23.2.12

Sentido de urgência


por Marina Silva 
Em maio deste ano a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei (PLC 30/2011) que tem como objetivo modificar o Código Florestal. Sem ouvir de forma adequada a população e sem considerar as contribuições da ciência, aproximadamente 80% dos deputados votaram em favor da proposta. Deram um sim ao retrocesso na legislação ambiental de nosso país; à retirada da proteção às beiras de rios, permitindo o desmatamento e assoreamento dos cursos d’água; às encostas de morros, pois com a retirada de sua vegetação elas podem desabar sobre estradas e casas; aos topos de morros, que podem sofrer o mesmo efeito; aos mangues, que podem secar e desaparecer. Um sim ao perdão a desmatadores que desrespeitaram as leis; ao descumprimento da função socioambiental das propriedades; ao agravamento das mudanças climáticas. 
Após a votação, o instituto de pesquisa Datafolha mostrou que 85% da população se declarou contrária ao retrocesso e às outras consequências mencionadas. Ficou patente que estamos vivendo um descolamento entre os mandatos parlamentares e o compromisso de ser representação política. 
O projeto de lei agora está no Senado. Mais do que nunca a natureza geme e sofre esperando a revelação dos filhos de Deus para sua libertação (Rm 8.19-23). A esperança é que a situação possa ser modificada. Os senadores precisam saber que é muito importante proteger as florestas e os rios, pois são fundamentais para a qualidade de vida dos brasileiros. Dependemos deles para beber água, para cultivar os alimentos, para evitar as enchentes e os desabamentos, para fortalecer e fertilizar o solo. Cuidar das nossas florestas e rios é produzir dentro da perspectiva do desenvolvimento sustentável. Esta é uma visão que considera as necessidades presentes e também as necessidades das futuras gerações. O legado de nosso tempo não pode ser a degradação, a poluição, o esgotamento, as tragédias eminentes. Isso não condiz com a visão de mordomia da criação, como afirma a Palavra de Deus. 
Em conjunto com algumas pessoas e mais de cem organizações participei da criação e participo da atuação do Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável. Vamos apresentar um abaixo-assinado aos senadores pontuando as questões levantadas neste texto. É importante que a opinião dos brasileiros seja ouvida no Congresso, e é fundamental que ao colocar o nome no abaixo-assinado cada um o faça como sujeito de sua história, saindo da posição de espectador da política e assumindo o papel de agente responsável pelos rumos do país. A menos de um ano da realização no Brasil da Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, a chamada “Rio + 20”, é preciso impedir que o país cometa uma agressão contra o marco legal que a duras penas conquistou ao longo dos últimos anos e contra as bases naturais de seu próprio desenvolvimento.
Para se informar e participar do abaixo-assinado e dar aos senadores o recado da população -- a fim de que entendam o sentido da responsabilidade que precisam ter e não se afastem do fato de que foram eleitos para representar e não para substituir as pessoas, acesse: www.florestafazadiferenca.org.br.
• Marina Silva é professora de história e ex-senadora pelo PV-AC.

Fonte: Revista Ultimato Novembro-Dezembro de 2011.

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