12.3.11

Mordomia Ambiental

                                                    por Marina Silva e Jane Vilas Bôas

“Também a terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha.” Lv 25.23

“Minhas são todas as feras do campo. Se tivesse fome não to diria, pois meu é o mundo e a sua plenitude.” Sl 50.11-12

“Não destruirás o seu arvoredo (...); porque dele comerás, pelo que não cortarás para que sirva de tranqueira para si.” Dt 20.19

“No Éden nascia um rio que irrigava o jardim, e depois se divida em quatro.” Gn 1.10

“Então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego da vida, e o homem se tornou um ser vivente.” Gn 2.7

Nos versículos acima temos terra, água, ar, plantas, animais e o ser humano. Todos componentes da criação, cujo domínio Deus entregou ao último. Deus regula o uso desses bens, deixa claro que os atos de criação resultam em coisas que pertencem a ele mesmo. Fomos criados e responsabilizados por lavrar e cuidar do jardim (Gn 2.15). Temos o direito de satisfazer as nossas necessidades e devemos fazê-lo respeitando as necessidades das próximas gerações. Não podemos usar os recursos naturais até o esgotamento, pois não só o mundo, mas também a sua plenitude são propriedades do Criador. 

No Brasil, a esperança do Criador em nós se manifesta na forma de muitas riquezas. Somos detentores de cerca de 11% da água doce disponível no mundo e 22% das espécies vivas da terra. Somos ricos também em diversidade social. Temos povos indígenas que falam mais de 220 línguas e comunidades tradicionais como seringueiros, faxinalenses, pescadores, caiçaras, pantaneiros, etc. 

Temos ainda o Cerrado, abrigo de 5% da biodiversidade da terra e uma das maiores áreas de captação de água para a América do Sul: abastece as bacias dos rios Amazonas, Tocantins, Paranaíba, São Francisco, Paraná e Paraguai, além do Aqüífero Guarani, maior manancial subterrâneo de água doce transfronteiriço do mundo. 

O Pantanal, declarado patrimônio da humanidade pela UNESCO, é a maior área úmida continental do globo. Podemos citar também a mata Atlântica. Sua riqueza biológica a faz destaque mundial e, pela nossa Constituição, é patrimônio nacional.

Para encerrar esta pequena lista, citamos a Amazônia, importante para o equilíbrio do planeta. Ali estão fixadas mais de uma centena de trilhões de toneladas de carbono. Sua vegetação libera sete trilhões de toneladas de água para a atmosfera a cada ano, responsáveis inclusive pelas chuvas no Sudeste. O bioma abriga um terço da biodiversidade global e 30% das florestas tropicais ainda existentes no mundo. 

Diante dessas magnitudes, o que podem fazer os cristãos individualmente ou em suas igrejas? 

Primeiramente, reconhecer o mandato cultural do Senhor para cuidarmos da criação. Somos mordomos. Fomos parceiros de Deus, pois Adão foi chamado para nomear todas as coisas criadas (Gn 2.19). Para bem exercer a mordomia é preciso conhecer o ambiente em que vivemos e desenvolver atitudes que evitem o desperdício ou a saturação por resíduos de nosso consumo. Essas atitudes podem ser postas em prática com o cuidado de não desperdiçar água e energia elétrica, a escolha de produtos industriais que não poluam as águas, o solo ou o ar nem tenham sido produzidos por trabalho escravo ou em condições indignas ou ilegais. 

Além das atitudes no plano pessoal, há também o plano coletivo e a dinâmica das instituições que tratam do tema meio ambiente, que também devem ser objeto de preocupação e atuação de todos como cidadãos. Enfim, há dezenas de formas de expressar amor ao Senhor e gratidão pela criação. Tudo é uma questão de consciência da mordomia.

Fonte: Revista Ultimato de maio-junho de 2008.

* Mariana Silva é professora de história e senadora eleita pelo Estado do Acre. Atualmente serve ao país como ministra de Estado de Meio Ambiente. É membro da Igreja Assembléia de Deus.

** Jane Vilas Bôas é antropóloga e assessora da ministra do Meio Ambiente. É membro da Igreja Batista Central de Brasília,


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