a continuar construindo nossa Babel de ilusões: onipotência, onisciência e onipresença -- e os saltos tecnológicos lhes emprestam contornos de realidade.

Que o sábio e atualíssimo ensinamento paulino em Romanos 12.2, que diz que não devemos nos conformar com este mundo, nos mova a uma renovação do sentir para melhor entender, do entender para melhor pensar, do pensar para melhor agir e do agir para melhor ser.

Vamos iniciar esse debate em nossas comunidades cristãs, em nossos locais de moradia e de trabalho, como pessoas com dupla cidadania, que desejam ardentemente que Deus reine nos céus e também aqui, sobretudo no lugar em que temos mais dificuldade de deixá-lo reinar: nas obras de nossas mãos.

Fonte: Revista Ultimato Maio-Junho de 2011.

Marina Silva é professora de história e ex-senadora pelo PV-AC.

10.7.11

Conhecendo Deus na criação

por Marina Silva

Vejo a revista Ultimato como um projeto editorial que cultiva um profundo respeito pela diversidade de visões doutrinárias que povoa o universo religioso cristão. Tal característica, que admiro, me faz sentir honrada em, daqui por diante, ocupar regularmente uma página desse veículo.

Não posso deixar de registrar também a alegria de compor um grupo de articulistas com elevada estatura intelectual, como a que aparece nas páginas de cada nova edição.

Minha contribuição à Ultimato será feita no espaço das relações do ser humano com a natureza. Uma temática que transita em contexto complexo, pois a cultura material produzida por nossa civilização, até o momento presente, vai dos artefatos da nanotecnologia às grandes hidrelétricas e plataformas de extração de petróleo. As atividades humanas vão do cultivo agrícola braçal em remotos sertões à criação de sistemas cibernéticos de comunicação de dados em escritórios sofisticados de grandes corporações em centros financeiros mundiais. E nossa produção simbólica se estende de uma simples canção de ninar a tratados de física quântica, astrofísica etc.

É um universo gigantesco resultante de um processo histórico de milênios, em que podemos observar como o ser humano se comportou em seu ambiente. Como extraiu recursos naturais, como os processou, que resíduos gerou e como lhes deu uma destinação final.

Nós, cristãos, relevante parte da população humana no planeta, temos em nosso livro sagrado toda uma orientação para nos conduzirmos, pois acreditamos que Deus deixou-nos orientações claras sobre conceitos e responsabilidades para com a terra, a casa que nos deu para morar (Sl 115.6).

A escritora cristã Landa Cope, em seu livro “Modelo Social do Antigo Testamento”, diz que podemos conhecer Deus pelas informações contidas na criação, na história e em sua Palavra. A mesma autora afirma que o mundo material é regido por Deus por meio de leis fixas.

Essas duas afirmações são base para interessantes reflexões sobre a forma como os cristãos pensam -- ou não pensam -- as questões ambientais.

A maioria de nós ainda tem dificuldade de servir, honrar e conhecer Deus na criação. No entanto, o primeiro livro da Bíblia, o livro de Gênesis, trata das origens, de como cada coisa foi criada, como tudo que antecedeu a criação do homem veio numa sequência lógica para sustentar-lhe a vida e, numa reciprocidade responsável, ser cuidado por ele.
A ideia de que o mundo material é governado por Deus ocorre pouco aos cristãos, pois não há entre nós a tradição de buscar conhecer as Leis de Deus para o mundo e muito menos de ficarmos atentos para não transgredi-las. As ciências da natureza são uma atividade secular que geralmente não chama a atenção dos cristãos, exceto se forem profissionais dessa área. Muitas vezes há até certa briga com a ciência, como se essa fosse uma atividade ateia que busca se opor ao teísmo. Como cristãos, acreditamos que a ciência descobre a engenhosa graça da inteligência de Deus e que as chamadas leis da natureza são regras que organizaram o mundo sucedâneo ao estado caótico da terra que era “sem forma e vazia” (Gn 1.2).

Convido todos os leitores para uma jornada de reflexão sobre a percepção da nossa responsabilidade como cristãos no que tange às demais formas de existência e de vida em nosso planeta.


Fonte: Revista Ultimato Março-Abril.

Marina Silva é professora de história e ex-senadora pelo PV-AC.

5.7.11

Modelos novos de #Liturgia2.0

por Marcos Botelho

Nos últimos anos vemos as coisas ao nosso redor mudarem rapidamente, muito mais rápido do que nós estávamos preparados. O que demorava décadas para mudar em uma sociedade, agora em poucos anos, tudo fica diferente.
Isso tem pegado desprevenidos muitos líderes políticos, professores, empresários e pastores, pois perceberam que o jeito que fazíamos antigamente (e dava certo), não é eficaz e eficiente para atingir o objetivo nessa geração.
Assim também aconteceu com a liturgia de nossas igrejas. Lembrando que liturgia é um ato cultural e humano, para através dela, o crente ser inserido na realidade da sua salvação.
As pessoas estão mudando, a cultura está mudando e a liturgia tem que mudar para atingir o seu objetivo.
Nos últimos 15 anos a internet tem moldado o jeito desta geração se relacionar, consumir e aprender. Nesse sentido, pensando em uma nova forma de assimilar e aprender, proponho três modelos de liturgia 2.0 possíveis:
Oval com vários focos (Altas Horas)
O exemplo deste modelo é o programa Altas Horas (antigo Programa Livre).
Uma forma de culto oval e com vários focos supre várias necessidades do processo de aprendizagem dessa geração.
O palco desce e o público sobe, e todos sentam em círculos, proporcionando um sentimento de que aprendemos uns com os outros, olhando nos olhos.
Quando estamos assistindo o programa percebemos que não são os cenários que estão atrás do apresentador ou do entrevistado, e sim a plateia. Nós olhamos para eles e eles estão “olhando” para nós, criando um ambiente de construção coletiva, onde todos podem dar sua opinião, pois perguntas e opiniões são abertas ao público.
Apesar de toda a programação ser baseada em um tema, temos vários entrevistados, diversidade de música e músicos e um dinamismo impressionante onde ninguém fica com o foco (olhar) voltado para o mesmo lugar por mais de 5 minutos, pois de qualquer lugar do ambiente pode estar vindo a próxima atração.
Este formato é dinâmico, interativo, formado no coletivo, e eclético de opiniões.
Os cuidados que os líderes devem ter: dominar o tema que será exposto, pois virão opiniões de todas as perspectivas e, também saber colocar o ensino da bíblia com autoridade, acima das opiniões sem desvalorizá-las.
Informativo e Pessoal (Glocal Mídia)
Um modelo onde a mídia é mais valorizada que nos outros, onde todos tenham uma boa visão de telões gigantes e as cadeiras são móveis (como as de plástico que usamos hoje).
Nesse formato o pregador não tem mais a função de gerar conteúdo, esta função é repassada para os vídeos.
Com isso em cada reunião a igreja poderá ouvir palestras, em 15 minutos, de âmbito global: pregadores do mundo todo (de um bom pregador brasileiro até John Stott legendado), um especialista (um psicólogo, sociólogo, cientista), algo histórico (último discurso de Luther King ou de um pregador que já morreu) e até a opinião de alguém famoso (Bono Vox, Obama, etc.).
Todos estes vídeos são selecionados com antecedência por um colegiado que está pensando na mensagem bíblica que quer passar para a igreja.
Quando o vídeo é de outro pregador, o pregador local tem a função de aplicar a mensagem para os membros da igreja local, mas quando o vídeo é só informativo ele tem a função de expor o que a bíblia fala sobre o assunto e aplicar logo depois.
Lembrando que os vídeos não são pequenos exemplos para apoiar o pregador ou introduzir o assunto. Eles são o assunto (a tese) e o pregador é quem vai dar a opinião bíblica e aplicar em 15 minutos.
No final da mensagem todos podem virar suas cadeiras em pequenos grupos, conversar e orar sobre o assunto.
Este formato destaca um conteúdo global, com aplicações bíblicas e claras para o dia-a-dia e os relacionamentos.
Os cuidados que os líderes devem ter são: não querer gerar mais informação na hora de aplicar, pois esta é a função dos vídeos. Deve tomar cuidado com o tempo, pois o vídeo e a aplicação não devem ultrapassar 30 minutos.
Aplicação em mesa (Lausanne 3)
Neste modelo teremos um palco com várias atividades como louvor, peças, danças, vídeos, testemunhos e pregação.
A grande diferença é que todos estão sentados em mesas e após cada apresentação é dado o mesmo tempo para discutir o que foi visto e o que isso tem a ver com o dia-a-dia de cada um.
Este modelo consegue manter o formato de culto que estamos acostumados, mas a aplicabilidade e os relacionamentos são muito mais fortes, pois as pessoas estão em volta de uma mesa. Teve que alterar também as apresentações, para serem menores e mais precisas.
Foi exatamente assim o congresso mundial de missões em 2010 (Lausanne 3). Colocaram 4.000 pessoas sentadas em mesas, onde os melhores pregadores do mundo dividiram seu tempo com peças, danças, vídeos e músicas.
Os cuidados que os líderes devem ter são: integrar todos os ministérios para que falem a mesma mensagem,  disciplina para serem curtos e profundos, trabalhar para suavizar as transições constantes entre palco e mesa.
Conclusão
Como foi exposto, estes são apenas possíveis modelos, e se você perceber que  mesclá-los será mais útil para o propósito da sua liturgia, em sua cultura local, você tem a obrigação de fazê-lo.

3.7.11

O suicídio ecológico contemporâneo

por René Padilla

Deus deu ao ser humano a vocação de exercer domínio sobre a terra. Dessa forma, o Criador do universo quis compartilhar sua soberania com criaturas que são sua imagem e semelhança: feitas do pó da terra, mas chamadas a administrar a terra como mordomos da criação de Deus, em liberdade e obediência.

A terrível crise ecológica que hoje afeta nosso planeta mostra até que ponto a humanidade abusou da autoridade que Deus lhe delegou sobre a criação. Em 1931, o filósofo inglês Bertrand Russell escreveu: “Para o homem moderno, o meio ambiente físico é meramente matéria-prima, uma oportunidade para a manipulação. É possível que Deus tenha feito o mundo, mas isso não é razão para nos abstermos de restaurá-lo”. Desde então, as consequências negativas do uso irresponsável dos recursos naturais aumentou de tal maneira que não é exagero afirmar que estamos avançando rumo a um suicídio global.

Uma manifestação da gravidade do atual problema ecológico é a mudança climática que o mundo todo está vivenciando. Segundo o relatório AR4, publicado em 29 de junho de 2007 pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), estabelecido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio-ambiente (PNUMA) e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), “O aquecimento do sistema climático é inequívoco, como é agora evidente pelas observações do aumento das temperaturas médias do ar e do oceano, de derretimento generalizado de neve e gelo, e de uma elevação do nível do mar”. Os dez anos mais quentes registrados desde 1990 ocorreram a partir de 1997, e calcula-se que, no mundo todo, aproximadamente 150 mil pessoas morrem a cada ano por causa do impacto do aquecimento climático na saúde humana. Segundo o Greenpeace, a extensão mundial de terras afetadas pela seca no mundo duplicou entre 1970 e o início da década de 2000.

Os relatórios especializados explicam cientificamente as notícias que escutamos com frequência ou aquilo que vivenciamos por causa dos desastres naturais causados pelo aquecimento climático. Tempestades, inundações e secas terríveis, ondas intensas de calor e frio são comuns no mundo todo. Os efeitos da mudança climática nos últimos anos foram devastadores.

Segundo o relatório do IPCC, esse aquecimento provavelmente é causado pela produção de gases como o dióxido de carbono, produzidos por certas atividades humanas. Embora os países ricos sejam especialmente responsáveis por essa produção, a situação se complica mais com o aumento da emissão de gases nos países em desenvolvimento, como China, Índia e Brasil, onde a emissão duplicou nos últimos vinte anos.

Em última instância, o devastador fenômeno da mudança climática resulta do que o sociólogo Leslie Sklair denomina “a cultura-ideologia do consumismo”, que está no centro do atual sistema econômico global e de sua obsessão com o crescimento econômico. A ditadura do consumismo estabelece que o sentido da vida depende da posse pessoal de produtos tecnológicos que supostamente melhoram o nível de vida. O duplo desafio que essa sociedade consumista apresenta aos cristãos é, em primeiro lugar, dar ouvido à palavra de Jesus: “A vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui” (Lc 12.15). Em segundo lugar, recuperar a prática da mordomia da criação estabelecida por Deus no princípio.

Traduzido por Wagner Guimarães

Fonte: Revista Ultimato Janeiro - Fevereiro de 2011.

27.6.11

Um cafézinho pode mudar a vida de uma criança . . .

Mordomia responsável

por René Padilla

Nós, evangélicos em geral, não temos dado ao tema do meio ambiente a devida atenção. É urgente abordá-lo sob uma perspectiva bíblica e voltada para o cumprimento da missão a que Deus nos chamou como mordomos de sua criação em um mundo onde reinam dois males intimamente ligados entre si: o abuso dos recursos da criação e a injustiça social.

A afirmação com que a Bíblia se inicia não dá lugar a dúvidas: “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Na terra que surge do nada pelo poder de sua Palavra, Deus cria, em primeiro lugar, o cenário para a vida humana. Depois, sobre este cenário, coloca o homem e a mulher, criados à sua imagem e semelhança, e lhes comissiona o mandato cultural: “Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a” (Gn 1.28a).

Como no caso da existência de Deus, a revelação bíblica considera indiscutível o fato de que Deus delegou aos seres humanos um papel único na criação. O texto mostra claramente que a criação da humanidade é um ato singular que se distingue de todos os demais atos da criação de Deus. Com efeito, no grande poema de Gênesis 1, a humanidade é a coroação de toda a obra criadora de Deus. Esta conclusão é reforçada pela referência à humanidade como “imagem e semelhança de Deus”. O que significa isto? Em que sentido se pode dizer que a humanidade se parece com Deus?

A variedade de interpretações que se tem sugerido não deixa espaço para o dogmatismo sobre o tema, mas parece que a interpretação mais apropriada é a que leva em conta o significado das imagens em tempos antigos no Oriente Médio. De acordo com a ideologia real, aceita amplamente nessa região geográfica e especialmente no Egito, o rei era considerado como a imagem de Deus: representava a Deus diante de seus súditos. Ao mesmo tempo, a imagem do rei o representava perante seus súditos em territórios conquistados. Aparentemente, estas ideias proveem uma boa base histórica para se pensar que a referência à humanidade como a imagem de Deus significa que a humanidade representa a Deus e foi revestida com sua autoridade na criação. Esse é o fundamento da dignidade de ‘todo’ ser humano, sem exceção.

Esta interpretação se ajusta muito bem à tarefa específica que Deus confia à humanidade segundo Gênesis 1.28. À humanidade, por ser a imagem de Deus -- e a sua representante na criação --, é delegada a autoridade de Deus: o poder de procriar e de submeter a terra. Além da procriação, a vocação humana fundamental é o controle da ordem do que foi criado em cumprimento ao “mandato cultural” -- cumprimento por meio do qual a humanidade manifesta que é a imagem de Deus na criação. Esta é a base da mordomia responsável no uso e cuidado dos recursos naturais e também para o desenvolvimento científico e tecnológico, não em função do crescimento econômico, mas sim como o meio de cumprir o propósito de Deus para sua criação e, assim, dar glória ao Criador.

Há quem afirme que a origem da situação atual, marcada por uma profunda crise ecológica, está na tradição judaico-cristã, segundo a qual Deus destinou ao ser humano a tarefa de submeter a terra. A exploração destrutiva da natureza, se diz, é o resultado da arrogância humana com respeito à natureza. No entanto, não há nada na tradição judaico-cristã que sugira que o domínio que a humanidade é chamada a exercer sobre a terra tem de ser exercido independente de Deus e da criação, como se a humanidade fosse dona, e não apenas um mordomo da criação. Ao contrário, a raça humana é concebida como feita do “pó da terra”, formada por criaturas terrestres que dependem do fruto da terra para sua manutenção (Gn 1.29-30) e em total dependência do Deus de quem procede a vida (ver Gn 2.7).

Em síntese, Deus, o Criador do universo, escolheu compartilhar sua soberania com criaturas que são sua imagem e semelhança, mas foram feitas do pó da terra e têm a vocação de reger sobre a terra como colaboradores de Deus em liberdade e obediência. A recuperação dessa vocação é um aspecto essencial de nossa missão no mundo.

Na próxima edição, exploraremos o que isto significa em relação à crise ecológica atual, que se manifesta no aquecimento global.

Traduzido por Wagner Guimarães.

Fonte: Revista Ultimato Novembro - Dezembro de 2010.

Emprego de A a Z: Fofoca no Trabalho

Criação, salvação e o futuro do cosmos

por Carlos Caldas

Tradicionalmente, a teologia sistemática divide as matérias do seu conteúdo em unidades estanques. Tal divisão é feita com uma intenção didática, que pode ser boa. Na prática, porém, há alguns problemas. Um deles tem a ver com o uso que se faz da Bíblia. Ao se separar um capítulo, procura-se ajuntar os textos que falam sobre aquele tema. Só que os autores bíblicos não tinham essa preocupação. Em vez disso, escreviam com uma liberdade impressionante, e não raro combinavam temas que, séculos mais tarde, foram separados por teólogos no esforço de sistematizar o ensino bíblico.

Um exemplo é o que a Bíblia fala sobre a criação, a salvação e a escatologia. Ela não trata de tais temas isoladamente. Na tradição evangélica, o tema da criação, por exemplo, tem sido abordado apenas na perspectiva de uma discussão apologética antievolucionista. Se isso acontece, perde-se muita coisa. Biblicamente, a criação é a base da salvação. O problema é que, com séculos de influência platônica, muitos cristãos pensam que a salvação é só da “alma”, enquanto a Bíblia aponta para uma salvação integral.

O texto de 1 Pedro 1.9 traz a expressão “salvação da alma”, tanto nas versões protestantes como nas católicas. É uma pena que quase todas as editoras bíblicas tenham optado por traduzir o grego “psychon” por “almas”, que dá a ideia de uma substância imaterial separada do corpo. A melhor tradução seria “vidas”, isto é, a totalidade da existência, o que inclui o corpo e tudo que faz com que o ser humano seja humano. Em Romanos 8.19-24, Paulo fala da expectativa quanto à plenitude da salvação, esperança compartilhada pelos seres humanos e pela própria natureza. Pedro (2Pe 3.13) fala do futuro do cosmos em termos de “novos céus e nova terra”, linguagem extraída de Isaías 65.17. E Apocalipse também fala de “novo céu e nova terra”, lugar da habitação de Deus com seu povo. É surpreendente que, nos capítulos finais da revelação de Deus, não se fala de “almas” que sobem para um “céu”, mas da nova Jerusalém que desce do céu à terra. Será a concretização da salvação. “Creio na ressurreição do corpo” é preciso resgatar a linguagem do Credo Apostólico. É oportuno lembrar a expressão que já se tornou clássica em estudos teológicos, criada pelo teólogo alemão Pannenberg: a ressurreição de Jesus é um evento proléptico, isto é, que antecipa o futuro. Se quisermos saber como será o amanhã, basta olhar para o ontem: ontem Jesus ressuscitou; amanhã ressuscitaremos. E em totalidade, corpo e alma, junto com a criação, serviremos ao Senhor.
 
O pensamento bíblico unifica o passado (a criação), o presente (a salvação) e o futuro (a renovação da criação). As implicações para a missão da igreja são várias: se o futuro do cosmos é a renovação da criação, a igreja deve anunciar essa esperança em Jesus Cristo e se envolver em ações de cura de um mundo doente e em ações que promovam a justiça. O texto de 2 Pedro 3.13 faz ecoar duas passagens que falam da vinda do Deus que faz justiça (Sl 96.10-13; Sl 98.4-9). Não é coincidência que, quando os textos bíblicos anunciam a esperança na vinda do Deus que faz justiça, o mar, os rios e as árvores sejam convocados para louvá-lo.

A esperança cristã é otimista Deus vai fazer justiça na terra e vai restaurar a criação. A igreja em missão deve agir nessa direção.
Fonte: Revista Ultimato de julho-agosto de 2010.

Carlos Caldas é professor na Escola Superior de Teologia e no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.

9.6.11

Dez anos por um consumo mais sustentavel

Por Vinicius Neder

O Instituto Akatu completa em 2011 dez anos de atuação em prol da mobilização pelo consumo consciente. Ao longo da primeira década de vida, a entidade calcula que suas campanhas e ações já atingiram 60 milhões de brasileiros, “conscientizados ou mobilizados, com maior ou menor intensidade”.
Ainda neste semestre, o Akatu lançará uma campanha nacional de comunicação para celebrar o aniversário e, principalmente, propor uma agenda de trabalho para a próxima década. “É importante olhar para aquilo que foi feito, mas temos que olhar para frente, para os desafios que a gente tem, que são muitos”, afirma o diretor-executivo do Akatu, Eduardo Schubert, na entrevista abaixo.

O Instituto Akatu completa 10 anos em 2011. O que mudou em termos de consumo consciente no Brasil nesse período?
Eduardo Schubert – Mudou muita coisa. Há dez anos, a expressão consumo consciente sequer existia, o tema não era debatido. Hoje, isso está absolutamente comum: se debate, se conversa, outras entidades incorporaram isso nas suas ações, as empresas começaram a se envolver com o tema e o consumidor, gradativamente, vem aprendendo a praticar isso no dia a dia. A grande diferença é esta: saímos de uma situação em que o tema não era debatido, não estava na agenda, e hoje, certamente, ele está.

É possível medir o aprendizado do consumidor?
Eduardo – Existem vários indicativos de que isso tem avançado na agenda. Há desde indicativos mais midiáticos a coisas mais científicas. Por exemplo, a questão das sacolas plásticas nos supermercados não era sequer debatida há dez anos. Hoje, há um crescente número de consumidores espontaneamente trocando as sacolas plásticas dos supermercados por caixas de papelão e outras alternativas. Obviamente, tem havido campanhas de propaganda. Inclusive o Akatu esteve envolvido na campanha “Saco é um saco”, patrocinada pelo Ministério do Meio Ambiente. Em seguida, cadeias de supermercado adotaram a campanha e, mais recentemente, alguns municípios estão legislando nesse sentido. Mas o consumidor avançou muito nessa agenda. Além disso, toda a questão de reciclagem avançou muito. Então, há elementos do dia a dia que falam mais do que estatísticas.

Passada a inclusão na agenda, qual a melhor forma de traduzir a ideia de consumo consciente para a prática do consumidor?
Eduardo – O ato de consumo no ponto de venda equivale a um voto. Assim como, do ponto de vista social e político, o voto emite opinião sobre determinados assuntos ou candidatos, há uma força muito grande quando, no ponto de venda, escolhem-se a marca A ou a marca B ou deixa-se de consumir alguma coisa. Pode-se questionar: “individualmente, quem sou eu?” Mas é da somatória de pequenos atos individuais que vem a fortaleza desse movimento. Seja porque pequenos atos são repetidos cotidianamente durante a vida útil de um consumidor, seja porque o ato individual, pequeno, passa a ser muito grande no coletivo. E depois, quando alguém demonstra seu ato, outro se inspira e acaba reproduzindo.

Como o consumo consciente pode ser disseminado?
Eduardo – A educação é fundamental. Temos feito ao longo desse tempo todo muito trabalho de educação, com a criança, com o jovem, procurando formar uma nova geração de consumidores com consciência crítica em relação ao consumo. Quando a gente discute o que está por trás do consumo consciente, em hipótese nenhuma é o não consumo. É sim consumir de forma diferente. Sair do físico para o virtual, do desperdício para a reciclagem, da posse exclusiva para a posse compartilhada. É uma série de atitudes que transformam a maneira de consumir, continuam satisfazendo as necessidades, mas com impacto muito menor no planeta. Trata-se de adequar o consumo dos indivíduos à capacidade que o planeta tem de prover recursos naturais que são finitos, gerando resíduos que possam, por sua vez, ser absorvidos pelo planeta.

O fato de o Brasil ter indicadores ruins em educação aumenta o desafio?
Eduardo – Sem dúvida, é um desafio enorme. Temos diante de nós uma tarefa bastante ambiciosa, seja porque estamos mexendo com coisas que são centrais na vida das pessoas, seja por causa desse ponto da educação. A questão da base educacional, não só aqui, mas em outros países também, faz uma diferença muito grande.

Pesquisa sobre percepção do consumidor, lançada em 2010.

Isso é importante para não deixar a prática do consumo consciente restrita a uma elite?
Eduardo – Sem dúvida. A elite, por definição, é uma pequena parcela. Pode ser formadora de opinião, mas é uma pequena parcela. Hoje, no Brasil, na China, na Índia, ocorre a incorporação de contingentes enormes no mercado de consumo. Essas pessoas chegam buscando uma satisfação de carências acumuladas durante gerações, sem grande preocupação com essa questão. E isso precisa ser enfrentado. Hoje, no mundo, já se consome 50% mais do que a Terra tem capacidade de regenerar. Estamos consumindo um planeta e meio. Mas é preciso considerar que somente 25% da população mundial consome acima das suas necessidades básicas. Veja como essa conta é terrível: incluir mais gente num padrão mínimo de consumo tem um impacto terrível no planeta. Trata-se realmente de buscar outra forma de consumo, que privilegie o compartilhamento ou outras estratégias, porque no atual modelo a equação não fecha.

Como lidar com essa incorporação de contingentes populacionais no mercado de consumo?
Eduardo – O desafio é maior. São pessoas que acabaram de ingressar no mercado de consumo, trazem carências acumuladas e querem descontar o tempo perdido. A tarefa é de comunicação e de educação. O segundo aspecto, a educação, é uma ação de mais longo prazo e toma tempo. Você pode até mais rapidamente fazer com que as pessoas reconheçam a existência do problema, racionalmente. Mas, na hora do comportamento, é mais difícil fazer com que elas mudem. Então, toda a ação do Akatu está mais voltada para mobilizar contingentes maiores, usando pedagogias e formas que facilitem essa compreensão no cotidiano. É preciso tirar essa problemática do cérebro, do racional, e trazê-la para o coração, para o sentimento.

Há níveis distintos de atuação, de acordo com o público-alvo?
Eduardo – Claro, é preciso adequar toda a comunicação nas ações. Inclusive, regionalmente isso faz diferença. O Brasil tem diferenças regionais importantes.

A Conferência Rio+20 é uma oportunidade para fortalecer o consumo consciente na agenda global?
Eduardo – A questão do consumo consciente está central. Ela já foi central nos debates do Fórum Econômico Mundial, em Davos, este ano. Muito se tem falado, há mais tempo, da produção sustentável, no lado da oferta. Hoje, se fala também da demanda. Não há como você ter um lado se não tiver o outro. Oferta e demanda andam juntas. Então, nas proposições e nas discussões prévias para a Rio+20, a questão do consumo consciente é central. O papel das empresas e do governo como educadores para esse novo tipo de consumo é fundamental.

Que ações marcarão os dez anos do Instituo Akatu?
Eduardo – Vamos lançar uma campanha celebrando os dez anos e, principalmente, renovando o nosso desafio para os próximos dez anos. É importante olhar para aquilo que foi feito, mas temos que olhar para frente, para os desafios que a gente tem, que são muitos, e propor uma nova agenda de trabalho para a próxima década.

6.6.11

No meio do jardim e da cidade, o meio ambiente

por Fernando Oliveira   


"Se toda a poesia numa palavra
Eu ficaria com Jardim".
Gerson Borges

Há muitos anos, quando Jacques Cousteau revelava imagens da vida marinha, ao mesmo tempo em que mostrava preocupação com a manutenção do equilíbrio da ecologia e com a preservação das espécies, ambientalismo e ecologia eram assuntos para poucos. Parece que a ficha começa a cair cada vez mais para a maioria das pessoas. Ter consciência ecológica e cuidado com o planeta significa atentar-se para a própria casa. Aliás, a expressão eco, tão presente hoje em dia, vem do grego e significa “casa”.
 
A Bíblia começa num jardim e termina numa cidade. Há o jardim do Éden em Gênesis e há a Nova Jerusalém em Apocalipse. Ambos jardim e cidade santa não têm santuário, pois Deus mesmo é o seu santuário e em ambos a vida se dá em sua presença de forma ininterrupta, plena e sem obstáculos. Vivemos entre o jardim que passou e a cidade celestial que virá. Perdemos o jardim e dele sentimos saudade; moramos na cidade e vemos com esperança a Nova Jerusalém. Até a árvore da vida está lá. O jardim foi feito por Deus e lá ele colocou o homem, criado conforme sua imagem e semelhança, para com ele se relacionar e cuidar da criação. A Nova Jerusalém desce do céu, da parte de Deus, para se instalar entre os homens.

 
Se o jardim é criação das mãos bondosas de Deus, a cidade é realização das mãos ensanguentadas de Caim, que edificou a primeira, para nela habitar, depois de ter matado o irmão, Abel, e se retirado da presença do Senhor. Porém, o grande construtor de cidades foi Ninrode, neto de Cam, que era filho de Noé. É o primeiro homem descrito na Bíblia como poderoso e caçador. Edificou várias cidades, entre elas Babel e Nínive, cidades emblemáticas na história bíblica.

 
No livro “The Meaning of the City”, Jacques Ellul vê na edificação da cidade um ato de rejeição da proteção de Deus, pois quando o homem a edifica ele rejeita a criação de Deus, opondo-se ao jardim. Segundo Ellul, em sua origem a cidade é lugar da autoproteção do homem e ao mesmo tempo uma tentativa de fugir da maldição de Deus. Por isso, ela é resultado da alienação de Deus, e também elemento alienante para o homem do resto da criação. O homem refugiou-se na cidade para não ter de dizer: “O Senhor é a minha rocha, a minha cidadela” (Sl 18.2). Na cidade o homem enganosamente pensou que não precisava mais do jardim.

 
A Nova Jerusalém é fruto da graça de Deus que trouxe redenção ao homem e a tantas das suas realizações. É fruto final da busca amorosa de Deus pelas cidades. É o caso de Nínive, Jerusalém, Samaria. Assim, a Nova Jerusalém é habitação eterna do Criador com sua criatura, a união dos propósitos divinos que santificam os projetos humanos por meio do Cordeiro. É cidade com alma de jardim.

 
A redenção de Jesus Cristo abrange toda a criação. Paulo deixa isso claro em Romanos 8.19-22. Ser discípulo de Jesus não é só voltar à comunhão com Deus perdida no jardim -- é encher-se de esperança pela realização da cidade santa trabalhando hoje para que o jardim brote novamente no meio da cidade. Isso é dar o devido valor e dignidade àquilo que Deus criou. É ter a mente de um cidadão e o coração de um jardineiro.

 
Fonte: Revista Ultimato de maio-junho de 2010.


Fernando Oliveira mora em São Paulo, é pastor da Igreja Nova Aliança há vinte anos e apresenta o programa “Papo na Rede”, no portal www.koinoniaonline.com.br. fco@osite.com.br

Emprego de A a Z: Patrão ou Empregado

O Filho do Homem na COP 15

por Victor e Mônica Duck

Durante a Conferência do Clima de Copenhague, em meio a participantes ilustres, um repórter teve sua atenção voltada para um homem. Ele estivera presente o tempo todo, parecia conhecer todos, mas ninguém perguntara sua opinião. O repórter decidiu entrevistá-lo. Sua identificação não tinha nacionalidade; seu nome, um tanto estranho: Filho do Homem.
Qual é a sua expectativa a longo prazo quanto à preservação do meio ambiente?
Bem, longo prazo depende do ponto de vista. Mas, pensando no meio ambiente do qual você está falando, quero fazer duas citações da Bíblia: “Naquele dia os céus serão desfeitos pelo fogo, e os elementos se derreterão pelo calor. Todavia, de acordo com a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, onde habita a justiça” (2Pe 3.12b-13); “Então vi ‘novos’ céus e ‘nova’ terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham passado; e o mar já não existia” (Ap 21.1). Este novo “meio ambiente” não se pode nem comparar com o que você conhece.
Se entendi bem, na sua opinião, o que se espera é algo novo. Então, qual é o sentido de toda essa discussão sobre produção de energia limpa, responsabilidade ambiental e a própria contribuição individual de cada pessoa?
O sentido está na motivação das pessoas. O salmista diz o seguinte: “Louvem o Senhor, vocês que estão na terra, serpentes marinhas e todas as profundezas, relâmpagos e granizo, neve e neblina, vendavais que cumprem o que ele determina, todas as montanhas e colinas, árvores frutíferas e todos os cedros, todos os animais selvagens e os rebanhos domésticos, todos os demais seres vivos e as aves, reis da terra e todas as nações, todos os governadores e juízes da terra, moços e moças, velhos e crianças. Louvem todos o nome do Senhor” (Sl 148.7-13). As conversas da COP-15 têm esta motivação?
Então quais são as suas sugestões práticas?
Algum tempo atrás, certo casal ouviu o seguinte: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra” (Gn 1.28). Encher, subjugar e dominar não significa destruir nem explorar. Pelo contrário, é “ser mordomo”, é “cuidar”, é “preservar”. “O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para ‘cuidar’ dele e ‘cultivá-lo’” (Gn 2.15).
Parece-me que isso foi há muito tempo. Vivemos situações novas, como, por exemplo, a grande quantidade de poluentes eliminados em função do desenvolvimento. Neste sentido, como podemos saber se estamos cuidando ou destruindo?
Novamente: o que define é a motivação. “Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros ‘superiores’ a si mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos ‘outros’” (Fp 2.3-4).
Isso quer dizer que para se chegar a um acordo o presidente de um país teria mesmo de levar em consideração os interesses dos outros países, considerando-os superiores?
Sim, essa é a solução. Preciso ir, mas antes gostaria de abordar mais um aspecto. Algum tempo atrás, o Criador do meio ambiente falou o seguinte para o grande governante Salomão: “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar e orar, buscar a minha face e se afastar dos seus maus caminhos, dos céus o ouvirei, perdoarei o seu pecado e curarei a sua terra” (2Cr 7.14). Essa oferta ainda é válida.

Fonte: Revista Ultimato de março-abril de 2010.
• Victor e Mônica Duck são casados e missionários em Asas de Socorro, em Manaus, AM. Ele é mecânico aeronáutico e ela, bióloga.

20.5.11

Dez anos da política nacional de educação ambiental: E as igrejas, onde estão?

por Gínia Bontempo

Em dezembro de 2009 aconteceu em Copenhague, na Dinamarca, mais uma reunião de lideranças mundiais para discutir alternativas de combate às mudanças climáticas. Estamos diante de uma crise em que a sobrevivência está vinculada à sustentabilidade. E a educação ambiental é uma das possíveis estratégias para o enfrentamento dessa crise.
 
Há dez anos, foi sancionada a Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, que dispõe sobre a educação ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA). É uma grande conquista; poucos países têm uma política semelhante. Porém, há incompreensão e desinformação a respeito da lei. Muitos a entendem como uma “metodologia educacional”. Na verdade, trata-se de um processo político, de caráter crítico, participativo, emancipatório e transformador.
 
A PNEA define educação ambiental como “processos por meio dos quais o “indivíduo e a coletividade constroem valores sociais”, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do “meio ambiente”, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”. A educação ambiental “é um componente “essencial e permanente” da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, “em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal”.
 
Os trechos destacados indicam o potencial que as igrejas têm para atuar como instrumentos da educação ambiental. Nelas existe o indivíduo e a coletividade, além de um processo contínuo de construção de valores. E mais, valores deixados pelo próprio Jesus Cristo: amor, justiça, igualdade, simplicidade. Para os cristãos, o meio ambiente não é apenas um “bem de uso comum do povo”. É também a obra criativa e perfeita do Deus Trino, que nos chamou para desfrutar dos recursos, juntamente com os demais seres vivos, mas também para cuidar de toda a criação.
 
Outra característica importante da igreja é a forma como ela se organiza e reúne seus congregados. São encontros semanais em realidades concretas, com diferentes faixas etárias, classes sociais e gêneros. Isso contribui para que os processos educacionais tenham o caráter permanente e contínuo.
 
Contudo, o que de fato as igrejas têm feito em relação ao cuidado da criação? Têm provocado mudanças concretas no local onde estão inseridas? Algumas experiências já são conhecidas. É o caso da Igreja Metodista Livre do bairro Saúde, em São Paulo, que vem executando o Projeto Reação, e das igrejas evangélicas de Rondon do Pará, PA, que se envolveram na construção da Agenda 21 do município.
 
Cabe a nós participar de ações socioambientais, seja no bairro, no trabalho, na igreja, na associação ou no clube. Não há dúvida sobre a urgência da atuação dos cristãos e cidadãos brasileiros nas questões socioambientais, tenham eles 8 ou 80 anos! Se você ainda não participa de uma ação desse gênero, que tal se envolver a partir deste novo ano?


Fonte: Revista Ultimato de janeiro-fevereiro de 2010.


• Gínia Bontempo é bióloga, educadora ambiental e colaboradora d’A Rocha Brasil.