Nos últimos anos tive
contato com a sociologia da religião e diversas vezes ouvi ou li citações do ou
sobre o sociólogo polonês, Zygmunt Bauman e a sua teoria sobre a modernidade líquida.
Bauman é um dos grandes intelectuais da contemporaneidade, radicado na
Inglaterra, completa em 2015, 90 anos. Recentemente tive finalmente meu
primeiro contato com um, dos seus muitos textos, a saber, Vida Líquida, publicado pela Zahar em 2007. Vida
líquida é um convite e ao mesmo tempo uma instigação para
pensarmos o nosso cotidiano no meio em que vivemos e talvez até uma sugestão
para repensarmos o modo como praticamos está jornada chamada vida, realizada
sobre o solo da terra junto com a humanidade.
A vida líquida é a vida
que acontece em meio a modernidade liquida, ou seja, existimos num tempo
marcado por mudanças constantes, numa velocidade distinta daquela experimentada
pelos nossos antepassados. O consumismo tem dominando todas as esferas da vida,
transformando toda relação, numa relação de compra e venda. Produzindo pessoas
individualistas e acuadas pelo medo.
O texto para quem não
está acostumado com a sociologia é sim um pouco pesado, em especial quando ele
trabalha sobre a influência da individualização sobre a identidade, mas, não se
sinta desmotivado para a leitura. Para refletir sobre a vida é essencial pensar
sobre o “ser”, apesar do “ter” ser uma presença constante. Além do que, a
escrita de Bauman é carregada, encharcada de metáforas e exemplos do cotidiano,
que facilitam e trazem fluidez em diversos trechos e compreensão para alguns aspectos
teóricos.
Não se pode deixar de
destacar algumas reflexões, que surgem ao longo do texto, de caráter
extremamente prático, janelas que iluminam a vivencia. Sobre a gangorra entre os
valores “liberdade” e “segurança”, quanto mais se tem um, menos se tem o outro
(pp. 12, 23, 39, 44, 50 – 54, 189 – 191).
A cultura da
descartabilidade do nosso tempo, que faz com que até os laços de amizade e
conjugais sejam de curta duração, deletados como nas redes sociais. A
incapacidade do homem ocidental contemporâneo de morrer e lutar por uma causa e
de compreender o martírio. O desejo constante da espetacularização e a
reverencia as celebridades que tem fim em si mesmas (pp. 67 – 69).
Enquanto lia estas
reflexões, tinha a sensação de estar diante de um ancião, um mestre que
pacientemente compartilhava comigo as experiências da vida, me dando dicas,
atalhos para ler a contemporaneidade. Vários momentos durante a leitura eu não
escutava um sociólogo, mas, um profeta. Não utilizo o termo profeta como aquele
que prevê o futuro, Bauman fala sobre o hoje, mas nos moldes dos profetas do
Antigo Testamento, ou seja, aquele que denúncia: a imparcialidade, o sofrimento,
a opressão, a dor desnecessária, a utilização indevida do que deveria ser
utilizado para o serviço ao próximo. Sim, sei que também há previsões nos
textos do Antigo Testamento e também, reconheço que está interpretação
provavelmente esteja marcada pelas minhas leituras de teólogos da libertação. Tenho
certeza que você encontrará outras reflexões e outras escutas.
Criticas? Meu
conhecimento em sociologia e minhas leituras em Bauman ainda são muito
incipientes para construí-las, mas, elas ainda virão. Concluo com o resumo que
o próprio autor faz da sua obra:
Este livro é uma
coletânea de ideias sobre vários aspectos da vida líquida, a vida que se leva
em um sociedade líquido-moderna. A coletânea não pretende ser completa. Mas
espera-se que cada um dos aspectos analisados ofereça uma janela para a
realidade que compartilhamos nos dias de hoje, assim como para as ameaças e
possibilidades que essa realidade traz para as perspectivas de tornar o mundo
humano um pouco mais hospitaleiro para a humanidade.
Boa leitura, paz e bem!
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