por Marina Silva
Vejo a revista Ultimato como um projeto editorial que cultiva um profundo respeito pela diversidade de visões doutrinárias que povoa o universo religioso cristão. Tal característica, que admiro, me faz sentir honrada em, daqui por diante, ocupar regularmente uma página desse veículo.
Não posso deixar de registrar também a alegria de compor um grupo de articulistas com elevada estatura intelectual, como a que aparece nas páginas de cada nova edição.
Minha contribuição à Ultimato será feita no espaço das relações do ser humano com a natureza. Uma temática que transita em contexto complexo, pois a cultura material produzida por nossa civilização, até o momento presente, vai dos artefatos da nanotecnologia às grandes hidrelétricas e plataformas de extração de petróleo. As atividades humanas vão do cultivo agrícola braçal em remotos sertões à criação de sistemas cibernéticos de comunicação de dados em escritórios sofisticados de grandes corporações em centros financeiros mundiais. E nossa produção simbólica se estende de uma simples canção de ninar a tratados de física quântica, astrofísica etc.
É um universo gigantesco resultante de um processo histórico de milênios, em que podemos observar como o ser humano se comportou em seu ambiente. Como extraiu recursos naturais, como os processou, que resíduos gerou e como lhes deu uma destinação final.
Nós, cristãos, relevante parte da população humana no planeta, temos em nosso livro sagrado toda uma orientação para nos conduzirmos, pois acreditamos que Deus deixou-nos orientações claras sobre conceitos e responsabilidades para com a terra, a casa que nos deu para morar (Sl 115.6).
A escritora cristã Landa Cope, em seu livro “Modelo Social do Antigo Testamento”, diz que podemos conhecer Deus pelas informações contidas na criação, na história e em sua Palavra. A mesma autora afirma que o mundo material é regido por Deus por meio de leis fixas.
Essas duas afirmações são base para interessantes reflexões sobre a forma como os cristãos pensam -- ou não pensam -- as questões ambientais.
A maioria de nós ainda tem dificuldade de servir, honrar e conhecer Deus na criação. No entanto, o primeiro livro da Bíblia, o livro de Gênesis, trata das origens, de como cada coisa foi criada, como tudo que antecedeu a criação do homem veio numa sequência lógica para sustentar-lhe a vida e, numa reciprocidade responsável, ser cuidado por ele.
A ideia de que o mundo material é governado por Deus ocorre pouco aos cristãos, pois não há entre nós a tradição de buscar conhecer as Leis de Deus para o mundo e muito menos de ficarmos atentos para não transgredi-las. As ciências da natureza são uma atividade secular que geralmente não chama a atenção dos cristãos, exceto se forem profissionais dessa área. Muitas vezes há até certa briga com a ciência, como se essa fosse uma atividade ateia que busca se opor ao teísmo. Como cristãos, acreditamos que a ciência descobre a engenhosa graça da inteligência de Deus e que as chamadas leis da natureza são regras que organizaram o mundo sucedâneo ao estado caótico da terra que era “sem forma e vazia” (Gn 1.2).
Convido todos os leitores para uma jornada de reflexão sobre a percepção da nossa responsabilidade como cristãos no que tange às demais formas de existência e de vida em nosso planeta.
Fonte: Revista Ultimato Março-Abril.
• Marina Silva é professora de história e ex-senadora pelo PV-AC.
Não posso deixar de registrar também a alegria de compor um grupo de articulistas com elevada estatura intelectual, como a que aparece nas páginas de cada nova edição.
Minha contribuição à Ultimato será feita no espaço das relações do ser humano com a natureza. Uma temática que transita em contexto complexo, pois a cultura material produzida por nossa civilização, até o momento presente, vai dos artefatos da nanotecnologia às grandes hidrelétricas e plataformas de extração de petróleo. As atividades humanas vão do cultivo agrícola braçal em remotos sertões à criação de sistemas cibernéticos de comunicação de dados em escritórios sofisticados de grandes corporações em centros financeiros mundiais. E nossa produção simbólica se estende de uma simples canção de ninar a tratados de física quântica, astrofísica etc.
É um universo gigantesco resultante de um processo histórico de milênios, em que podemos observar como o ser humano se comportou em seu ambiente. Como extraiu recursos naturais, como os processou, que resíduos gerou e como lhes deu uma destinação final.
Nós, cristãos, relevante parte da população humana no planeta, temos em nosso livro sagrado toda uma orientação para nos conduzirmos, pois acreditamos que Deus deixou-nos orientações claras sobre conceitos e responsabilidades para com a terra, a casa que nos deu para morar (Sl 115.6).
A escritora cristã Landa Cope, em seu livro “Modelo Social do Antigo Testamento”, diz que podemos conhecer Deus pelas informações contidas na criação, na história e em sua Palavra. A mesma autora afirma que o mundo material é regido por Deus por meio de leis fixas.
Essas duas afirmações são base para interessantes reflexões sobre a forma como os cristãos pensam -- ou não pensam -- as questões ambientais.
A maioria de nós ainda tem dificuldade de servir, honrar e conhecer Deus na criação. No entanto, o primeiro livro da Bíblia, o livro de Gênesis, trata das origens, de como cada coisa foi criada, como tudo que antecedeu a criação do homem veio numa sequência lógica para sustentar-lhe a vida e, numa reciprocidade responsável, ser cuidado por ele.
A ideia de que o mundo material é governado por Deus ocorre pouco aos cristãos, pois não há entre nós a tradição de buscar conhecer as Leis de Deus para o mundo e muito menos de ficarmos atentos para não transgredi-las. As ciências da natureza são uma atividade secular que geralmente não chama a atenção dos cristãos, exceto se forem profissionais dessa área. Muitas vezes há até certa briga com a ciência, como se essa fosse uma atividade ateia que busca se opor ao teísmo. Como cristãos, acreditamos que a ciência descobre a engenhosa graça da inteligência de Deus e que as chamadas leis da natureza são regras que organizaram o mundo sucedâneo ao estado caótico da terra que era “sem forma e vazia” (Gn 1.2).
Convido todos os leitores para uma jornada de reflexão sobre a percepção da nossa responsabilidade como cristãos no que tange às demais formas de existência e de vida em nosso planeta.
Fonte: Revista Ultimato Março-Abril.
• Marina Silva é professora de história e ex-senadora pelo PV-AC.
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