A
busca de dois valores, liberdade e segurança, ambos amplamente cobiçados, já
que indispensáveis a uma vida digna e feliz, converge no atual discurso sobre a
identidade. As duas linhas de busca notoriamente se evadem à coordenação, cada
qual tende a conduzir a um ponto além daquele em que a outra busca se arrisca a
ser travada, interrompida ou mesmo invertida. Embora não se possa conceber uma
vida digna ou satisfatória sem uma mistura tanto
de liberdade quanto de segurança,
dificilmente se consegue um equilíbrio satisfatório entre esses dois valores:
se as tentativas do passado, inumeráveis e invariavelmente frustradas, servem
para alguma coisa, esse equilíbrio pode muito bem ser inalcançável. Um déficit
na segurança repercute na angustiante incerteza (e agora fobia) de que o
“excesso de liberdade” – beirando uma permissão para o “tudo é valido” –
inevitavelmente será nutrido. Um déficit de liberdade, por outro lado, é
vivenciado como um debilitante excesso de segurança (a que os sofredores dão o
codinome de “dependência”).
O
problema, porém, é que, quando falta segurança,
os agentes livres são privados da confiança sem a qual dificilmente se pode
exercer a liberdade. Sem uma segunda linha de trincheiras, poucas pessoas a não
ser os aventureiros mais ousados têm coragem suficiente para enfrentar os
riscos de um futuro desconhecido e incerto. Sem uma rede segura, a maioria se
recusará a dançar na corda bamba e se sentirá profundamente infeliz se forçada
a fazê-lo contra a vontade.
Quando,
por outro lado, o que falta é a liberdade,
a segurança parece escravidão ou prisão. Pior ainda, quando se é submetido a
essa situação por muito tempo sem intervalo e sem ter experimentado um outro
modo de ser, mesmo a prisão pode sufocar o desejo de liberdade, assim como a
capacidade de praticá-la, e então se transformar no único hábitat aparentemente
natural e habitável – não sendo mais percebida como opressiva. [...]
Qualquer
aumento na liberdade pode ser traduzido como um decréscimo na segurança e
vice-versa. As duas leituras se justificam, e qual delas se move para o centro
da preocupação pública num determinado momento depende de outros fatores além
dos elegantes argumentos apresentados para justificar a escolha. Mas as chances
de um apoio à mudança no equilíbrio entre liberdade e segurança seriam maiores se a própria escolha fosse um exercício de liberdade.
A abertura de perspectivas que um aumento da liberdade poderia trazer
dificilmente seria visto como um bom negócio se esse acréscimo resultasse da
falta de liberdade – se fosse imposto ou implementado sem consulta. Numerosos
resultados de pesquisa confirmam a regra: quando as pessoas se ressentem de
mudanças em suas condições de existência ou nas regras do jogo da vida, isso
ocorre muito menos pelo desagrado em relação às novas realidades resultantes da
mudança do que pela maneira como estas foram produzidas, ou seja, porque foram
colocadas em pauta sem que se consultassem as pessoas.