Quais foram as pessoas mais importante na sua vida até aqui?
De modo consciente ou inconsciente de vez em quando nos perguntamos: Quem sou eu? Responder a esta questão é uma tarefa complexa! Paulo Freire afirmava que não somos estamos sendo.
Não há dúvida que somos formados por diversos aspectos e características, ou seja, somos seres biopsicosocialespiritual,tudo ocorrendo ao mesmo tempo. Regidos por uma eterna disputa entre o desejo e a conduta imposta pela cultura que nos cerca.
Mas, algo é certo nossa história é parte importante da nossa identidade, em outras palavras atualmente somos em maior ou menor grau o resultado da nossa história de vida, ou melhor o que fizemos com ela.
Nossa história só existe por causa de outras pessoas. Não somos a não ser que haja outros por perto, que nos auxiliam, protegem, cuidam, ensinam, escutam e muitas outras coisas.
Apesar de existirmos dentro de uma sociedade onde o individualismo é praticamente uma religião formada por milhões de seguidores fanáticos só somos a partir das relações que desenvolvemos com os outros, sem estes relacionamentos caminhamos apressadamente para a morte.
Pensando nisto construi uma lista com os nomes das pessoas mais importantes na minha jornada. Com certeza esta lista é incompleta, mas tenho certeza que nela consta uma parte considerável das pessoas com quem me relacionei.
Para cada ano escolhi uma ou mais pessoas que naquele tempo foram fundamentais na minha vivencia. Várias destas pessoas me influenciaram por muito mais que um ano. Algumas não tenho mais contato, porém carrego cada uma no coração e na memória, seus ensinamentos, crenças e histórias de vida continuam a me iluminar.
Ao nomear cada ano com o nome destas pessoas, desejo agradecer pela experiência de conviver com cada uma destas pessoas, aprendendo como encarar esta jornada chamada vida.
1982
1983
1984 Mãe, Pai, Milto, Viti e Tuca
1985
1986
1987 Dona Santina
1988 Heloisa
1989 Professora Marli
1990 Professora Ana Claudia
1991
1992 Hugo, Glauber e Cleiton
1993
1994 Mari
1995 Dani
1996 Carla
1997 Diola
1998 Professora Jô
1999 Gislene
2000 Ioná
2001 Pastor José Roberto
2002 Serginho
2003 Dona Antonia
2004 João, Daniel, Glaucia, Keila e Michel
2005 Seu Chico e Dona Terezinha
2006
2007 Adilson, Fernanda e Mislene
2008
2009 Linda
2010 Henri
2011 Karol
2012 Douglas
2013 Galdino e Livan
2014 Professor Lauri
2015
O vazio em 2015 é um símbolo da contemporaneidade onde as relações são cada vez mais frágeis, otimizadas, escassas de lastro e persistência para a continuidade. Também representa a saudade dos grandes amigos(as) que não tenho mais o privilégio da com vivencia.
3.10.15
15.4.15
Anotações Sobre Vida Líquida
Nos últimos anos tive
contato com a sociologia da religião e diversas vezes ouvi ou li citações do ou
sobre o sociólogo polonês, Zygmunt Bauman e a sua teoria sobre a modernidade líquida.
Bauman é um dos grandes intelectuais da contemporaneidade, radicado na
Inglaterra, completa em 2015, 90 anos. Recentemente tive finalmente meu
primeiro contato com um, dos seus muitos textos, a saber, Vida Líquida, publicado pela Zahar em 2007. Vida
líquida é um convite e ao mesmo tempo uma instigação para
pensarmos o nosso cotidiano no meio em que vivemos e talvez até uma sugestão
para repensarmos o modo como praticamos está jornada chamada vida, realizada
sobre o solo da terra junto com a humanidade.
A vida líquida é a vida
que acontece em meio a modernidade liquida, ou seja, existimos num tempo
marcado por mudanças constantes, numa velocidade distinta daquela experimentada
pelos nossos antepassados. O consumismo tem dominando todas as esferas da vida,
transformando toda relação, numa relação de compra e venda. Produzindo pessoas
individualistas e acuadas pelo medo.
O texto para quem não
está acostumado com a sociologia é sim um pouco pesado, em especial quando ele
trabalha sobre a influência da individualização sobre a identidade, mas, não se
sinta desmotivado para a leitura. Para refletir sobre a vida é essencial pensar
sobre o “ser”, apesar do “ter” ser uma presença constante. Além do que, a
escrita de Bauman é carregada, encharcada de metáforas e exemplos do cotidiano,
que facilitam e trazem fluidez em diversos trechos e compreensão para alguns aspectos
teóricos.
Não se pode deixar de
destacar algumas reflexões, que surgem ao longo do texto, de caráter
extremamente prático, janelas que iluminam a vivencia. Sobre a gangorra entre os
valores “liberdade” e “segurança”, quanto mais se tem um, menos se tem o outro
(pp. 12, 23, 39, 44, 50 – 54, 189 – 191).
A cultura da
descartabilidade do nosso tempo, que faz com que até os laços de amizade e
conjugais sejam de curta duração, deletados como nas redes sociais. A
incapacidade do homem ocidental contemporâneo de morrer e lutar por uma causa e
de compreender o martírio. O desejo constante da espetacularização e a
reverencia as celebridades que tem fim em si mesmas (pp. 67 – 69).
Enquanto lia estas
reflexões, tinha a sensação de estar diante de um ancião, um mestre que
pacientemente compartilhava comigo as experiências da vida, me dando dicas,
atalhos para ler a contemporaneidade. Vários momentos durante a leitura eu não
escutava um sociólogo, mas, um profeta. Não utilizo o termo profeta como aquele
que prevê o futuro, Bauman fala sobre o hoje, mas nos moldes dos profetas do
Antigo Testamento, ou seja, aquele que denúncia: a imparcialidade, o sofrimento,
a opressão, a dor desnecessária, a utilização indevida do que deveria ser
utilizado para o serviço ao próximo. Sim, sei que também há previsões nos
textos do Antigo Testamento e também, reconheço que está interpretação
provavelmente esteja marcada pelas minhas leituras de teólogos da libertação. Tenho
certeza que você encontrará outras reflexões e outras escutas.
Criticas? Meu
conhecimento em sociologia e minhas leituras em Bauman ainda são muito
incipientes para construí-las, mas, elas ainda virão. Concluo com o resumo que
o próprio autor faz da sua obra:
Este livro é uma
coletânea de ideias sobre vários aspectos da vida líquida, a vida que se leva
em um sociedade líquido-moderna. A coletânea não pretende ser completa. Mas
espera-se que cada um dos aspectos analisados ofereça uma janela para a
realidade que compartilhamos nos dias de hoje, assim como para as ameaças e
possibilidades que essa realidade traz para as perspectivas de tornar o mundo
humano um pouco mais hospitaleiro para a humanidade.
Boa leitura, paz e bem!
3.4.15
Deus veio a nós!
A vinda tripla de Deus
Não somente no Novo Testamento cristão, mas também o Antigo Testamento
judeu está orientado para a vinda de Deus ao seu povo, sua humanidade e sua
terra. Se o povo se sente em terra estranha, abandonado por Deus e distante da
terra prometida, então grita por ele, como mostram bem as lamentações bíblicas: Levanta-te,
Senhor; levanta teu rosto e vem! (cf. Sl 4.6). Se o povo pressente a
vinda de Deus, então deve preparar o caminho: “Levantai-vos, ó portais
eternos, para que entre o Rei da Glória” (Sl 24.7). Experimenta-se a
presença plena do Deus vindouro e então esse povo canta e dança diante dele,
glorifica sua beleza.
Os dois Testamentos são testemunhas paralelas da esperança em Deus,
assim como Israel e a Igreja são testemunhas da esperança no mundo. Nós vivemos
no tempo do advento de Deus. A fé nos permite confiar em Deus e a esperança
torna nossos sentidos despertos e alertas para o vindouro. Ele veio na carne,
ele vem em Espírito e ele virá em glória.
A esperança cristã futura se fundamenta em uma lembrança histórica
segura. Esta é a presencialização do Cristo de Deus, que veio ao nosso mundo.
Ele faz de nossa vida a sua própria, transformando assim a terra num lugar de
esperança. Tal fato diferencia a esperança cristã de todos os outros sonhos e
temores futurísticos que ouvimos com frequência nos últimos dias.
Jesus Cristo se tornou extremamente próximo de mim quando procurei por
Deus e não encontrei qualquer resposta. Assim, eu vim a crer em Deus por meio
de Jesus Cristo. É por isso verdade quando digo: Sem Cristo, eu teria me
tornado ateu. Pois partindo das experiências da história humana ou da
contemplação da natureza, eu não teria a ideia que existe um Deus. Mais do que
isto, não teria nunca pensado e crido que este Deus é amor e quer o nosso bem.
Por causa de Cristo, comecei a crer em Deus. Dito de modo mais exato: Eu
comecei a crer no Deus de Jesus Cristo. Este Deus que Jesus chamava de modo tão
íntimo de Abba – Pai amado – e do qual anunciava aos pobres a chegada do reino.
Sempre que penso em Cristo, sinto a proximidade de Deus e da vastidão de seu
reino.
A primeira imagem pela qual fui achado por Cristo foi a imagem daquele
que desesperançado, prisioneiro e torturado na cruz dos romanos, gritava por
Deus. Eu me senti compreendido por ele como por um amigo que se torna partícipe
em nosso destino. Cristo seguiu o caminho do sofrimento e do abandono para
procurar pelas pessoas abandonadas e, assim, se tornar irmão delas. Isso me
tocou de modo pessoal: Deus abandonou seu Cristo para que Ele viesse ao meu
encontro no estado de abandono e me achasse. Descobri, assim, em seu destino,
algo que ainda não tinha trabalhado em meu próprio destino. Algo de sua
presença em minha própria vida.
Cristo socorre, Cristo salva. Ele não socorre, todavia, por meio de sua
supremacia, mas sim, por sua solidariedade conosco em nossa impotência. “Pelas
suas pisaduras, fomos sarados” é o que diz o profeta Isaías,
referindo-se ao servo sofredor de Deus, o qual deverá redimir o mundo (Is
53.5).
“Somente o Deus que sofre pode socorrer” escreveu Dietrich Bonhoeffer na
prisão. Deus socorre – primeiro e sempre – por meio de sua compaixão: “No
mais profundo abismo, lá estás também” (Sl 139.8).
Deus veio a nós em Espírito
A esperança cristã do futuro se fundamenta na contemplação de Cristo e
na experiência do Espírito vivificante. Nós não apenas relembramos a história
de Cristo e esperamos pelo futuro de Deus. Nós já experimentamos também hoje “os
poderes do mundo vindouro” (Hb 6.5). Essas são as “energias vitais” do
Espírito Santo.
Mas quem é o Espírito Santo? O Espírito Santo é o Espírito da vida que
vitaliza todas as coisas por ele tocadas. Ele é presença vital de Deus no
mundo. O dom da presença deste Espírito de Deus é o que de maior e mais maravilhoso
pode ser experimentado por todas as formas de vida, tanto em âmbito pessoal
quanto comunitário. No Espírito Santo, não está presente um tipo qualquer de
espírito entre tantos outros, mas Deus mesmo. O Deus vivo que é criador,
libertador e salvador.
Onde está o Espírito, ali está Deus de modo especialmente presente. Não
em uma forma de onipresença, mas na forma de automanifestação. E onde Deus se
manifesta, ali Ele partilha de si mesmo. As energias criativas de sua vida
eterna abundam e perpassam nossa vida mortal e a fazem, desde dentro,
plenamente viva. Onde quer que sintamos o Espírito de Deus, ali nós
experimentamos Deus. Como? Por meio de nossa vida vivida. Nós experimentamos a
vida curada e redimida, amada e amável. Não experimentamos a vida apenas como
uma nova espiritualidade do coração ou nova teologia da cabeça, mas com todos
os nossos sentidos, como uma nova vitalidade da vida. Nós sentimos e
degustamos, ouvimos, cheiramos e vemos nossa vida em Deus e Deus em nossa vida,
assim como é dito em 1 João 1.1-2:
O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com
os nosso próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com
respeito ao Verbo da vida (e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela
damos testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna...).
Existem muitos nomes para este Espírito da vida porque existem variadas
experiências de vida. Para mim, são os mais lindos os nomes de consolador e
fonte de vida.
Na comunhão com Cristo, experimentamos as forças vitais do Espírito
divino. Quem se tornou triste e sem participação em nada na vida, quem não
sente mais em si qualquer vitalidade, deve se votar para o Cristo e
experimentará a nova vitalidade do Espírito de Deus. A meu ver, esta constitui
a nova sensualidade (referente aos sentidos) da vida e o vasto âmbito vital de
Deus.
Assim como na experiência de uma grande tristeza nossos sentidos se
apagam e não podemos mais ver qualquer cor, ouvir nenhum tom e perceber o
paladar, parecendo mortos-vivos, assim também se abrem os nossos sentidos
novamente quando respiramos o amor de Deus. Nós vemos de novo este mundo
multicolorido, nós ouvimos novamente melodias, recuperamos nosso paladar e
todos os sentimentos. Somos tomados por uma grande aceitação da vida, aceitação
do Espírito vital divino.
Para o desenvolvimento desta nova vida, precisamos de um lugar espaçoso. ”Tu
me pões num lugar espaçoso”. Este lugar espaçoso é o presente do Deus
infinito, o qual cerca a nossa vida finita (Sl 139.5). A presença divina nos
cerca por todos os lados. Isso nos permite desenvolver nossa vida finita para
todos os lados. Nós podemos nos movimentar em Deus e Deus morar em nós. Deus
não é somente uma pessoa com a qual podemos falar, mas também o espaço no qual
podemos desenvolver nossas vidas. Segundo a tradição judaica, um dos nomes de
Deus é Makom (espaço). Nós, seres humanos, damo-nos espaço
mutuamente sempre que nos abrimos em amor e amizade mútuos e permitimos que os
outros seres humanos tomem parte em nossa vida. Sem tal espaço livre na vida
comunitária, não existe qualquer liberdade pessoal. O amor dá espaço e tempo
para a liberdade. Onde quer que nós experimentemos este espaço livre, ai nós
experimentamos a presença de Deus em nós.
Deus veio a nós em Glória
O Deus que nos foi mostrado por Cristo
é o “Deus da Esperança”, como Paulo o chama em Romanos 15.13. Deus não é o
eterno que está aqui, esteve aqui e aqui estará, mas o Deus que “vem” (Ap 1.4).
Ele vem ao nosso encontro desde o seu futuro. Por isso é que o abrangente
horizonte do futuro não é algo que se acrescente ao Cristianismo, mas seu
elemento constitutivo. Crer significa viver na presença do Cristo ressuscitado
e se deixar orientar pelo seu reino vindouro “assim na terra como no céu”. Nós
vivemos na expectativa de sua vinda. Nós não aguardamos o seu “retorno”, mas
vivemos cada dia na luz de sua vinda. Sobre nós brilha a estrela da promessa. A
promessa de Deus é como a aurora que anuncia a chegada de um novo dia: o dia de
Deus. “Vai alta a noite, e vem chegando o dia”, assim descreve Paulo a sensação
cristã do tempo (Rm 13.12).
Que futuro pode preencher as promessas
de Deus, nossas esperanças e as expectativas da terra? Deus vem para morar na
terra com os seres humanos. A totalidade da criação se tornará, então, seu
templo. O apocalipse descreve isto por meio da imagem da “Jerusalém divina”, a
qual desce sobre a terra. Por conta dessa Schechinah de Deus,
tudo precisa ser recriado e preparado. Então serão enxugadas todas as lágrimas,
o sofrimento e pranto vão passar e a morte não existirá mais (Ap 21.5). Quando
o divino estiver em tudo o que é terreno e tudo o que é terreno estiver em todo
o divino, então a beleza divina fará todas as coisas resplandecerem. Esta é a
plenificação da esperança histórica da humanidade e a consumação da criação. Em
seguida, estará tudo criado como foi no princípio: a vida e a luz, as plantas e
os animais e também os seres humanos.
Segundo 2 Pedro 3.12, devemos esperar e
apressar o futuro de Deus. Isso soa contraditório, mas não o é. Vamos
traduzi-lo em nossa experiência e em nossa língua:
Aguardar: é não se conformar às condições de injustiça
e não reconhecer as forças daquilo que é factual, pois bem se sabe que alguma
coisa melhor pode acontecer e algo diferente está por vir. Aguardar significa
nunca se resignar, nem entregar-se a si mesmo. Poder aguardar – isto é uma arte
da esperança. Paciência é a virtude da esperança. Aguardar significa viver em
ansiosa atenção até a chegada da hora da consumação final. Poder aguardar é
também fidelidade ao futuro prometido. “Senhor, Deus nosso, outros senhores têm
tido domínio sobre nós; mas graças a ti somente é que louvamos o teu nome”,
assim disse o povo de Deus prisioneiro quando do cativeiro babilônico (Is
26.13). E ele sobreviveu. Não existe nenhuma teologia da libertação sem esta
teologia do cativeiro, como Rubem Alves notou bem.
Apressar: Aqui, o que se tem em mente é a superação da
realidade presente e a antecipação do futuro do novo mundo de Deus, a cada
passo e em cada ato nosso. Por meio de cada ato de justiça, preparamos o
caminho da nova terra, onde reina a justiça. Faz-se justiça a quem sofre
violência e brilha, então, o futuro de Deus em seu mundo. Engajamos-nos em
favor de “órfãos e viúvas” e surge, então, um pouco mais de verdade em nosso
mundo.
Conforme nós exploramos suas riquezas e
forças vitais, a Terra geme com a violência e a injustiça. Ela aguarda por seu
direito. Nós nos “apressamos” ao encontro do futuro de Deus quando antecipamos
aquela justiça por meio da qual a “nova terra” deve surgir.
Aguardar e apressar: isto significa resistir e antecipar. Com
isso, santificamos a vida e nos tornamos seres seguros do futuro de Deus.
Fonte: Vida, esperança e justiça de Jürgen Moltmann.
Editeo, 2008, pp. 12 - 17.
17.3.15
Liberdade e Segurança
A
busca de dois valores, liberdade e segurança, ambos amplamente cobiçados, já
que indispensáveis a uma vida digna e feliz, converge no atual discurso sobre a
identidade. As duas linhas de busca notoriamente se evadem à coordenação, cada
qual tende a conduzir a um ponto além daquele em que a outra busca se arrisca a
ser travada, interrompida ou mesmo invertida. Embora não se possa conceber uma
vida digna ou satisfatória sem uma mistura tanto
de liberdade quanto de segurança,
dificilmente se consegue um equilíbrio satisfatório entre esses dois valores:
se as tentativas do passado, inumeráveis e invariavelmente frustradas, servem
para alguma coisa, esse equilíbrio pode muito bem ser inalcançável. Um déficit
na segurança repercute na angustiante incerteza (e agora fobia) de que o
“excesso de liberdade” – beirando uma permissão para o “tudo é valido” –
inevitavelmente será nutrido. Um déficit de liberdade, por outro lado, é
vivenciado como um debilitante excesso de segurança (a que os sofredores dão o
codinome de “dependência”).
O
problema, porém, é que, quando falta segurança,
os agentes livres são privados da confiança sem a qual dificilmente se pode
exercer a liberdade. Sem uma segunda linha de trincheiras, poucas pessoas a não
ser os aventureiros mais ousados têm coragem suficiente para enfrentar os
riscos de um futuro desconhecido e incerto. Sem uma rede segura, a maioria se
recusará a dançar na corda bamba e se sentirá profundamente infeliz se forçada
a fazê-lo contra a vontade.
Quando,
por outro lado, o que falta é a liberdade,
a segurança parece escravidão ou prisão. Pior ainda, quando se é submetido a
essa situação por muito tempo sem intervalo e sem ter experimentado um outro
modo de ser, mesmo a prisão pode sufocar o desejo de liberdade, assim como a
capacidade de praticá-la, e então se transformar no único hábitat aparentemente
natural e habitável – não sendo mais percebida como opressiva. [...]
Qualquer
aumento na liberdade pode ser traduzido como um decréscimo na segurança e
vice-versa. As duas leituras se justificam, e qual delas se move para o centro
da preocupação pública num determinado momento depende de outros fatores além
dos elegantes argumentos apresentados para justificar a escolha. Mas as chances
de um apoio à mudança no equilíbrio entre liberdade e segurança seriam maiores se a própria escolha fosse um exercício de liberdade.
A abertura de perspectivas que um aumento da liberdade poderia trazer
dificilmente seria visto como um bom negócio se esse acréscimo resultasse da
falta de liberdade – se fosse imposto ou implementado sem consulta. Numerosos
resultados de pesquisa confirmam a regra: quando as pessoas se ressentem de
mudanças em suas condições de existência ou nas regras do jogo da vida, isso
ocorre muito menos pelo desagrado em relação às novas realidades resultantes da
mudança do que pela maneira como estas foram produzidas, ou seja, porque foram
colocadas em pauta sem que se consultassem as pessoas.
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