27.2.12

A Regra Fundamental da Hermenêutica conforme E. Lund


Pelo dito anteriormente, foi-nos possível ver como é apropriado e mais conveniente, que em qualquer documento de importância em que se encontrem pontos obscuros se procure que ele seja seu próprio intérprete. Quanto à Bíblia, o procedimento sugerido não só é conveniente e muito factível, mas absolutamente necessário e indispensável.

O quanto sabemos, o primeiro intérprete da Palavra de Deus foi o diabo, dando à palavra divina um sentido que ela não tinha, falseando astutamente a verdade. Mais tarde, o mesmo inimigo, falseia o sentido da Palavra escrita, truncando-a, isto é, citando a parte que lhe convinha e omitindo a outra.

Os imitadores, conscientes e inconscientes, têm perpetuado este procedimento enganando à humanidade com falsas interpretações das Escrituras. Vítimas, pois, de tais enganos e de tão estupendos erros, que têm resultado em hecatombes e cataclismos, devemos já conhecer o suficiente dessa interpretação particular. 

E a ninguém deve parecer estranho que insistamos em que a primeira e fundamental regra da correta interpretação bíblica deve ser a já indicada, a saber: 

A Escritura explicada pela Escritura, ou seja: a Bíblia, sua própria intérprete.

Ignorando ou violando este princípio simples e racional, temos encontrado, como dissemos, aparente apoio nas Escrituras a muitos e funestos erros. Fixando-se em palavras e versículos arrancados de seu conjunto e não permitindo à Escritura explicar-se a si mesma,encontraram os judeus aparente apoio nela para rejeitar a Cristo.Procedendo do mesmo modo, encontram os papistas a papistas aparente apoio na Bíblia para o erro do papado e das matanças com ele relacionadas, para não falar da Santa Inquisição e outros erros do mesmo estilo. Atuando assim, acham aparente apoio os espíritas para sua errônea encarnação; os comunistas, para sua repartição dos bens; os incrédulos zombadores, para as contradições; os russelitas para seus erros blasfemos. e, finalmente, os Wilson e Roosevelt, para seu militarismo. Se tivessem a sensatez de permitir a Bíblia que se explicasse a si mesma, evitariam erros funestos. 

Graças ao abuso apontado ouvimos dizer que com a Bíblia se prova o que se quer. A má vontade, a incredulidade, a preguiça em seu estudo; o apego a idéias falsas e mundanas, e a ignorância de toda regra de interpretação, provará o que se queira com a Bíblia; porém jamais provará a Bíblia o que os homens tão mal dispostos querem. Tampouco provará nenhum douto de verdade, nem crentes humildes, qualquer coisa com a Escritura. 

Ao contrário, porque o discípulo humilde e douto na Palavra sabe que "a lei do Senhor é perfeita" e que não há erro na Palavra, mas no homem, ele sabe que não se tira e se põe, ou se acrescenta e se suprime impunemente à Palavra, segundo o estilo satânico, porquanto Deus,mediante seu servo, fez constar: "Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida." Não, certamente a revelação divina,qual Lei perfeita, "é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra"; tal revelação, dissemos, não se presta impunemente a tal abuso. 

Em vista de tais afirmativas e destas e outras restrições, é evidente que carece absolutamente de sanção divina a interpretação particular do papismo que concede autoridade superior à Palavra mesma, à interpretação dos "pais" da Igreja docente ou da infalibilidade papal,como carece também de dita sanção a idéia da interpretação individual do protestantismo. "Nenhuma profecia da Escritura provam de particular elucidação", disse Pedro; e Jesus nos exorta a examinar as Escrituras para achar a verdade, e não a interpretar as Escrituras para estabelecer a verdade a nosso arbítrio. 

Nada de estranho tem, pois, que nos eminentes escritores da antiguidade encontremos afirmações como estas: As Escrituras são seu melhor intérprete. Compreenderás a Palavra de Deus melhor que de outro modo, comparando uma parte com outra, comparando o espiritual com o espiritual (1 Cor. 2:13). O que equivale a usar a Escritura de tal modo que venha a ser ela seu próprio intérprete. 

Se por uma parte, arrancando versículos de seu conjunto e citando frases soltas em apoio de idéias preconcebidas, é possível construir doutrinas chamadas bíblicas, que não são ensinos das Escrituras, mas antes "doutrinas de demônios"; por outra parte,explicando a Escritura pela Escritura, usando a Bíblia como intérprete de si mesma, não só se adquire o verdadeiro sentido das palavras e textos determinados, mas também a certeza de todas as doutrinas cristãs,quanto à fé e à moral. 
Tenha-se sempre presente que não se pode considerar de todo bíblica uma doutrina antes de resumir e encerrar tudo quanto a Escritura diz da mesma. Um dever tampouco é de todo bíblicos e não abarca e resume todos os ensinos, prescrições e reservas que contam a Palavra de Deus em relação ao mesmo. Aqui cabe bem a lei:"Não se pronuncia sentença antes de haver ouvido as partes." Porém cometem o delito de falhar antes de haver examinado as partes todos aqueles que estabelecem doutrinas sobre palavras ou versículos extraídos do conjunto, sem permitir à Escritura explicar-se a si mesma. Igual falta cometem os que do mesmo modo procedem e falam de contradições eensinos imorais.

Por conseguinte, é de suma necessidade observar a referida regra das regras, a saber:A Bíblia é seu próprio intérprete,se não quisermos incorrer em erros e atrair sobre nós a maldição que a própria Escritura pronuncia contra os falsificadores da Palavra. Dissemos "regra das regras", porque desta, que é fundamental, se desprendem outras várias que, como veremos, dela nascem naturalmente.

* Texto extraído na integra do livro Hermenêutica de E. Lund e P. C. Nelson Editora Vida paginas 23, 24, 25 e 26. 

24.2.12

Introdução ao Pentateuco


por Allan Reis

É comum encontrarmos no texto bíblico alguma menção a Lei tanto no A. T. como no N. T. o famoso salmo primeiro declara: Como é feliz aquele que não segue o conselho dos ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores! Ao contrário, sua satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei medita dia e noite”. Em 1 Timóteo 1.8 diz “Sabemos que a lei é boa, se alguém dela se utiliza de modo legítimo”.

Na maioria das vezes quando as pessoas encontram o termo Lei no texto bíblico a primeira coisa que imaginam é tratar-se do período anterior a Jesus (o posterior é a graça), porém muitas vezes se analisarmos o contexto na verdade está se referindo a todo o A. T., porém quando o lemos não encontramos na sua literatura apenas textos legais (normas, regras, leis, mandamentos) encontramos também músicas, poesias, profecias, histórias e até charadas (Sansão) logo se formos ser rigorosos a lei encontra-se nos cinco primeiros livros do A. T. (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio) e mesmo nesses não encontramos apenas normas, temos histórias também.

Os textos exclusivamente de lei estão em uma parte de Êxodo, um pouco em Números quase todo o Levítico e praticamente todo o livro de Deuteronômio.

Os judeus chamavam os cinco primeiros livros do A. T. de Torah que significa ensino, instrução ou orientação.

Em hebraico utiliza-se das primeiras palavras do livro para dar o título do mesmo desse modo o nome década livro é o seguinte: Gênesis: Bereshit = no começo. Êxodo: Shemot = os nomes. Levítico: Vayikra = E Ele chamou. Números: Bamidbar = no deserto. Deuteronômio: Devarim = As palavras. O texto português utiliza os nomes que a Vulgata (mais famosa versão em Latim do texto bíblico) deu para os livros.

A partir do II século a igreja começou a utilizar a expressão Pentateuchos que significa o livro guardado em cinco vasos ou penta = cinco + teuchos = estojo para rolo de papiro. Provavelmente todo o conteúdo de Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio era um único rolo de papiro (livro) que foi obrigado a ser dividido em cinco partes para facilitar o manuseio.

Conhecer o Pentateuco é fundamental para entender todo o restante do A. T. e para compreender a vontade de Deus para a humanidade. Nele encontramos a origem do homem, sua queda e o resultado dela. Também temos o inicio do plano redentor de Deus para resolver o problema criado pelo homem o pecado. Através da escolha da família de Abrão para a formação de uma nação que atrairia todas as demais para Deus, o restante do Pentateuco é a história desta família e como ela começou a se transformar em uma nação.

Para tanto foi necessário que esta família torna-se um grande povo dentro de outra nação (o Egito) fossem escravos lá e milagrosamente pela mão do Senhor retornassem para a terra prometida (Canaã ou Palestina), mas sem antes novamente por causa da desobediência serem obrigados a passar 40 anos no deserto para serem purificados e receberem a lei do Senhor que ensinava como aquela nação iria conduzir a sua vida com Deus, com o próximo e com as demais nações. Por isso é possível afirmar que o grande tema do Pentateuco é a reconciliação de todas as coisas para com Deus.

Há diversos relatos bíblicos que afirma de modo explícito que Moisés é o autor dos cinco livros como, por exemplo: 1 Rs 2.3; Ed 3.2; Ne 8.1; Êx 17.14 Dt 31. 24 a 26; II Co 3.15; Lc 16. 29 a 31 dentre outros, vale destacar que o relato de sua morte tenha sido feito por Josué seu sucessor ou por algum editor.

Bibliografia:

Jackson Day. Velho Testamento: Narrativas Bíblicas. SOCEP, 2000.

Stanley A Elissen. Conheça Melhor o Antigo Testamento. Editora Vida.


Gleason L. Archer Jr. Merece Confiança o Antigo Testamento?  
    

23.2.12

Sentido de urgência


por Marina Silva 
Em maio deste ano a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei (PLC 30/2011) que tem como objetivo modificar o Código Florestal. Sem ouvir de forma adequada a população e sem considerar as contribuições da ciência, aproximadamente 80% dos deputados votaram em favor da proposta. Deram um sim ao retrocesso na legislação ambiental de nosso país; à retirada da proteção às beiras de rios, permitindo o desmatamento e assoreamento dos cursos d’água; às encostas de morros, pois com a retirada de sua vegetação elas podem desabar sobre estradas e casas; aos topos de morros, que podem sofrer o mesmo efeito; aos mangues, que podem secar e desaparecer. Um sim ao perdão a desmatadores que desrespeitaram as leis; ao descumprimento da função socioambiental das propriedades; ao agravamento das mudanças climáticas. 
Após a votação, o instituto de pesquisa Datafolha mostrou que 85% da população se declarou contrária ao retrocesso e às outras consequências mencionadas. Ficou patente que estamos vivendo um descolamento entre os mandatos parlamentares e o compromisso de ser representação política. 
O projeto de lei agora está no Senado. Mais do que nunca a natureza geme e sofre esperando a revelação dos filhos de Deus para sua libertação (Rm 8.19-23). A esperança é que a situação possa ser modificada. Os senadores precisam saber que é muito importante proteger as florestas e os rios, pois são fundamentais para a qualidade de vida dos brasileiros. Dependemos deles para beber água, para cultivar os alimentos, para evitar as enchentes e os desabamentos, para fortalecer e fertilizar o solo. Cuidar das nossas florestas e rios é produzir dentro da perspectiva do desenvolvimento sustentável. Esta é uma visão que considera as necessidades presentes e também as necessidades das futuras gerações. O legado de nosso tempo não pode ser a degradação, a poluição, o esgotamento, as tragédias eminentes. Isso não condiz com a visão de mordomia da criação, como afirma a Palavra de Deus. 
Em conjunto com algumas pessoas e mais de cem organizações participei da criação e participo da atuação do Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável. Vamos apresentar um abaixo-assinado aos senadores pontuando as questões levantadas neste texto. É importante que a opinião dos brasileiros seja ouvida no Congresso, e é fundamental que ao colocar o nome no abaixo-assinado cada um o faça como sujeito de sua história, saindo da posição de espectador da política e assumindo o papel de agente responsável pelos rumos do país. A menos de um ano da realização no Brasil da Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, a chamada “Rio + 20”, é preciso impedir que o país cometa uma agressão contra o marco legal que a duras penas conquistou ao longo dos últimos anos e contra as bases naturais de seu próprio desenvolvimento.
Para se informar e participar do abaixo-assinado e dar aos senadores o recado da população -- a fim de que entendam o sentido da responsabilidade que precisam ter e não se afastem do fato de que foram eleitos para representar e não para substituir as pessoas, acesse: www.florestafazadiferenca.org.br.
• Marina Silva é professora de história e ex-senadora pelo PV-AC.

Fonte: Revista Ultimato Novembro-Dezembro de 2011.