por Fernando Oliveira
"Se toda a poesia numa palavra
Eu ficaria com Jardim".
Gerson Borges
Eu ficaria com Jardim".
Gerson Borges
Há muitos anos, quando Jacques Cousteau revelava imagens da vida marinha, ao mesmo tempo em que mostrava preocupação com a manutenção do equilíbrio da ecologia e com a preservação das espécies, ambientalismo e ecologia eram assuntos para poucos. Parece que a ficha começa a cair cada vez mais para a maioria das pessoas. Ter consciência ecológica e cuidado com o planeta significa atentar-se para a própria casa. Aliás, a expressão eco, tão presente hoje em dia, vem do grego e significa “casa”.
A Bíblia começa num jardim e termina numa cidade. Há o jardim do Éden em Gênesis e há a Nova Jerusalém em Apocalipse. Ambos jardim e cidade santa não têm santuário, pois Deus mesmo é o seu santuário e em ambos a vida se dá em sua presença de forma ininterrupta, plena e sem obstáculos. Vivemos entre o jardim que passou e a cidade celestial que virá. Perdemos o jardim e dele sentimos saudade; moramos na cidade e vemos com esperança a Nova Jerusalém. Até a árvore da vida está lá. O jardim foi feito por Deus e lá ele colocou o homem, criado conforme sua imagem e semelhança, para com ele se relacionar e cuidar da criação. A Nova Jerusalém desce do céu, da parte de Deus, para se instalar entre os homens.
Se o jardim é criação das mãos bondosas de Deus, a cidade é realização das mãos ensanguentadas de Caim, que edificou a primeira, para nela habitar, depois de ter matado o irmão, Abel, e se retirado da presença do Senhor. Porém, o grande construtor de cidades foi Ninrode, neto de Cam, que era filho de Noé. É o primeiro homem descrito na Bíblia como poderoso e caçador. Edificou várias cidades, entre elas Babel e Nínive, cidades emblemáticas na história bíblica.
No livro “The Meaning of the City”, Jacques Ellul vê na edificação da cidade um ato de rejeição da proteção de Deus, pois quando o homem a edifica ele rejeita a criação de Deus, opondo-se ao jardim. Segundo Ellul, em sua origem a cidade é lugar da autoproteção do homem e ao mesmo tempo uma tentativa de fugir da maldição de Deus. Por isso, ela é resultado da alienação de Deus, e também elemento alienante para o homem do resto da criação. O homem refugiou-se na cidade para não ter de dizer: “O Senhor é a minha rocha, a minha cidadela” (Sl 18.2). Na cidade o homem enganosamente pensou que não precisava mais do jardim.
A Nova Jerusalém é fruto da graça de Deus que trouxe redenção ao homem e a tantas das suas realizações. É fruto final da busca amorosa de Deus pelas cidades. É o caso de Nínive, Jerusalém, Samaria. Assim, a Nova Jerusalém é habitação eterna do Criador com sua criatura, a união dos propósitos divinos que santificam os projetos humanos por meio do Cordeiro. É cidade com alma de jardim.
A redenção de Jesus Cristo abrange toda a criação. Paulo deixa isso claro em Romanos 8.19-22. Ser discípulo de Jesus não é só voltar à comunhão com Deus perdida no jardim -- é encher-se de esperança pela realização da cidade santa trabalhando hoje para que o jardim brote novamente no meio da cidade. Isso é dar o devido valor e dignidade àquilo que Deus criou. É ter a mente de um cidadão e o coração de um jardineiro.
Fonte: Revista Ultimato de maio-junho de 2010.
Fernando Oliveira mora em São Paulo, é pastor da Igreja Nova Aliança há vinte anos e apresenta o programa “Papo na Rede”, no portal www.koinoniaonline.com.br. fco@osite.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário