15.4.15

Anotações Sobre Vida Líquida


Nos últimos anos tive contato com a sociologia da religião e diversas vezes ouvi ou li citações do ou sobre o sociólogo polonês, Zygmunt Bauman e a sua teoria sobre a modernidade líquida. Bauman é um dos grandes intelectuais da contemporaneidade, radicado na Inglaterra, completa em 2015, 90 anos. Recentemente tive finalmente meu primeiro contato com um, dos seus muitos textos, a saber, Vida Líquida, publicado pela Zahar em 2007. Vida líquida é um convite e ao mesmo tempo uma instigação para pensarmos o nosso cotidiano no meio em que vivemos e talvez até uma sugestão para repensarmos o modo como praticamos está jornada chamada vida, realizada sobre o solo da terra junto com a humanidade.
A vida líquida é a vida que acontece em meio a modernidade liquida, ou seja, existimos num tempo marcado por mudanças constantes, numa velocidade distinta daquela experimentada pelos nossos antepassados. O consumismo tem dominando todas as esferas da vida, transformando toda relação, numa relação de compra e venda. Produzindo pessoas individualistas e acuadas pelo medo.  
O texto para quem não está acostumado com a sociologia é sim um pouco pesado, em especial quando ele trabalha sobre a influência da individualização sobre a identidade, mas, não se sinta desmotivado para a leitura. Para refletir sobre a vida é essencial pensar sobre o “ser”, apesar do “ter” ser uma presença constante. Além do que, a escrita de Bauman é carregada, encharcada de metáforas e exemplos do cotidiano, que facilitam e trazem fluidez em diversos trechos e compreensão para alguns aspectos teóricos.
Não se pode deixar de destacar algumas reflexões, que surgem ao longo do texto, de caráter extremamente prático, janelas que iluminam a vivencia. Sobre a gangorra entre os valores “liberdade” e “segurança”, quanto mais se tem um, menos se tem o outro (pp. 12, 23, 39, 44, 50 – 54, 189 – 191).
A cultura da descartabilidade do nosso tempo, que faz com que até os laços de amizade e conjugais sejam de curta duração, deletados como nas redes sociais. A incapacidade do homem ocidental contemporâneo de morrer e lutar por uma causa e de compreender o martírio. O desejo constante da espetacularização e a reverencia as celebridades que tem fim em si mesmas (pp. 67 – 69).
Enquanto lia estas reflexões, tinha a sensação de estar diante de um ancião, um mestre que pacientemente compartilhava comigo as experiências da vida, me dando dicas, atalhos para ler a contemporaneidade. Vários momentos durante a leitura eu não escutava um sociólogo, mas, um profeta. Não utilizo o termo profeta como aquele que prevê o futuro, Bauman fala sobre o hoje, mas nos moldes dos profetas do Antigo Testamento, ou seja, aquele que denúncia: a imparcialidade, o sofrimento, a opressão, a dor desnecessária, a utilização indevida do que deveria ser utilizado para o serviço ao próximo. Sim, sei que também há previsões nos textos do Antigo Testamento e também, reconheço que está interpretação provavelmente esteja marcada pelas minhas leituras de teólogos da libertação. Tenho certeza que você encontrará outras reflexões e outras escutas.     
Criticas? Meu conhecimento em sociologia e minhas leituras em Bauman ainda são muito incipientes para construí-las, mas, elas ainda virão. Concluo com o resumo que o próprio autor faz da sua obra: 

Este livro é uma coletânea de ideias sobre vários aspectos da vida líquida, a vida que se leva em um sociedade líquido-moderna. A coletânea não pretende ser completa. Mas espera-se que cada um dos aspectos analisados ofereça uma janela para a realidade que compartilhamos nos dias de hoje, assim como para as ameaças e possibilidades que essa realidade traz para as perspectivas de tornar o mundo humano um pouco mais hospitaleiro para a humanidade.

Boa leitura, paz e bem!


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