26.11.11

O evangelho do Gentileza

por Bráulia Ribeiro
 
“Apagaram tudo 
Pintaram tudo de cinza
Só ficou no muro 
Tristeza e tinta fresca [...]
Por isso eu pergunto 
A você no mundo 
Se é mais inteligente
O livro ou a sabedoria?”
(Marisa Monte)
 
 
À medida que o Brasil vai se tornando mais evangélico observamos as marcas culturais do evangelicalismo se misturarem à cultura popular e vice-versa. Missiólogos discutem a influência da cultura nos diversos modelos de evangelho que temos pelo mundo usando dois conceitos, contextualização e sincretismo.
 
Entende-se por contextualização a expressão do conceito novo (a revelação do evangelho) por meio de formas antigas e facilmente reconhecíveis pelo povo. O conhecido se torna a expressão do novo. Já o sincretismo trata de uma mistura promíscua, indesejada, das novas formas com conceitos antigos. É a revitalização do erro, que se veste com uma fantasia brilhante e aparentemente nova.
 
O evangelho no Brasil  (e, acredito, em muitos outros lugares) se acultura de modo contextualizado e sincrético ao mesmo tempo. Para se discernir entre pureza e corrupção o trabalho é árduo, mas a discussão destes caminhos é hoje essencial para a saúde da igreja. Apenas o Espírito Santo e a Bíblia podem nos tirar do limbo de um semievangelho, que se torna inócuo por ser equivalente.
 
Atualmente existe uma guerra entre os evangélicos no Brasil que nada tem de santa. É uma releitura cultural da velha disputa de classes. Apesar de não termos uma cultura de castas, como na Índia, nossa tradição social, baseada em origem e poder econômico, é marcada pela exclusão de grupos sociais. Nos tempos coloniais, a família, o grau de proximidade da nobreza portuguesa, a cor da pele faziam a diferença. Hoje a subcultura à qual pertencemos, a linguagem que falamos, a música que ouvimos revelam o poder socioeconômico que temos.
 
As várias versões evangélicas atendem a subgrupos culturais diferentes e fazem concessões teológicas de acordo com a necessidade de cada um deles. O evangelho intelectual das classes dominantes requer uma lógica que se conforme ao discurso pós-moderno. O Deus tribal dos hebreus se transforma em uma força de amor despersonalizada e universalizante. Seguindo o exemplo da Europa multiculturalista, o evangelho palatável à “intelligentsia” tem que relativizar verdades. Não existe adaptação sem comprometimentos. A moralidade bíblica é um peso muito grande a ser carregado. Existe uma proposta de amor no evangelho, mas se exige para esta uma síntese hegueliana. Qualquer maneira de amar vale a pena, qualquer moralidade me diverte, desde que me satisfaça.
 
O evangelho das massas populares é simples: a entidade divina se tribaliza. Como qualquer proposta animista, o Deus tribal é pesado em suas demandas tributárias, requer riquezas em profusão e obediência cega às autoridades sacerdotais. Ele tem necessidade de demonstrar seu poder em um jogo intimidatório. As bênçãos são subornos e o Deus tribal dança conforme a música do desenvolvimento econômico e distribui casas, carros zero e cargos políticos, premiando a servidão de seus fiéis.
 
Nas duas versões o evangelho de Cristo se torna “o evangelho do profeta Gentileza”. O “amor” do Cristo folclórico não é amor, é entretenimento. Ele é simplório e ridículo. Quem é mais inteligente, o homem ou a lei, o livro ou a sabedoria?  (pergunta Gentileza). O homem, a sabedoria que não está nos livros nem no Livro  (respondemos). E decidimos então apontar as torres de nossas igrejas para o centro da sociedade brasileira (o homem cordial que a todos agrada). A cultura brasílica, que não gosta de regras impostas, menospreza o Livro e reinventa em duas versões um Deus sem leis e sem moral, que se ocupa de nos servir.
 
Concordo com Marisa que a parede cinzenta é mais triste do que se permanecesse pintada com os escritos coloridos do Gentileza. Contudo, não vamos trazê-lo para as igrejas. É melhor deixá-lo nas ruas. 
 
Bráulia Ribeiro trabalhou na Amazônia durante trinta anos. Hoje mora em Kailua-Kona, no Havaí, com sua família e está envolvida em projetos internacionais de desenvolvimento na Ásia.
 
Fonte: Revista Ultimato Novembro-dezembro 2011.

13.11.11

A solução pela raiz

por Marina Silva

As circunstâncias históricas no capítulo 11 do livro do profeta Isaías mostram-nos que aquela era uma época de degradação social e espiritual; um mundo à beira do abismo em todos os aspectos. Uma árvore cortada é a imagem metafórica usada pelo profeta para expressar a desoladora devastação daquele tempo. Porém, nessa mesma árvore cortada, pela misericórdia de Deus, havia a possibilidade de prosperar um pequeno broto, originado na força de suas raízes. Era a raiz de Jessé, um menino que traria renovo para o mundo degradado.

O profeta faz uma analogia entre os processos biológicos de renovação das plantas e a oportunidade de resgate que Deus oferece à Criação como um todo.

Embora Isaías tenha vivido quase oito séculos antes de Cristo, o capítulo é oportuno também para ilustrar as consequências da queda na parte natural da Criação, igualmente carente de resgate e restauração.

Os recursos naturais do planeta já foram degradados a ponto de gerar um “déficit” quase irrecuperável. Estamos “no vermelho” em 30%, com a capacidade de reposição por meios naturais esgotada. É como se avançássemos em 30% do valor de nossos rendimentos mensais no uso do cheque especial. Essa é uma situação em que a árvore já foi cortada, o tronco está morrendo e só a misericórdia de Deus pode oferecer nova oportunidade um renovo para os seres humanos e para os processos orgânicos e mecânicos do planeta.

Lembremo-nos da exploração de petróleo sem os cuidados ambientais, no Golfo do México; dos desastres com energia nuclear em Chernobyl e no Japão; da destruição de rios, como o Tietê; da desertificação em muitas áreas, pela ausência de chuvas derivada da retirada das árvores. Pensemos na atmosfera irrespirável pelas emissões resultantes dos processos de transformação industrial. A lista é infindável e atinge a todos os sistemas existentes no planeta. Como restaurar o que destruímos? Como caminhar em direção às promessas de Isaías 11.6-9?

Responderemos a essas perguntas quando formos capazes de fazê-las sinceramente. Veremos o que é possível conseguir quando nos dispusermos ao resgate, à restauração de nossa vida espiritual de foma integral com Deus e à restauração de tudo o que ele criou, da forma como criou e da maneira como, a cada ato criativo, certificava-se de que tudo tinha ficado muito bom (Gn 1.3-31). Deus resgatou e restaurou não só no plano espiritual, mas também no campo físico (duro e extenuante), tornando-se homem, deixando a condição de Verbo glorioso e fazendo-se carne, como profetizou Isaías.

É tempo de trabalhar para reverter tanto a devastação das almas quanto a do planeta. É preciso sair do vermelho. Dispormo-nos ao trabalho, a exemplo do que fez Jesus. Uma grande oportunidade para nós não só como brasileiros, mas como cidadãos do planeta é a Rio+20 Conferência das Nações Unidas em Desenvolvimento Sustentável, que será realizada em junho de 2012. Haverá, na ocasião, a oportunidade de pensarmos e propormos soluções para os temas econômicos, sociais e de governança. Alguns deles são: como produzir respeitando os ciclos de reposição da natureza; como organizar politicamente nossa vida na casa comum que Deus nos deu; como cuidar dos órfãos e das viúvas, que na Bíblia representam todos os desvalidos. Estes são temas com potencialidade fundante de toda uma nova civilização, de acordo com o estado de coisas em plenitude que Deus reafirma como parte de sua essência em 1 Coríntios 10.26.


Marina Silva é professora de história e ex-senadora pelo PV-AC

Fonte: Revista Ultimato Setembro-Outubro de 2011.

9.11.11

Livro Livre! Esgotado


Agradecemos a todos que participarão da promoção Livro Livre! desejamos que os livros somem conteudo a experiência de cada um. Infelizmente não temos mais livros para doar  por  isto a promoção está encerrada.

Grato,

Allan