27.6.11

Um cafézinho pode mudar a vida de uma criança . . .

Mordomia responsável

por René Padilla

Nós, evangélicos em geral, não temos dado ao tema do meio ambiente a devida atenção. É urgente abordá-lo sob uma perspectiva bíblica e voltada para o cumprimento da missão a que Deus nos chamou como mordomos de sua criação em um mundo onde reinam dois males intimamente ligados entre si: o abuso dos recursos da criação e a injustiça social.

A afirmação com que a Bíblia se inicia não dá lugar a dúvidas: “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Na terra que surge do nada pelo poder de sua Palavra, Deus cria, em primeiro lugar, o cenário para a vida humana. Depois, sobre este cenário, coloca o homem e a mulher, criados à sua imagem e semelhança, e lhes comissiona o mandato cultural: “Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a” (Gn 1.28a).

Como no caso da existência de Deus, a revelação bíblica considera indiscutível o fato de que Deus delegou aos seres humanos um papel único na criação. O texto mostra claramente que a criação da humanidade é um ato singular que se distingue de todos os demais atos da criação de Deus. Com efeito, no grande poema de Gênesis 1, a humanidade é a coroação de toda a obra criadora de Deus. Esta conclusão é reforçada pela referência à humanidade como “imagem e semelhança de Deus”. O que significa isto? Em que sentido se pode dizer que a humanidade se parece com Deus?

A variedade de interpretações que se tem sugerido não deixa espaço para o dogmatismo sobre o tema, mas parece que a interpretação mais apropriada é a que leva em conta o significado das imagens em tempos antigos no Oriente Médio. De acordo com a ideologia real, aceita amplamente nessa região geográfica e especialmente no Egito, o rei era considerado como a imagem de Deus: representava a Deus diante de seus súditos. Ao mesmo tempo, a imagem do rei o representava perante seus súditos em territórios conquistados. Aparentemente, estas ideias proveem uma boa base histórica para se pensar que a referência à humanidade como a imagem de Deus significa que a humanidade representa a Deus e foi revestida com sua autoridade na criação. Esse é o fundamento da dignidade de ‘todo’ ser humano, sem exceção.

Esta interpretação se ajusta muito bem à tarefa específica que Deus confia à humanidade segundo Gênesis 1.28. À humanidade, por ser a imagem de Deus -- e a sua representante na criação --, é delegada a autoridade de Deus: o poder de procriar e de submeter a terra. Além da procriação, a vocação humana fundamental é o controle da ordem do que foi criado em cumprimento ao “mandato cultural” -- cumprimento por meio do qual a humanidade manifesta que é a imagem de Deus na criação. Esta é a base da mordomia responsável no uso e cuidado dos recursos naturais e também para o desenvolvimento científico e tecnológico, não em função do crescimento econômico, mas sim como o meio de cumprir o propósito de Deus para sua criação e, assim, dar glória ao Criador.

Há quem afirme que a origem da situação atual, marcada por uma profunda crise ecológica, está na tradição judaico-cristã, segundo a qual Deus destinou ao ser humano a tarefa de submeter a terra. A exploração destrutiva da natureza, se diz, é o resultado da arrogância humana com respeito à natureza. No entanto, não há nada na tradição judaico-cristã que sugira que o domínio que a humanidade é chamada a exercer sobre a terra tem de ser exercido independente de Deus e da criação, como se a humanidade fosse dona, e não apenas um mordomo da criação. Ao contrário, a raça humana é concebida como feita do “pó da terra”, formada por criaturas terrestres que dependem do fruto da terra para sua manutenção (Gn 1.29-30) e em total dependência do Deus de quem procede a vida (ver Gn 2.7).

Em síntese, Deus, o Criador do universo, escolheu compartilhar sua soberania com criaturas que são sua imagem e semelhança, mas foram feitas do pó da terra e têm a vocação de reger sobre a terra como colaboradores de Deus em liberdade e obediência. A recuperação dessa vocação é um aspecto essencial de nossa missão no mundo.

Na próxima edição, exploraremos o que isto significa em relação à crise ecológica atual, que se manifesta no aquecimento global.

Traduzido por Wagner Guimarães.

Fonte: Revista Ultimato Novembro - Dezembro de 2010.

Emprego de A a Z: Fofoca no Trabalho

Criação, salvação e o futuro do cosmos

por Carlos Caldas

Tradicionalmente, a teologia sistemática divide as matérias do seu conteúdo em unidades estanques. Tal divisão é feita com uma intenção didática, que pode ser boa. Na prática, porém, há alguns problemas. Um deles tem a ver com o uso que se faz da Bíblia. Ao se separar um capítulo, procura-se ajuntar os textos que falam sobre aquele tema. Só que os autores bíblicos não tinham essa preocupação. Em vez disso, escreviam com uma liberdade impressionante, e não raro combinavam temas que, séculos mais tarde, foram separados por teólogos no esforço de sistematizar o ensino bíblico.

Um exemplo é o que a Bíblia fala sobre a criação, a salvação e a escatologia. Ela não trata de tais temas isoladamente. Na tradição evangélica, o tema da criação, por exemplo, tem sido abordado apenas na perspectiva de uma discussão apologética antievolucionista. Se isso acontece, perde-se muita coisa. Biblicamente, a criação é a base da salvação. O problema é que, com séculos de influência platônica, muitos cristãos pensam que a salvação é só da “alma”, enquanto a Bíblia aponta para uma salvação integral.

O texto de 1 Pedro 1.9 traz a expressão “salvação da alma”, tanto nas versões protestantes como nas católicas. É uma pena que quase todas as editoras bíblicas tenham optado por traduzir o grego “psychon” por “almas”, que dá a ideia de uma substância imaterial separada do corpo. A melhor tradução seria “vidas”, isto é, a totalidade da existência, o que inclui o corpo e tudo que faz com que o ser humano seja humano. Em Romanos 8.19-24, Paulo fala da expectativa quanto à plenitude da salvação, esperança compartilhada pelos seres humanos e pela própria natureza. Pedro (2Pe 3.13) fala do futuro do cosmos em termos de “novos céus e nova terra”, linguagem extraída de Isaías 65.17. E Apocalipse também fala de “novo céu e nova terra”, lugar da habitação de Deus com seu povo. É surpreendente que, nos capítulos finais da revelação de Deus, não se fala de “almas” que sobem para um “céu”, mas da nova Jerusalém que desce do céu à terra. Será a concretização da salvação. “Creio na ressurreição do corpo” é preciso resgatar a linguagem do Credo Apostólico. É oportuno lembrar a expressão que já se tornou clássica em estudos teológicos, criada pelo teólogo alemão Pannenberg: a ressurreição de Jesus é um evento proléptico, isto é, que antecipa o futuro. Se quisermos saber como será o amanhã, basta olhar para o ontem: ontem Jesus ressuscitou; amanhã ressuscitaremos. E em totalidade, corpo e alma, junto com a criação, serviremos ao Senhor.
 
O pensamento bíblico unifica o passado (a criação), o presente (a salvação) e o futuro (a renovação da criação). As implicações para a missão da igreja são várias: se o futuro do cosmos é a renovação da criação, a igreja deve anunciar essa esperança em Jesus Cristo e se envolver em ações de cura de um mundo doente e em ações que promovam a justiça. O texto de 2 Pedro 3.13 faz ecoar duas passagens que falam da vinda do Deus que faz justiça (Sl 96.10-13; Sl 98.4-9). Não é coincidência que, quando os textos bíblicos anunciam a esperança na vinda do Deus que faz justiça, o mar, os rios e as árvores sejam convocados para louvá-lo.

A esperança cristã é otimista Deus vai fazer justiça na terra e vai restaurar a criação. A igreja em missão deve agir nessa direção.
Fonte: Revista Ultimato de julho-agosto de 2010.

Carlos Caldas é professor na Escola Superior de Teologia e no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.

9.6.11

Dez anos por um consumo mais sustentavel

Por Vinicius Neder

O Instituto Akatu completa em 2011 dez anos de atuação em prol da mobilização pelo consumo consciente. Ao longo da primeira década de vida, a entidade calcula que suas campanhas e ações já atingiram 60 milhões de brasileiros, “conscientizados ou mobilizados, com maior ou menor intensidade”.
Ainda neste semestre, o Akatu lançará uma campanha nacional de comunicação para celebrar o aniversário e, principalmente, propor uma agenda de trabalho para a próxima década. “É importante olhar para aquilo que foi feito, mas temos que olhar para frente, para os desafios que a gente tem, que são muitos”, afirma o diretor-executivo do Akatu, Eduardo Schubert, na entrevista abaixo.

O Instituto Akatu completa 10 anos em 2011. O que mudou em termos de consumo consciente no Brasil nesse período?
Eduardo Schubert – Mudou muita coisa. Há dez anos, a expressão consumo consciente sequer existia, o tema não era debatido. Hoje, isso está absolutamente comum: se debate, se conversa, outras entidades incorporaram isso nas suas ações, as empresas começaram a se envolver com o tema e o consumidor, gradativamente, vem aprendendo a praticar isso no dia a dia. A grande diferença é esta: saímos de uma situação em que o tema não era debatido, não estava na agenda, e hoje, certamente, ele está.

É possível medir o aprendizado do consumidor?
Eduardo – Existem vários indicativos de que isso tem avançado na agenda. Há desde indicativos mais midiáticos a coisas mais científicas. Por exemplo, a questão das sacolas plásticas nos supermercados não era sequer debatida há dez anos. Hoje, há um crescente número de consumidores espontaneamente trocando as sacolas plásticas dos supermercados por caixas de papelão e outras alternativas. Obviamente, tem havido campanhas de propaganda. Inclusive o Akatu esteve envolvido na campanha “Saco é um saco”, patrocinada pelo Ministério do Meio Ambiente. Em seguida, cadeias de supermercado adotaram a campanha e, mais recentemente, alguns municípios estão legislando nesse sentido. Mas o consumidor avançou muito nessa agenda. Além disso, toda a questão de reciclagem avançou muito. Então, há elementos do dia a dia que falam mais do que estatísticas.

Passada a inclusão na agenda, qual a melhor forma de traduzir a ideia de consumo consciente para a prática do consumidor?
Eduardo – O ato de consumo no ponto de venda equivale a um voto. Assim como, do ponto de vista social e político, o voto emite opinião sobre determinados assuntos ou candidatos, há uma força muito grande quando, no ponto de venda, escolhem-se a marca A ou a marca B ou deixa-se de consumir alguma coisa. Pode-se questionar: “individualmente, quem sou eu?” Mas é da somatória de pequenos atos individuais que vem a fortaleza desse movimento. Seja porque pequenos atos são repetidos cotidianamente durante a vida útil de um consumidor, seja porque o ato individual, pequeno, passa a ser muito grande no coletivo. E depois, quando alguém demonstra seu ato, outro se inspira e acaba reproduzindo.

Como o consumo consciente pode ser disseminado?
Eduardo – A educação é fundamental. Temos feito ao longo desse tempo todo muito trabalho de educação, com a criança, com o jovem, procurando formar uma nova geração de consumidores com consciência crítica em relação ao consumo. Quando a gente discute o que está por trás do consumo consciente, em hipótese nenhuma é o não consumo. É sim consumir de forma diferente. Sair do físico para o virtual, do desperdício para a reciclagem, da posse exclusiva para a posse compartilhada. É uma série de atitudes que transformam a maneira de consumir, continuam satisfazendo as necessidades, mas com impacto muito menor no planeta. Trata-se de adequar o consumo dos indivíduos à capacidade que o planeta tem de prover recursos naturais que são finitos, gerando resíduos que possam, por sua vez, ser absorvidos pelo planeta.

O fato de o Brasil ter indicadores ruins em educação aumenta o desafio?
Eduardo – Sem dúvida, é um desafio enorme. Temos diante de nós uma tarefa bastante ambiciosa, seja porque estamos mexendo com coisas que são centrais na vida das pessoas, seja por causa desse ponto da educação. A questão da base educacional, não só aqui, mas em outros países também, faz uma diferença muito grande.

Pesquisa sobre percepção do consumidor, lançada em 2010.

Isso é importante para não deixar a prática do consumo consciente restrita a uma elite?
Eduardo – Sem dúvida. A elite, por definição, é uma pequena parcela. Pode ser formadora de opinião, mas é uma pequena parcela. Hoje, no Brasil, na China, na Índia, ocorre a incorporação de contingentes enormes no mercado de consumo. Essas pessoas chegam buscando uma satisfação de carências acumuladas durante gerações, sem grande preocupação com essa questão. E isso precisa ser enfrentado. Hoje, no mundo, já se consome 50% mais do que a Terra tem capacidade de regenerar. Estamos consumindo um planeta e meio. Mas é preciso considerar que somente 25% da população mundial consome acima das suas necessidades básicas. Veja como essa conta é terrível: incluir mais gente num padrão mínimo de consumo tem um impacto terrível no planeta. Trata-se realmente de buscar outra forma de consumo, que privilegie o compartilhamento ou outras estratégias, porque no atual modelo a equação não fecha.

Como lidar com essa incorporação de contingentes populacionais no mercado de consumo?
Eduardo – O desafio é maior. São pessoas que acabaram de ingressar no mercado de consumo, trazem carências acumuladas e querem descontar o tempo perdido. A tarefa é de comunicação e de educação. O segundo aspecto, a educação, é uma ação de mais longo prazo e toma tempo. Você pode até mais rapidamente fazer com que as pessoas reconheçam a existência do problema, racionalmente. Mas, na hora do comportamento, é mais difícil fazer com que elas mudem. Então, toda a ação do Akatu está mais voltada para mobilizar contingentes maiores, usando pedagogias e formas que facilitem essa compreensão no cotidiano. É preciso tirar essa problemática do cérebro, do racional, e trazê-la para o coração, para o sentimento.

Há níveis distintos de atuação, de acordo com o público-alvo?
Eduardo – Claro, é preciso adequar toda a comunicação nas ações. Inclusive, regionalmente isso faz diferença. O Brasil tem diferenças regionais importantes.

A Conferência Rio+20 é uma oportunidade para fortalecer o consumo consciente na agenda global?
Eduardo – A questão do consumo consciente está central. Ela já foi central nos debates do Fórum Econômico Mundial, em Davos, este ano. Muito se tem falado, há mais tempo, da produção sustentável, no lado da oferta. Hoje, se fala também da demanda. Não há como você ter um lado se não tiver o outro. Oferta e demanda andam juntas. Então, nas proposições e nas discussões prévias para a Rio+20, a questão do consumo consciente é central. O papel das empresas e do governo como educadores para esse novo tipo de consumo é fundamental.

Que ações marcarão os dez anos do Instituo Akatu?
Eduardo – Vamos lançar uma campanha celebrando os dez anos e, principalmente, renovando o nosso desafio para os próximos dez anos. É importante olhar para aquilo que foi feito, mas temos que olhar para frente, para os desafios que a gente tem, que são muitos, e propor uma nova agenda de trabalho para a próxima década.

6.6.11

No meio do jardim e da cidade, o meio ambiente

por Fernando Oliveira   


"Se toda a poesia numa palavra
Eu ficaria com Jardim".
Gerson Borges

Há muitos anos, quando Jacques Cousteau revelava imagens da vida marinha, ao mesmo tempo em que mostrava preocupação com a manutenção do equilíbrio da ecologia e com a preservação das espécies, ambientalismo e ecologia eram assuntos para poucos. Parece que a ficha começa a cair cada vez mais para a maioria das pessoas. Ter consciência ecológica e cuidado com o planeta significa atentar-se para a própria casa. Aliás, a expressão eco, tão presente hoje em dia, vem do grego e significa “casa”.
 
A Bíblia começa num jardim e termina numa cidade. Há o jardim do Éden em Gênesis e há a Nova Jerusalém em Apocalipse. Ambos jardim e cidade santa não têm santuário, pois Deus mesmo é o seu santuário e em ambos a vida se dá em sua presença de forma ininterrupta, plena e sem obstáculos. Vivemos entre o jardim que passou e a cidade celestial que virá. Perdemos o jardim e dele sentimos saudade; moramos na cidade e vemos com esperança a Nova Jerusalém. Até a árvore da vida está lá. O jardim foi feito por Deus e lá ele colocou o homem, criado conforme sua imagem e semelhança, para com ele se relacionar e cuidar da criação. A Nova Jerusalém desce do céu, da parte de Deus, para se instalar entre os homens.

 
Se o jardim é criação das mãos bondosas de Deus, a cidade é realização das mãos ensanguentadas de Caim, que edificou a primeira, para nela habitar, depois de ter matado o irmão, Abel, e se retirado da presença do Senhor. Porém, o grande construtor de cidades foi Ninrode, neto de Cam, que era filho de Noé. É o primeiro homem descrito na Bíblia como poderoso e caçador. Edificou várias cidades, entre elas Babel e Nínive, cidades emblemáticas na história bíblica.

 
No livro “The Meaning of the City”, Jacques Ellul vê na edificação da cidade um ato de rejeição da proteção de Deus, pois quando o homem a edifica ele rejeita a criação de Deus, opondo-se ao jardim. Segundo Ellul, em sua origem a cidade é lugar da autoproteção do homem e ao mesmo tempo uma tentativa de fugir da maldição de Deus. Por isso, ela é resultado da alienação de Deus, e também elemento alienante para o homem do resto da criação. O homem refugiou-se na cidade para não ter de dizer: “O Senhor é a minha rocha, a minha cidadela” (Sl 18.2). Na cidade o homem enganosamente pensou que não precisava mais do jardim.

 
A Nova Jerusalém é fruto da graça de Deus que trouxe redenção ao homem e a tantas das suas realizações. É fruto final da busca amorosa de Deus pelas cidades. É o caso de Nínive, Jerusalém, Samaria. Assim, a Nova Jerusalém é habitação eterna do Criador com sua criatura, a união dos propósitos divinos que santificam os projetos humanos por meio do Cordeiro. É cidade com alma de jardim.

 
A redenção de Jesus Cristo abrange toda a criação. Paulo deixa isso claro em Romanos 8.19-22. Ser discípulo de Jesus não é só voltar à comunhão com Deus perdida no jardim -- é encher-se de esperança pela realização da cidade santa trabalhando hoje para que o jardim brote novamente no meio da cidade. Isso é dar o devido valor e dignidade àquilo que Deus criou. É ter a mente de um cidadão e o coração de um jardineiro.

 
Fonte: Revista Ultimato de maio-junho de 2010.


Fernando Oliveira mora em São Paulo, é pastor da Igreja Nova Aliança há vinte anos e apresenta o programa “Papo na Rede”, no portal www.koinoniaonline.com.br. fco@osite.com.br

Emprego de A a Z: Patrão ou Empregado

O Filho do Homem na COP 15

por Victor e Mônica Duck

Durante a Conferência do Clima de Copenhague, em meio a participantes ilustres, um repórter teve sua atenção voltada para um homem. Ele estivera presente o tempo todo, parecia conhecer todos, mas ninguém perguntara sua opinião. O repórter decidiu entrevistá-lo. Sua identificação não tinha nacionalidade; seu nome, um tanto estranho: Filho do Homem.
Qual é a sua expectativa a longo prazo quanto à preservação do meio ambiente?
Bem, longo prazo depende do ponto de vista. Mas, pensando no meio ambiente do qual você está falando, quero fazer duas citações da Bíblia: “Naquele dia os céus serão desfeitos pelo fogo, e os elementos se derreterão pelo calor. Todavia, de acordo com a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, onde habita a justiça” (2Pe 3.12b-13); “Então vi ‘novos’ céus e ‘nova’ terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham passado; e o mar já não existia” (Ap 21.1). Este novo “meio ambiente” não se pode nem comparar com o que você conhece.
Se entendi bem, na sua opinião, o que se espera é algo novo. Então, qual é o sentido de toda essa discussão sobre produção de energia limpa, responsabilidade ambiental e a própria contribuição individual de cada pessoa?
O sentido está na motivação das pessoas. O salmista diz o seguinte: “Louvem o Senhor, vocês que estão na terra, serpentes marinhas e todas as profundezas, relâmpagos e granizo, neve e neblina, vendavais que cumprem o que ele determina, todas as montanhas e colinas, árvores frutíferas e todos os cedros, todos os animais selvagens e os rebanhos domésticos, todos os demais seres vivos e as aves, reis da terra e todas as nações, todos os governadores e juízes da terra, moços e moças, velhos e crianças. Louvem todos o nome do Senhor” (Sl 148.7-13). As conversas da COP-15 têm esta motivação?
Então quais são as suas sugestões práticas?
Algum tempo atrás, certo casal ouviu o seguinte: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra” (Gn 1.28). Encher, subjugar e dominar não significa destruir nem explorar. Pelo contrário, é “ser mordomo”, é “cuidar”, é “preservar”. “O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para ‘cuidar’ dele e ‘cultivá-lo’” (Gn 2.15).
Parece-me que isso foi há muito tempo. Vivemos situações novas, como, por exemplo, a grande quantidade de poluentes eliminados em função do desenvolvimento. Neste sentido, como podemos saber se estamos cuidando ou destruindo?
Novamente: o que define é a motivação. “Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros ‘superiores’ a si mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos ‘outros’” (Fp 2.3-4).
Isso quer dizer que para se chegar a um acordo o presidente de um país teria mesmo de levar em consideração os interesses dos outros países, considerando-os superiores?
Sim, essa é a solução. Preciso ir, mas antes gostaria de abordar mais um aspecto. Algum tempo atrás, o Criador do meio ambiente falou o seguinte para o grande governante Salomão: “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar e orar, buscar a minha face e se afastar dos seus maus caminhos, dos céus o ouvirei, perdoarei o seu pecado e curarei a sua terra” (2Cr 7.14). Essa oferta ainda é válida.

Fonte: Revista Ultimato de março-abril de 2010.
• Victor e Mônica Duck são casados e missionários em Asas de Socorro, em Manaus, AM. Ele é mecânico aeronáutico e ela, bióloga.